Escalada esportiva e boulder – Qual a diferença de perfil de quem pratica cada uma?

Por: Alan Luna

Não há dúvida de que hoje em dia a escalada esportiva vêm crescendo a passos gigantes dentre os que começam a enveredar pelo esporte. Me lembro de que não faz muito tempo quase todos os escaladores que conhecíamos tínhamos algum amigo em comum. Hoje em dia já existem vários círculos de escalador que praticamente não tem contato com outros.

Também e inegável que, hoje em dia, os escaladores preferem especializar-se somente em escaladas de boulders ou de vias (esportivas ou tradicionais). Antes a escalada em vias, sobretudo as tradicionais, era a única que existia, ou melhor dizendo, que contava com maior número de adeptos. A maioria dos escaladores somente praticava boulder em um muro de escalada como treinamento para vias de escalada em rocha, encarando a modalidade como um meio, e não um fim.

A prática exclusiva de boulder é uma atividade relativamente nova, a qual explodiu exponencialmente em sua popularidade e, se verificarmos, hoje existem muitos locais de escalada em boulder em nosso país, alguns conhecidos internacionalmente como Cocalzinho, Pedra Rachada, Ubatuba e Conceição do Mato Dentro (somente citando algumas). Como não poderia ser diferente este crescimento exponencial da modalidade pode ser notado em alguns escaladores que optam por dedicar-se, e especializar-se, somente em uma modalidade, o que me causa muita curiosidade sobre isso. Por isso assumi a tarefa de conversar com distintos escaladores das principais cidades do país.

escalada esportiva

Foto: https://interruptedthoughtprocess.wordpress.com

Aproveito para deixar claro que não estou desprestigiando ou desmerecendo nenhuma das duas modalidades (escalada em boulder ou vias) e que pessoalmente gosto das duas. Me divirto bastante subindo uma linha de boulder tanto quanto encadenar uma via que me leve ao limite mental e físico.

Deixo claro também que não é minha intenção generalizar todos os escaladores, pois sei que também há muitas pessoas que, de certa maneira, “transitam” nas duas atividades. Portanto para sermos mais práticos na leitura deste artigo chamarei de “boulderistas” as pessoas que se dedicam a boulder e “encadenadores” aos que somente fazem vias de escalada. Uma vez aclarado o assunto, o que encontramos é o seguinte:

Potência versus resistência

Na hora de treinar na academia muitos preferem treinar somente potência e, por isso, encontrei algumas das razões para que escaladores sigam esta filosofia que são:

  • Menos divertido ou preguiça: É fato de que é menos divertido seguir um programa de certo número de movimentos sob certa porcentagem de sua capacidade física em um determinado tempo de descanso, para entrar em cada sequência do que somente ir provar vários passos de potência (que são muito menos).

escalada esportiva

  • Falta de espaço para treinar resistência: Se o seu horário de trabalho é bem perto do convencional (9:00 às 18:00) durante a semana, evidentemente irá escalar depois do trabalho em um horário que maioria das academias de escalada do país possui grande volume de clientes. Por isso quando está experimentando uma sequência de resistência um pouco mais complicada, seja qual for o número de movimentos, atrapalhará a maioria dos clientes que estão compartilhando a mesma parede tentando linhas de 4 a 6 movimentos em média.
  • Idiossincrasia na forma de progredir na escalada: A quem me refiro a isso? Lembre-se quando estava começando na escalada e nas suas primeiras idas a algum ginásio, ou mesmo na rocha, os instrutores de lá (até mesmo seus amigos) recomendaram fazer barras em agarras grandes, pequenas, abaulados, etc, em vez de blocadas, campus, fingerboard e assim por diante? Algum deles lhe recomendou fazer alguma sequência de movimentos ou repetições em alguma via? Duvido muito. Nossa forma de pensar, sem nenhum preconceito prévio de treinamento de escalada, foca muito em exercícios de força/potência, acabando sendo este tipo de exercícios os primeiros a serem recomendaveis a um escalador novato.

