Crítica do filme “A Escalada”

Culturalmente alguns lugares são super valorizados por algum motivo, alguns vezes com justiça outras nem tanto. A partir desse interesse das pessoas, as mídias começam a falar maciçamente destas localizações, o que acaba atraindo muitas outras pessoas. Esta realidade acaba criando um círculo vicioso difícil de ser quebrado.

Por isso alguns lugares, que não possuem nada de muito especial, recebem verdadeiras multidões de interessados. Com este interesse, o local acaba recebendo multidões do que popularmente no Brasil é conhecido como o “farofeiro”.

Independente de classe social, são pessoas com pouca habilidade de convívio social, nem apreço pelo espaço público, que tornando a experiência e convivência mais desagradável a quem está à sua volta. Inegavelmente há lugares de montanhismo que parecem ser procurados, em detrimento de outros, ocasionando na mesma superlotação e visitação de farofeiros que as praias.

Fosse resumir a corrida pelo cume do Monte Everest (8.848 m), a imagem de farofeiro logo vem à mente de quem conhece um mínimo de montanhismo (se não vêm, deveria). Anualmente algo em torno de 5.000 pessoas estão no Campo Base I da montanha mais alta do mundo. Todos os anos com algum objetivo muito diferente das que um montanhista possui. Muitos vão para alimentar a imagem de celebridade ou mesmo conseguir alguma notoriedade para algum veículo de mídia.

Apesar de não ser um filme de crítica sobre montanhismo, nem mesmo é o foco de seu roteiro, a produção francesa “A escalada” (L’ascension, 2017) , produção original da Netflix, traz à tona, em forma de comédia romântica, um pouco do que é a realidade de uma escalada ao Monte Everest. Com direção de Ludovic Bernard e atuações de Ahmed Sylla e Alice Belaïdi, o filme sofreu algumas críticas dentro da comunidade de montanhistas. Entretanto, grande parte das críticas foram feitas por quem alimenta a fogueira de vaidades do “montanhismo” ao Monte Everest.

A história de “A Escalada” é baseada na experiência real do jornalista de tripla cidadania (francesa, argelina e australiana) Nadir Dendoune que mesmo sem experiência nenhuma subiu, junto de seu sherpa, ao cume da montanha mais alta do mundo em maio de 2008. Para a produção, várias liberdades artísticas foram tomadas pelo diretor e equipe de roteiristas, que fizeram da escalada uma comédia romântica. No filme o personagem é Samy Diakhate (interpretado por Ahmed Sylla) que para provar seu amor por Nadia (Alice Belaïdi) decide ir até o topo do Everest. Ridicularizado por todos, consegue encontrar patrocínio e apoio de uma rádio local para realizar a aventura.

Com várias pinceladas de problemas sociais, como Diakhate viver em um bairro pouco privilegiado, problemas de conseguir patrocínio, diferenças culturais entre nepaleses e franceses, a produção não consegue fugir de sua superficialidade. Mesmo não contendo diálogos artificiais, como é observado em muitas produções de baixo orçamento (“A escalada” custou aproximadamente US$ 6,6 milhões), está longe de ser um filme acima da média. Infelizmente todas as boas intenções, ao abordar problemas sociais, são rapidamente ofuscadas por uma avalanche de piadas juvenis sobre maconha e romances.

Porém nem tudo é ponto negativo na produção. Muito do que a produção consegue mostrar, mesmo que de maneira superficial, é a ausência de objetivos nobres e o mercantilismo à respeito da escalada ao Monte Everest. Aspectos como os preços caros em serviços mal prestados, total desinformação de mídias de massa, além de alto preconceito por parte de muitos jornalistas e repórteres de jornais e televisão, “A Escalada” mostra um lado mais comum de um montanhista do que muitas produções sobre o gênero.

Há de se louvar também o desinteresse em mostrar o desafio como “perigo de vida”, “risco de morte”, “desafio sobre-humano” e outros adjetivos superlativos que jornalistas leigos (que trabalham para revistas superficiais) insistem em ligar ao montanhismo no Everest. Durante vários momentos, a produção diverte, com o personagem descobrindo aos poucos o que são os aspectos de uma escalada em alta montanha. Esta descoberta serve ainda de referência a quem procura conhecer a atividade.

O personagem, mesmo caricato em várias partes, demonstra que o objetivo de chegar a algo relativamente difícil, como escalar a montanha mais alta do mundo, faz parte da realidade dos montanhistas do Everest. Mas afirmar que “A Escalada” é um filme com várias camadas, seria supervalorizar a produção, além de considerar que o espectador é desprovido de inteligência. O filme é relativamente divertido, mas no aspecto geral parece feito para adolescentes.

