A escalada de velocidade atrai a próxima geração de escaladores. O motivo? A modalidade é divertida e possui uma competitividade que é contagiante. Para quem já provou a modalidade, chega a ser chamada de viciante.
A modalidade, que ainda sofre muito preconceito de escaladores tradicionais, será apresentada nos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 2020 em Tóquio. Especula-se que para Paris 2024, haverá medalhas exclusivamente para velocidade, deixando boulder e vias guiadas para ser o novo “combinado”.
Habilidades físicas exigidas
O principal motivo que atletas mais tradicionais e tradicionalistas detestam a modalidade é que a escalada de velocidade exige um esforço físico aeróbico. Este tipo de exigência contrasta com o que era exigido em boulder e via guiadas.
A título de comparação, os escaladores na escalada de velocidade são submetidos a um semelhante trabalho de domínio aeróbico que nadadores. Nadadores exercem o máximo esforço físico e mantêm a cabeça inclinada para a frente, sem respirar, enquanto executam a parte técnica.
Na escalada de velocidade é necessário ter coordenação motora, capacidade cárdio pulmonar e muita força de impulsão nas pernas, além de capacidade de explosão e resistência nos membros superiores.
A via, que é imutável e foi idealizada pelo escalador francês Jacky Godoffe, no início dos anos 2000 moldou os agarras e estabeleceu a via trilhado pelos competidores de hoje. Como já explicado aqui em reportagem exclusiva na Revista Blog de Escalada, percurso tem 15 metros de altura e contém 20 agarras de mão e 11 apoios para os pés.
O muro é inclinado levemente em cinco graus. A via tem uma dificuldade semelhante a 6º brasileiro. Quem procura escalar a parece normalmente, leva em torno de 30 segundos para chegar ao topo. Escaladores considerados na elite do esporte de escalada de velocidade fazem isso em menos de 7 segundos.
Treinamento para escalada de velocidade
Como explicado no podcast NaTrilha (basta apertar o play no link acima), foi explicado que para treinamentos de escalada de campeonatos vale muito a abordagem do que a quantidade. Treinamentos de escalada voltados à competição de todas as modalidades há 10 anos, podem ser considerados obsoletos.
Não somente os treinamentos, mas também o route settering das academias que não refletir o que é exigido em campeonatos, tendem a somente preparar escaladores para competições do início do século XXI. Mas não para as que acontecem agora.
Para a velocidade não é simplesmente repetir infinitamente a escalada na via. É necessário antes, durante e depois, realizar treinamentos de força muscular. É necessário, claro, exercícios para consolidação da memória muscular, aceleramento de reflexos e otimização da posição do corpo. Além disso, é importante a estratégia a ser adotada para diminuir alguns décimos de segundo.
Por apostar em estratégia de abordagem, o iraniano Reza Alipour Shenazandifard é o recordista da modalidade com impressionantes 5,48 segundos. Não bastasse isso, a International Federation of Sport Climbing (IFSC) batizou uma estratégia em homenagem a ele: “o movimento Reza”.
Shenazandifard descobriu que, pulando a quarta agarra da extrema-esquerda, escalando da terceira para a quinta, poderia manter esse momento de saltos e economizar milissegundos preciosos.
O que treinar para velocidade
No topo do artigo, está o mais recente vídeo de Adam Ondra a respeito de treinamentos de escalada de velocidade. Repare que o maior escalador da atualidade foi buscar ajuda de outro treinador. Ou seja, é necessário sempre buscar novas técnicas e abordagens para treinar para campeonatos de escalada.
No vídeo, Adam Ondra faz sessões de treinos em muros (observe que em seu país não há estrutura para escalada de velocidade) e de treinamento aeróbico. Além disso, treinamentos de musculação com pesos também fazem parte da sua preparação.
O recordista mundial Reza usa halteres para levantamentos olímpicos (LPO), como clean, jerk, snatch e deadlift. Reza também treina flexões e muitos, mas muitos mesmo, box jump para movimentos explosivos.
O treino de box jump e back squat não é uma exclusividade de Reza. A ex recordista Anouck Jaubert também possui a mesma escala de treinamento em sua planilha. O mesmo acontece com Aries Susanti Rahayu (recordista feminina de velocidade), que além da escalada passa várias horas por semana dedicando-se a exercícios de fitness.
Vale, inclusive, uma observação a respeito do “segredo” de Rahayu e Shenazandifard nas provas de velocidade, mesmo sendo de dois países com tradição praticamente inexistente no esporte. Na Indonésia, por exemplo, o levantamento de peso, é o esporte que mais contribui para a contagem das medalhas olímpicas do país.
Assim, é possível concluir que culturalmente escaladores e técnicos indonésios não possuem preconceito a respeito de treinos com peso para escaladores.
Portanto, é possível também concluir que a resistência cultural de escaladores com treinos com peso e aquisição de massa muscular, é que vem fazendo a diferença nas provas mundiais de escalada. Então, se está pensando em treinar para escaladas de velocidade, comece a avaliar com seu treinador sessões com como clean, jerk, snatch e deadlift e, claro, longos treinamentos de box jump.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.