Por algum motivo, muitos treinadores são conhecidos por serem conservadores em relação a conhecimentos a respeito do esporte que atuam. Destes, uma boa parcela parece fechar propositalmente os olhos para novidades, evoluções e, principalmente, avanços da ciência.
A escalada, como qualquer outro esporte, também sofreu muito com isso. Apegados a conceitos baseados em experiências empíricas, implementam uma espécie de obscurantismo no esporte. O resultado é a baixa evolução de atletas em relação a outros locais do planeta, além de pouca, ou nenhuma, renovação da geração de escaladores.
Obscurantismo é a prática de deliberadamente impedir que os fatos ou os detalhes de algum assunto se tornem conhecidos. Portanto, quem se dedica a treinar algum atleta precisa ter ojeriza deste tipo de prática filosófica. Como qualquer profissão, a necessidade de sempre reciclar conhecimentos, técnicas, abordagens e questionar a todo o tempo se existe uma maneira mais eficiente do que a que já existe.
Alvin Toffler escritor e futurista norte-americano afirmava: “O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”.
A quantidade de informações que podemos acessar atualmente é incrível. Nunca na história da humanidade as pessoas tiveram a oportunidade de acesso a informações científicas de qualidade. Além disso, a globalização também permitiu que equipamentos novos sejam comprados e importados com relativa facilidade.
A maioria das pessoas que treina (e não apenas na escalada) baseia seus exercícios no que ouviram, no que o amigo faz (e que funciona para ele), no que uma mensagem de “entendido” em grupos de WhatsApp propõe, nas revistas empoeiradas de 1o anos de idade, a ciência “bumba meu boi”.
Tornar-se a contrapartida dos escaladores e treinadores que sofrem de síndrome de Dunning-Kruger, os quais tendem a superestimar suas aptidões sociais e intelectuais, é o objetivo do livro “Entrenamiento de escalada” de Sergio Consuegra. A obra, diferentemente de muitas outras, não fornece nenhum método de treinamento mágico ou revolucionário, mas tenta analisar as necessidades esportivas do ponto de vista da ciência do exercício.
A primeira parte do livro procura fazer o leitor entender o que é um treinamento e como o funcionamento fisiológico e biomecânico do corpo determina os métodos deste treinamento. A segunda parte analisa e propõe como melhorar cada uma das necessidades específicas (força de dedos, resistência dos músculos do antebraço, etc) e necessidades gerais (condição física básica, força de tração, propulsão, treinamento de força para prevenção de lesões, etc) para os diferentes requisitos e modalidades de escalada.
A terceira e última parte, uma vez que cada uma das peças do quebra-cabeça é entendida, procura propor a melhor maneira de juntá-las, integrá-las, ajustando o volume e a intensidade do treinamento, reduzindo o treinamento ao nível ideal quando necessário para produzir uma supercompensação para alcançar o objetivo final: uma melhoria no desempenho e um aumento no nível de escalada.
O autor espanhol Sergio Consuegra é bacharel em atividade física e esportes pela Universidade Politécnica do INEF de Madri. Consuegra começou no mundo da escalada esportiva quando entrou na Universidade e redefiniu sua paixão. De praticante de karatê, foi para para as montanhas e praticou todas as atividades possíveis: escalada clássica, montanhismo, escalada no gelo, esqui cross-country, etc.
Apaixonado por treinamento de força e planejamento esportivo, Sergio Consuegra sempre foi um questionador incansável dos dogmas empíricos que o cercam, defendendo evidências científicas em resposta a qualquer intervenção, que é precisamente a razão pela qual este livro foi publicado.
Ficha técnica
- Título: Entrenamiento de escalada Basado en la evidencia científica
- Autor: Sergio Consuegra Gómez
- Edição: 1ª
- Ano: 2020
- Número de páginas: 224
- Editora: Desnivel
Equipe da redação