Estilo de convivência e desenvolvimento na rocha

A convivência na rocha é diferente entre as duas atividades (escalada em rocha x boulder). Alguns encadenadores opinam que se cansam menos em um dia de boulder do que um dia de vias. Isso porque os encadenadores encontrar uma maneira mais relaxada de escalada em um dia de boulder, dizendo que é um estilo mais divertido no qual pode socializar, fazer uma tentativa, seguir socializando, ir a outra linha, socializar, outra tentativa, seguir socializando, comer, socializar e tentar outra linha.

Este argumento tem uma certa lógica, pois o tempo efetivo que um escalador se encontra em uma parede é muito menor em um dia de boulder que em um dia de escalada esportiva. Existem vias que requerem até 45 minutos de dedicação isso, claro, dependendo do grau escalado.

Foto: http://digitalresult.com/

Foto: http://digitalresult.com/

Em alguma ocasião pode ser que consiga convencer um boulderista de coração a acompanhar em um dia de escalada esportiva, mas quando começar a escalar, muito provavelmente no aquecimento, comente que está acostumado a fazer 3 ou 4 vias fácies para aquecer. Neste momento escutará que ele prefere ir direto na mais dura e malhá-la sem piedade.

Posteriormente ao termino do dia comentará que achou tedioso o programa por ter de ter ficado de segurador muito tempo já que, durante a prática de boulder, enquanto não escala pode fazer o que quiser: tirar fotos, comer, dormir, contemplar a paisagem, passear pela localidade, encontrar outra linha de boulder, falar ao telefone, etc.

Portanto se vai escalar somente a dois, um tem de estar de segurador, e por isso pode tornar tedioso a quem não está acostumado.

Desempenho da psique

O jogo mental entre os dois estilos (boulder e escalada em vias) é muito diferente. Por exemplo em uma via é necessário o que chamo de “templo mental”, que é a capacidade de manter a calma por determinado tempo. Este tempo é mais prolongado em uma via de escalada do que um boulder.

Este “templo mental” também se constrói com a tarefa de manter a respiração tranquila e não dar-se por vencido prematuramente em alguma passagem. Além disso há a necessidade de ir visualizando os próximos passos que irá realizar para chegar a um descanso, para ter a capacidade de baixar o ritmo cardíaco. Ou seja várias atividades mentais que um encadenador gosta de trabalhar.

Foto: http://soloboulder.com/

Foto: http://soloboulder.com/

Neste aspecto encontram-se muitos boulderistas, muito fortes fisicamente diga-se, que não possuem desenvolvida esta habilidade do “templo mental” e, ao contrário, possuem algum medo em algum tipo de via. Não gostam também de “voar” (ou “vacar”), e por isso não se preocupam com os movimentos da via, mas sim com a possibilidade de cair e, consequentemente, ficam nervosos fazendo o “overgrip” (apertam mais forte que o necessário) cansando-se muito rápido. Os boulderistas também apontam um certo grau de deficiência para a leitura durante a escalada nas tomadas de decisões.

Por outro lado, os encadenadores possuem um medo grande da queda em boulder (mesmo com o devido crash pad) se comparado com a queda em uma via. Os boulderistas também possuem uma memorização da leitura feita na linha de boulder que os encadenadores não conseguem ter.

Conclusão

Para terminar, seja qual for a sua preferência, qualquer uma das especialidades nos oferece infinitos sorrisos com muita diversão e, como sempre digo a meus amigos, quando se está preparado para um grande desafio em seu projeto (seja ele via de escalada ou boulder) sempre há um semblante sério no rosto. Não esquecer nunca de que a graça da brincadeira de escalar é divertir-se, aproveitar e, se possível, encadenar (via ou boulder).

IMPORTANTE: Estilos de escalada não devem brigar entre si, pois simplesmente a alguns é mais divertido um estilo do que a outro e, assim, decidimos nos especializar-nos em alguma deles. O que não se deve fazer, obviamente, é dizer que não gosta de uma modalidade sem ter previamente experimentado.

Tradução autorizada de: http://www.freeman.com.mx/

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