Roteiros clássicos de trekking na Cordilheira Blanca: A travessia de Olleros a Chavín

A Travessia de Olleros a Chavín é considerada um dos roteiros clássicos de trekking na Cordilheira Blanca. É altamente recomendada para quem deseja se aclimatar à altitude, antes de tentar escalar acima dos 5.000 ou dos 6.000 metros, pois possui uma altura moderada e é relativamente curta. Ideal para ser realizada no período inicial de uma expedição à Cordilheira Blanca.

O trekking dura 3 dias, percorrendo uma distância de 50 km, aproximadamente. Os dois acampamentos se encontram a pouco mais de 4.000 metros e a altitude máxima alcançada está em torno de 4.700 metros, no Paso Yanashallash, que é preciso cruzar no segundo dia de caminhada.

Vista do Paso Yanashallash | Foto: Marcelo Delvaux

Mas vale a pena fazer essa travessia não somente com o intuito de aclimatar-se para outras empreitadas. O trekking por si só já justificaria uma visita à Cordilheira Blanca. Além de ser belíssimo, tem a peculiaridade de percorrer um sensacional caminho pré-hispânico, todo calçado de pedras na subida e na descida do Paso Yanashallash, uma incrível obra de engenharia lítica. Essa rota, geralmente, é apresentada como uma antiga estrada inca.

Porém, é um caminho milenar, bem anterior aos incas. Apesar de ter sido incorporado ao Qhapac Ñan (a rede de caminhos incaicos) no século XV, se levarmos em consideração que o templo de Chavín foi construído por volta de 800 a.C., e que o caminho se dirige ao templo, dá para ter uma noção de sua antiguidade.

Templo de Chavín | Foto: Marcelo Delvaux

A caminhada começa na simpática vila de Olleros (3.300 m). Localizada a apenas 20 km de Huaraz, é bem fácil chegar até Olleros por transporte público. Basta perguntar pelas minivans
que vão para Huaripampa e que passam com certa frequência pelo centro de Huaraz. Em Olleros há uma placa indicando o início da travessia, que segue por um caminho secundário que leva até outro povoado, Canrey Chico, acompanhando o rio Negro.

Quem optar por ir a Olleros em transporte privado, pode continuar até Canrey Chico e começar a caminhada nesse ponto, já que os veículos chegam até aqui.

Caminho pré-hispânico, subida ao Paso Yanashallash | Foto: Marcelo Delvaux

As antigas casas de Canrey Chico são testemunhas de uma época em que a principal ligação entre o Callejón de Huaylas e o Callejón de Conchucos se dava através da milenária rota de Chavín. Antes da construção da moderna estrada de Huaraz a Huari, passando por Chavín e San Marcos, tropas de burros percorriam a antiga trilha, cruzando a Cordilheira Blanca levando
sal, açúcar, cevada, batata e outros produtos andinos e costeiros. Na volta, traziam os produtos amazônicos, como a coca.

De Canrey Chico a trilha continua pela Quebrada Uquián, subindo gradual e suavemente. Aos poucos vai se delineando os contornos de um imenso pico nevado, que surge atrás das colinas que encobrem a quebrada. É o Nevado Urushraju (5.722 m), que se revela em toda sua grandiosidade quando chegamos na confluência das quebradas Uquián e Rurec. A trilha, então, desce em direção ao fundo do vale, levando a uma planície (pampa) onde se encontra o local do acampamento, em Sacracancha (4.023 m). A distância percorrida nesse primeiro dia é de 16 km (ou 14 km, caso a caminhada tenha se iniciado em Canrey Chico).

Nevado Urushraju – | Foto: Marcelo Delvaux

O segundo dia é o mais bonito e interessante da travessia, quando iremos percorrer o trecho mais bem preservado do caminho pré-hispânico. No início, é preciso caminhar rumo ao fundo da Quebrada Uquián, que a partir de Sacracancha se torna uma imensa área alagada. Impossível seguir a planície em linha reta. A trilha desaparece em alguns pontos, na vegetação que cresce nos alagadiços, e a solução é seguir margeando a planície, buscando o terreno mais firme das encostas, onde se encontram algumas casas de camponeses.

Por fim, se chega a uma trilha bem definida, que começa a subir em direção ao Paso Yanashallash, e logo aparecem os trechos calçados de pedra do antigo caminho. A visão vai se tornando cada vez mais bonita, dominada pelo Nevado Urushraju (5.722 m).

Após um primeiro trecho de longas e íngremes subidas, se chega a um “falso paso”: é preciso descer um pouco em direção a uma nova planície, o último “degrau” da Quebrada Uquián, onde já é possível avistar a vertente norte do maciço do Nevado Urushraju e parte do Nevado Rurec (5.380 m). O Paso Yanashallash se encontra visível ao fundo, bem como o caminho bem marcado do último trecho de subidas do dia.

Acampamento em Shongo | Foto: Marcelo Delvaux

No “passo”, além das tradicionais apachetas (montes de pedra de função cerimonial), uma construção de pedra em forma de altar chama a atenção. Dizem que é de origem inca, apesar de sua concepção não ser parecida com a tradicional arquitetura incaica. Na descida, novamente, se encontram magníficos trechos calçados de pedra e é, nessa vertente, onde fica evidente a habilidade dos antigos construtores da estrada, que montaram um percurso artificial elevado e nivelado, para suavizar a forte inclinação e as irregularidades da encosta.

Depois de uns 17 km chega-se a outra pampa, um lugar plano e apropriado para armar o segundo acampamento, chamado Shongo.

Descida do Paso Yanashallash | | Foto: Marcelo Delvaux

O último dia é o mais fácil. Serão 13,5 km até Chavín, inicialmente por uma trilha bem marcada que, após o primeiro povoado, se transforma em uma pequena estradinha de terra. As descidas são acentuadas, com lindas vistas para os profundos vales que desembocam no Callejón de Conchucos. Finalmente, se avista a cidade de Chavín de Huantar aos nossos pés, com o templo de Chavín em primeiro plano.

Em um ponto em que a estrada se dirige para a direção oposta a Chavín, é preciso buscar outra trilha calçada de pedras, um desvio que conduz diretamente ao templo de Chavín e que representa um bom atalho nessa parte final.

O templo de Chavín é uma atração imperdível, uma espécie de recompensa após 3 dias de caminhada. Possui diversas galerias subterrâneas, parecidas com labirintos. É incrível percorrer o templo (que é imenso), pensando que foi construído mais de 2.000 anos antes do surgimento dos incas! Recomendo muito não apenas visitar o templo (com calma, sem pressa), mas também dormir no simpático povoado de Chavín, ao invés de tomar o primeiro ônibus para voltar a Huaraz após o final da travessia.

Chavín tem algumas pousadas aconchegantes e é um lugar excelente para descansar.

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