Mesmo aquele que enxerga filmes de montanhismo com a mesma importância de um aquário, no qual somente as imagens importam mas a história não, irá enumerar vários pontos fracos na produção. Não há grandes erros de procedimentos de montanhismo, mas de roteiro, edição e continuidade. Personagens que são introduzidos no filme, são descartados sem sequer serem desenvolvidos.

“A escalada” tem o explícito objetivo de ser um “feel good movie” e não esconde isso desde o seu início. Mas a ausência de ambição é, ao mesmo tempo, seu ponto forte e fraco. Por ser uma comédia romântica, com um final muito previsível, não é exatamente o tipo de filme que o montanhismo, como esporte e filosofia, merecia. Mas, inevitavelmente, é exatamente o que a escalada do Everest representa: um filme esquecível, previsível e pouco entretenido.

Nota Revista Blog de Escalada:

O filme “A Escalada” está disponível para visualização no Netflix

There are 18 comments

  1. Jefferson Lopes de Freitas - (11) 98090-1340

    O filme é ótimo! Uma grande história de superação baseada em fatos reais!
    A pessoa que assiste o filme precisa vê-lo com o olhar de uma lição de superação que é o objetivo do filme. Uma bela história é simples nos detalhes, mas rica no conteúdo.
    O autor desta crítica que não valoriza desafios e não valoriza o sucesso alcançado com muito esforço. Deve ser o tipo de pessoa que alcançou “algum destaque” não por mérito, mas com um “empurrãozinho” de alguém.
    Sinto muito que existam pessoas assim!

  2. Lucio Meurer

    Um filme leve, divertido e não vi toda essa crítica social que o autor comenta.
    Aliás, essa onrigação de ser politicamente correto é mais chato que toda comercialização do Everest.
    O filme é uma história de ficção, não tendo nada, exceto o pano de fundo do Himalaia, de real nele.
    Não há técnicas, problematização, nem outras baboseiras de SJW.
    Um filme leve, para assistir sem grandes pretensões, mas nem por isso menos divertido.

  3. Renato

    Vim procurar informações sobre a história real e encontrei a crítica de um filme com a visão de um escalador. Concordo com ele, o filme não é dos melhores, não ri nas partes que tenta ser engraçado, é esquecível.

    Mas ainda quando descobrimos que o cara real não é negro, não era tão amador e não havia essa historinha chinfrim de amor.

  4. Thiago

    Adorei o filme, excelente para assistir em familia, demonstra superação, coragem pra vencer e determinção.
    Agora Sr. Critico, sobre a escalada, o monte é para todos, ou vcs querem ficar com ele só pra vcs, kkkkk.
    Escala quem quiser, seria como vc ir a um parque de diversão e não querer ter fila, só vc pode ter esta experiência, acorda, somos mais de 5 bilhões de pessoas ou todos sobem ou ninguém sobe, a não ser que vc leve o monte pra sua casa.
    É ridicula a inveja do montanhista e critico do filme .

  5. Guilherme

    Romance pastelão franco-(americano), mas como é um filme baseado em fatos reais, a superação do ser humano comum em conseguir o que muitos profissionais não conseguem, é louvável.
    Eu particularmente assisti pela paisagem, cenários e fotografias, que é o que me estimula neste tipo de gênero.

  6. ANA PAULA Magalhães de Souza

    Amei o filme! Tem que ter coragem para subir o monte Everest. Como o filme foi baseado em fatos reais, acho que nenhuma ” mulher ou homem” mereça que uma pessoa despreparada arrisque sua vida por ela, ou por ele. Na realidade só ficou com ele, pq ia pagar mau para a sua reputação, ele merecia uma mulher , que realmente o amasse.

  7. Wilson Carvalho

    Tambem gostei do filme. Jhonny (Umesh Tamang) sensacional, cativante, como disse a Yasmin.
    Das crírticas, só concordo que, de fato, algumas personagens entram e somem sem serem desenvolvidos. Um pecado.
    Fora isso, o filme é excelente.

  8. Yasmin

    O filme é mt bom! Adorei o ator principal e o Jhonny!! Procurei mais informações sobre eles, mas quase não encontrei nada sobre i ator que fez o Jhonny! Ele nem aparece na lista do elenco! Não gostei disso!
    Ele foi o responsável por cativar grande parte do público, e nem tem o nome no elenco!!! Achei uma covardia con ele!
    De qlqr forma, o encontrei! O nome dele é Umesh Tamang! Esse tb é o insta dele (a foto é uma sandália crocs) haha

  9. maria ribeiro

    Achei o filme excelente.
    Subir ao topo do mundo, com a vontade de mostrar ao mundo que os mais pobres, aqueles que vivem em bairros mais difíceis, os emigrantes, o comum dos mortais consegue fazer feitos heróicos. É mesmo um filme positivo sobre o melhor do ser humano.
    O resto é paisagem.

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