A história do montanhismo: Como tudo começou?

Praticar montanhismo, em todas as duas formas, muda a vida de qualquer pessoa. Atualmente existem vários esportes de montanha que, de uma maneira ou de outra, faz parte do montanhismo, mesmo que sejam muito diferentes uns dos outros. Mas tudo deve ter começado a partir de algum ponto em comum.

Para fazer uma linha do tempo do montanhismo, como atividade em si, com conceitos e técnicas apropriadas, é necessário estabelecer alguns parâmetros. O primeiro deles é que, sem dúvida, o ser humano passeava pelas montanhas há muito tempo.

Nestas mesmas montanhas haviam pessoas vivendo em regiões como os Alpes, Nepal e Tibet. Portanto, a prática filosófica do montanhismo (frequentar montanhas), já é praticada pelo ser humano faz bastante tempo. Porém, o que é levado em consideração pelos historiadores, montanhismo é o fato de subir altas montanhas, ou seja, que requeriam técnicas de ascensão e progressão diferenciadas.

Para se ter uma ideia, o homem que carregava a primeira mochila já identificada, é ao Ötzi (também conhecido como O Homem do Gelo), uma espécie de cadáver bem conversado e encontrado nos Alpes. Ötzi foi encontrado justamente por montanhistas a 3.210 metros acima do nível do mar no maciço de Ötztal. Estudos do carbono do material vegetal junto ao corpo e das amostras da pele e dos ossos de Ötzi, confirmam que ele viveu há cerca de 5.300 anos.

Por este motivo é que é necessário estabelecer um fato, ou um acontecimento, que marque o início de uma disciplina que cresceu e desenvolveu-se no montanhismo que conhecemos hoje.

Primórdios do montanhismo

Mont Aiguille

Mont Aiguille

Alguns casos isolados de montanhismo ocorreram nos anos 1300 e 1400 d.C., para fins não recreativos ou não esportivos, como religião e meteorologia. A mais notável foi a primeira ascensão do Mont Aiguille (2.085 m) em 1492.

A ascensão foi idealizada por Carlos VIII da França, que ordenou que seu engenheiro militar Antoine de Ville escalasse a “montanha inacessível “, a qual hoje conhecemos como Mont Aiguille. Esta é considerada a primeira escalada europeia da história. Como a França (país considerado o berço do montanhismo) foi que a realizou, esta escalada é considerada o marco zero do montanhismo e alpinismo mundial.

O motivo de querer conquistar picos de montanhas, até então consideradas virgens, têm um motivo: estratégia militar. Por este motivo que Antoine de Ville, que era militar, foi o escolhido. A equipe se armou de escadas e cordas e chegou ao topo.

O grupo esperava encontrar divindades, mas em vez disso encontraram apenas uma campina cheia de flores. O grupo permaneceu no cume por seis dias, realizou uma missa em uma cabana improvisada e ergueu três cruzes como prova de sua realização.

O Mont Aiguille não foi escalado novamente até 1834, porque no ano de 1700 as pessoas ainda começavam a desenvolver o fascínio de escalar montanhas. Mas ainda a prática era vista como uma atividade militar, não propriamente um esporte. Somente para a nobreza é que o montanhismo começou a ser enxergado como uma atividade esportiva.

Chamonix vista de Flégere | Foto: Cissa Carvalho

Montanhismo em um sentido esportivo contemporâneo nasceu quando em meados do século XVI, os europeus começaram a ter interesse nas montanhas, começando com as geleiras do vale de Chamonix, na França O ímpeto para o montanhismo esportivo é geralmente atribuído à visita a Chamonix por Horace Bénédict de Saussure em 1760.

Saussure, um jovem cientista de Genebra, ficou tão fascinado com a paisagem do imponente Mont Blanc (4.807 m), que ofereceu uma recompensa em dinheiro para a primeira pessoa que conseguisse escalá-lo com sucesso. No ano de 1786, mais de 25 anos depois, seu desejo finalmente se tornou realidade: o Mont Blanc foi escalado pelo médico local, Michel-Gabriel Paccard, e seu porteiro, Jacques Balmat.

O próprio Saussure chegou ao topo no ano seguinte, e Marie Paradis, moradora local de Chamonix, completou a primeira ascensão feminina em 1808. As ascensões do Mont Blanc foram logo seguidas pela primeira ascensão da Aiguille du Midi (3.842 m) em 1818. A companhia de guias de Chamonix foi fundada em 1823.

Nas décadas seguintes, o interesse pelos Alpes continuou a aumentar entre os suíços, franceses e alemães. No entanto, o verdadeiro frenesi de montanhismo teve sua origem na Inglaterra vitoriana (1837 a 1901). Entre a nobreza da Inglaterra, tornou-se “moda” subir montanhas consideradas impossíveis (para depois ostentá-las na aristocracia).

