Nesse nosso segundo artigo vamos tratar das regulagens típicas da fotografia de montanha. O objetivo aqui é conseguir a nitidez, foco e fotometria corretos.
Se quiser dar uma revisada no artigo sobre equipamentos o link é esse aqui: https://blogdescalada.com
Em geral, quando se fotografa as paisagens em montanha, o que se quer é uma foto com grande resolução, além de foco em toda a cena, ou seja, foco desde o primeiro plano até o infinito. É lógico que existem outros tipos de abordagem em fotos de montanha, mas na grande maioria das fotos o que se quer é essa nitidez extrema na cena toda.
ISO
A questão do ISO é bem simples: Nessas fotos vamos usar o ISO que nos dará mais nitidez, ou seja, o ISO mais baixo da câmera. Fotos de paisagem costumam ser muito ricas em detalhes e o uso de ISOs altos pode comprometer seriamente a nitidez.
A exceção seria quando se quer congelar algum movimento (um cavalo correndo, o voo de uma ave, etc.) e nesses casos pode ser necessário subir um pouco o ISO, mas com uma consequente perda de qualidade da imagem.
Nota: Entrando um pouco mais a fundo nessa questão, o ISO de maior qualidade da imagem não é necessariamente o mais baixo, mas sim o ISO nativo da câmera. Na minha Canon EOS 7D, o ISO nativo é 160. Mas nem sempre conseguimos ter certeza sobre essa informação. Na dúvida siga sem medo a regra do ISO mais baixo.
Abertura
O foco em toda a cena se consegue com pequenas aberturas. É comum o uso de f/8, f/11 ou até f/16. A partir daí a imagem começa a degradar devido a um fenômeno chamado difração da luz, e é por isso que se deve evitar f/22 ou aberturas até menores. Nas típicas “lentes do kit”, as 18-55mm que vem na maioria das câmeras, f/11 é uma ótima pedida.
Para as finanças do fotógrafo de montanha isso é também uma boa notícia, pois em geral não é necessário investir nas caras lentes luminosas (lentes com grandes aberturas).
Velocidade
Aqui entra a verdadeira variável na fotografia de montanha. Com a câmera travada em ISO100 e f/11, o que vai definir a fotometria é velocidade. Como estamos trabalhando com ISO baixo (baixa sensibilidade) e pequenas aberturas (pouca entrada de luz), vamos precisar de mais tempo para a captura da luz que vai dar a exposição correta.
Exposições longas = necessidade de tripé
Se você leu o primeiro artigo e ainda não se convenceu da necessidade de um bom tripé, espero que essa explicação te convença: Tripé é fundamental em fotografia de paisagem, devido aos longos tempos de exposição necessários para compensar o ISO baixo e a pequena abertura.
Fotometria e Histograma
Hoje em dia é fácil acertar “mais ou menos” a fotometria. A maioria das câmeras tem o recurso de live view e você pode (tendo travado ISO 100 e f/11) ajustar a velocidade até ver o resultado que você quer no LCD.
Mas é extremamente importante verificar o histograma, que é aquele gráfico que apresenta a distribuição dos pixels nas zonas de baixas, médias e altas luzes.
A questão crítica aqui é evitar os estouros, ou seja, evitar que o histograma fique “empilhado” na extremidade direita. Estouro é quando você tem uma área na foto totalmente branca, sem detalhes. Em fotografia digital estouro não tem conserto.
Já nessa foto do Morro dos Cabritos a exposição correta preservou os detalhes e textura das nuvens Então não se esqueça! O histograma é a ferramenta mais importante para fotometria em fotografia digital.
Aprenda a usá-lo.
Hiperfoco
O foco em toda a cena tem um nome: Hiperfoco. Para conseguir o hiperfoco é preciso focar na distância hiperfocal, que nas pequenas aberturas é algum lugar bem próximo, literalmente o primeiro plano da foto.

Nesta foto do Rio Tök e Monte Kukenan o foco foi feito nas pedras do primeiro plano – f/8; 2s; ISO100
Nesta foto do Rio Tök e Monte Kukenan o foco foi feito nas pedras do primeiro plano – f/8; 2s; ISO100
Aqui um link com a explicação completa da distância hiperfocal e um aplicativo que gera uma tabela específica para cada tipo de câmera: http://www.cambridgeincolour.com. Existem também aplicativos que calculam a distância hiperfocal para smartphones.
Mas não se assuste. Focar no plano mais próximo costuma dar certo.
Morro dos Cabritos e Pedra D’Antas, foco feito na pilha de madeira – f/11; 1/20s; ISO160
Na Prática
Hora de botar tudo em prática…
Bote a câmera no tripé e enquadre a cena.
Faça foco em algum elemento do primeiro plano. Estando no modo M, com ISO100 e f/11, ajuste a velocidade até a fotometria desejada.
Confira no histograma se não tem estouro.
Por fim faça o disparo usando um cabo disparador ou o timer da câmera.
Uma última dica: Com a câmera no tripé, desabilite o estabilizador de imagem (IS na Canon, VR na Nikon). Estabilizador de imagem se usa quando a câmera está na mão.
Confira a foto no LCD da câmera – verifique enquadramento, foco e histograma.
É uma receitinha básica, mas bem útil pra como ponto de partida.
Com o tempo é importante ir mais a fundo nas questões de fotometria, fotografando no formato RAW e usando o conceito de ETTR – Exposing to the Right.
Assunto para futuros artigos.
Montanhista, fotógrafo e ciclista Waldyr dedica-se também na realização de disputados workshops de fotografias na região serrana do estado do Rio de Janeiro.