O período entre a ascensão de 1854 de Alfred Wills do Wetterhorn (3.692 m) e Matterhorn (4.478 m) em 1865 com Charles Edward Whymper, é considerado a idade de ouro do montanhismo.

Idade de ouro do montanhismo

Matterhorn, 2.600m | Foto: Karol Nienartowicz

Meados do século XVIII, os montanhistas se reuniam nos Alpes e realizaram as primeiras escaladas de praticamente todos os principais picos da região. As expedições eram predominantemente lideradas por alpinistas britânicos e acompanhadas por guias suíços ou franceses.

Várias figuras-chave da idade de ouro do alpinismo apareceram nesta época, como John Tyndall (físico irlandês e alpinista), e Leslie Stephen (autora e alpinista). Foi durante esta década que o Clube Alpino da Grã-Bretanha foi fundado (1857). Além disso, durante esse período, o alpinismo tornou-se um esporte da moda entre a nobreza, com guias oficiais e equipamentos cada vez mais técnicos.

Em meados do século XIX, os suíços desenvolveram um círculo de guias cuja liderança ajudou a tornar o alpinismo um esporte distinto, à medida que guiavam pico após pico em toda a Europa central. Porém em 1870, todos os principais cumes alpinos haviam sido escalados, e os alpinistas começaram a procurar rotas novas, e mais difíceis, em picos fora do continente europeu.

Portanto, no final do século XIX, os montanhistas voltaram sua atenção para a Cordilheira dos Andes (América do Sul), Montanhas Rochosas (América do Norte), Cáucaso (Europa oriental e Ásia ocidental), África e, finalmente, Himalaia.

Aconcágua

A década de 1870 viu um aumento considerável de montanhistas femininas. As pioneiras foram a britânica Lucy Walker, que completou a primeira ascensão feminina do Matterhorn em 1871, e a norte-americana Meta Brevoort, que completou a primeira escalada invernal do Jungfrau (4.158 m) em 1874. Ambas criaram novas possibilidades e inspiraram inúmeras outras mulheres a seguirem seus passos.

O monte Aconcágua (6.959 m), o pico mais alto dos Andes, foi escalado pela primeira vez em 1897 pelo suíço Matthias Zurbriggen. O duque italiano d’Abruzzi em 1897 fez a primeira ascensão do Mount St. Elias (5.489 m), que fica em frente à fronteira internacional do estado do Alasca e do território de Yukon, no Canadá. O Grand Teton (4,197 metros) foi escalado em 1898. O norte-americano Hudson Stuck escalou o Denali (6.190 metros) em 1913.

Como sua popularidade aumentou, o esporte de montanhismo gradualmente tornou-se menos elitista. Em 1907, a Grã-Bretanha fundou o Ladies ‘Alpine Club em resposta à recusa do Clube Alpino da Grã-Bretanha em permitir mulheres. Os dois clubes foram fundidos muito mais tarde, em 1975.

O desafio para quem queria tornar-se o primeiro a fazer algo, começava a ficar mais difícil. O bastião final, o Monte Everest (8.848 m) e as outras montanhas do Himalaia (todas acima de 7.000 e 8.000 metros) eram a nova fronteira do esporte.

Conquista do Himalaia

Até o final da do século XIX, os Alpes tinham sido todos escalados, e algumas montanhas das Américas também. Uma invenção feita logo no início do século mudou tudo: Em 1908, Oscar Eckenstein inventou o crampon de 10 pontos, facilitando a escalada em gelo e reduzindo a necessidade de montanhistas cortarem degraus em geleiras.

Com o passar do século XX, o caráter verdadeiramente internacional do montanhismo começou a se transformar. Cada vez mais austríacos, chineses, ingleses, franceses, alemães, indianos, italianos, japoneses e russos voltaram sua atenção para as oportunidades inerentes à maior massa de montanhas do planeta: o Himalaia.

Depois da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), os britânicos fizeram do Monte Everest seu objetivo particular, enquanto montanhistas de outros países estavam fazendo escaladas espetacularmente bem-sucedidas de outros grandes picos do Himalaia. No ano de 1922, George Finch e Geoffrey Bruce chegaram às manchetes dos jornais da época ao atingir uma altura sem precedentes até então: 8.175 metros.

Esta altura foi atingida em uma expedição ao Monte Everest. Finch e Bruce foram bem-sucedidos a chegar nesta de altitude por causa do uso pioneiro de oxigênio suplementar. Nas próximas décadas, os cientistas refinariam essa técnica.

Após a Primeira Guerra Mundial, o montanhismo cresceu em popularidade entre os amadores, que escalaram montanhas vestidos com trajes comuns, com pouco conhecimento ou prontidão para os riscos que encontravam. Além dos europeus, o montanhismo também estava ganhando popularidade chineses, indianos, japoneses, russos e neozelandeses, também entusiasmado com o esporte.

A Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) interrompeu temporariamente a lista de conquistas. Mas logo que a guerra acabou, na década de 1950 surgiu uma série de ascensões bem-sucedidas de montanhas no Himalaia. Annapurna I (8.059 metros) em junho de 1950 por uma equipe francesa, Nanga Parbat (8.126 m) em 1953 por alemães e austríacos, Kanchenjunga (8.586 m) por britânicos em 1955, Lhotse I (8.516 metros) por suíços em 1956. O K2 (8.611 m) foi escalada pela primeira vez por dois alpinistas italianos em julho de 1954.

A obsessão a respeito do Monte Everest pelos britânicos tornou-se realidade em 1953, quando neozelandês Edmund Hillary e o tibetano Tenzing Norgay chegaram ao topo do mundo em 29 de maio. Foi a oitava equipe em 30 anos a tentar o Everest.

Pós conquista do Monte Everest

A partir dos anos 1960, o montanhismo passou por várias transformações. Uma vez que os picos mais emblemáticos foram escalados, a ênfase mudou para uma busca por rotas cada vez mais difíceis, subindo pela face da montanha até o cume, como na era de ouro das escaladas alpinas.

Em 1964, todas as montanhas de 8.000 m no Himalaia foram atingidas e, em 1975, a alpinista japonesa Junko Tabei tornou-se a primeira mulher a escalar o Monte Everest. Ela se tornaria a primeira mulher a escalar todos os Seven Summits em 1992, apenas sete anos depois de Richard Bass.

As décadas de 1960 e 1970 foram formativas para a cultura de montanhismo fora da Europa, com países como Brasil, Argentina e Chile estabelecendo seus próprios estilos de montanhismo. Esta foi também uma época de rápido avanço tecnológico, e os montanhistas puderam usar ajudas artificiais e técnicas mais sofisticadas.

Começaram também contestações filosóficas, como o auxílio de oxigênio. A primeira escalada a passar dos 8.000 metros de altura em relação ao nível do mar, no longíquo ano de 1922 e realizada por uma expedição britânica liderada por George Finch, foi feita com a ajuda de oxigênio suplementar.

Entretanto, a comunidade de montanha levou em conta que a atitude era considerada “antidesportista”. Por definição, antidesportista é quando uma pessoa, ou mais, manipulam situações ou tentam se sentir melhores que os adversários ou adversário.

Depois de 25 anos, nos quais o ser humano considerou impossível chegar ao cume do Everest sem oxigênio, no ano de 1978 os montanhistas Reinhold Messner e Peter Hableler conseguiram.

Dois anos mais tarde, logo após ter sido acusado de usar oxigênio suplementar em uma ascensão, Messner volta a subir o Everest, agora em solitário, ou seja, sem qualquer tipo de apoio técnico preestabelecido, oxigênio e pela rota mais difícil: a noroeste.

Estilo alpino versos expedições comerciais

O estilo alpino é considerado a forma mais pura de fazer montanhismo, sendo autossuficiente e deixar o menor rastro possível. Neste estilo é o próprio montanhista que carrega sua comida, barraca e equipamento. Da mesma maneira o montanhista que faz os próprios estudos de meteorologia e condições climáticas, além de ser o responsável em tomar as decisões e, claro, assumo o próprio risco.

Portanto, o estilo alpino é veloz e limpo, tanto no sentido estético como ambiental. Este estilo demanda um compromisso físico e mental proporcional aos seus objetivos.

Em contrapartida, o estilo alpino contrasta com o estilo “expedição”, que frequentemente é chamado também de “comercial”, ao ser empregado por levar centenas de clientes aos cumes das montanhas todos os anos. O estilo expedição envolve a colocação prévia de cordas fixas pelos “trabalhadores de montanhas”, os quais são contratados para assumir o risco que tal função implica.

Desta maneira, o cliente terceiriza a responsabilidade de tomada de decisões, conhecimentos de montanha, carregamento de equipamentos a outras pessoas. Esta terceirização inclui também os tanques de oxigênio suplementar, o qual é utilizado em grandes quantidades dependendo o estilo da expedição. Esta modalidade, evidentemente, é rechaçada pelo estilo alpino.

Técnicas modernas de escalada e inovações na tecnologia de montanhismo, como cordas melhoradas, parafusos, grampos e picadores de gelo, tornam possível enfrentar terrenos cada vez mais desafiadores, como penhascos íngremes, cachoeiras congeladas e glaciares.

Atualmente muitos dos cumes mais famosos do mundo estão equipadas com cabanas de montanha e acampamentos base que os montanhistas possam ficar, enquanto sobem a montanha e se preparam para uma tentativa de ataque ao cume. As técnicas de busca e salvamento também melhoraram muito. Via Ferratas, cabos de aço usados ​​como auxiliares no trekking de terrenos íngremes, tornaram-se populares em rotas frequentadas por turistas alpinos.

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