Dharma: Quatro princípios do Budismo que servem como diretrizes para o montanhismo

Para entender o que é Dharma, é necessário saber um pouco sobre o Budismo. O Budismo nasceu em 546 a.C. em Lumbini, no Nepal, com o nascimento de Sidarta Gautama, o fundador da religião. Estima-se que atualmente 500 milhões de pessoas que aderiram às práticas e crenças budistas em mais de 100 nações, especialmente na Ásia e extremo oriente.

No Nepal, a maioria das pessoas se identifica como hindu. No entanto, as influências budistas são difundidas na maioria dos aspectos da cultura do país e desempenhou o papel de espalhar o budismo para o Tibet. Inegavelmente o Himalaia, cordilheira com as montanhas mais altas do mundo, é um grande centro da religião budista.

Entendendo o que é Dharma no Budismo

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No budismo, Dharma significa no sentido mais amplo: Lei e ordem cósmica. Assim, a vida que é vivida de acordo ou em harmonia com a lei. Na filosofia budista, Dharma também é o termo para “fenômenos “.

Para os budistas praticantes, as referências ao Dharma geralmente significam os ensinamentos de Buda, comumente conhecidos em todo o Oriente como Budadharma. O status do Dharma é considerado de maneira variável por diferentes tradições budistas.

Importante lembrar que Dharma é um conceito fundamental, com múltiplos significados para várias religiões como o Hinduísmo, Budismo, Jainismo e Sikhismo. A raiz da palavra Dharma é “dhri”, que significa “apoiar, segurar ou suportar”.

O Dharma é uma das três joias do budismo em que os praticantes buscam refúgio. Joias em que os praticantes se baseiam para sua felicidade duradoura. As Três Joias do Budismo são:

  • Buda: Significa a perfeição da iluminação da mente.
  • Dharma: Significa os ensinamentos e métodos doe Buda.
  • Sangha: Significa a comunidade monástica que fornece orientação e apoio aos seguidores de Buda.

Portanto, resumidamente, Dharma é o que regula o curso da mudança, não participando da mudança, mas aquele princípio que permanece constante. Podendo ser usado como diretriz para quem sempre está frequentando as montanhas sagradas do berço do nascimento da religião: os montanhistas.

Por que o Dharma ficou vinculado a montanhistas?

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Foto: https://armia.forumfree.it/

O autor que mais influenciou a linha de pensamento de todo praticante de esportes outdoor no ocidente foi Jack Kerouac. Seu livro mais conhecido, On the Road (On the road – Pé na Estrada), escrito em 1957, é sua obra mais celebrada.

O livro foi baseado nas viagens de Kerouac e seus amigos pelos EUA e é considerada uma obra definidora da geração Beat e da Contracultura, com seus protagonistas vivendo a “vida loca” em um cenário de jazz, poesia e uso de drogas.

Conforme explicado em um artigo na Revista Blog de Escalada, o movimento Hippie e a contracultura moldaram o pensamento e a cultura de quem pratica esportes de montanha e fez nascer as viagens de mochilão.

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O livro The Dharma Bums (Os Vagabundos Iluminados), escrito em 1958, usou como base relatos semi ficcionais eventos que ocorrem anos depois dos eventos de On the Road. O livro examina a relação das atividades ao ar livre, montanhismo, caminhadas e viagens de carona pelo oeste dos EUA com a “vida urbana” de clubes de jazz, leituras de poesia e festas bêbadas.

A busca do protagonista por um contexto “budista” para suas experiências (e as de outras pessoas que encontra) é recorrente ao longo da história. The Dharma Bums teve uma influência significativa na contracultura Hippie dos anos 1960.

Um romance filosófico comovente e espirituoso, o livro pode ser visto como uma jornada de auto descoberta através das lentes do pensamento zen budista. A história se concentra em dois jovens norte-americanos: o montanhista, poeta e zen budista Japhy Ryder e Ray Smith, um escritor entusiasmado e inocente. No livro a “busca pela verdade” os leva a uma corrida por festas e sessões de leitura de poesias em São Francisco e à solidão e escaladas de montanhas nas High Sierra (Califórnia).

Ao misturar ensinamentos zen budistas, montanhismo e cultura Beat, Jack Kerouac fez uma espécie de vínculo cultura entre montanhismo e o Budismo. Ao longo dos anos, por causa da popularidade de seu The Dharma Bums, frequentemente é citado o conteúdo do Dharma ao montanhismo.

Diretriz 1: Sofrimento

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No budismo há um conceito chamado “As Quatro Nobres Verdades” e se referem ao sofrimento. As Quatro Nobres Verdades englobam todos os Dharmas e estão no cerne da vida. Explicam todos os esta­dos de consciên­cia exis­ten­tes no uni­ver­so e como se liber­tar de todas as for­mas de ilusão.

Há quem acredite que a frase “somente o sofrimento traz o aprendizado” é quase uma lei para a escalada e montanhismo. Embora não seja exclusiva dos montanistas, pode ser facilmente descrita como divertida que não é agradável no momento, mas será no final.

A Primeira Nobre Verdade de que a vida é sofrimento, desconforto e dor são pré-requisitos para escaladores e, para alguns montanistas, é o objetivo final. As formas físicas de sofrimento para os escaladores geralmente têm precedência e podem assumir a forma de sangramento, forçar seus músculos até o limite máximo ou ser pego por uma chuva torrencial.

Menos conhecido por aqueles que não estão familiarizados com o esporte é o rigor do sofrimento mental exigido por todos que realmente se procuram sempre se superar, mas sabe que nada é fácil. Porque as experiências difíceis são a maneira como aprendemos e também a maneira como podemos apreciar a facilidade.

Diretriz 2: Impermanência

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Existem três qualidades básicas que caracterizam o universo, segundo o budismo: impermanência (Anicca), dor (dukkha) e insubstancialidade (anatta).

Anicca é um dos conceitos essenciais para a descrição do universo segundo o budismo e diz respeito à constante mutação de todas as coisas que compõe o universo. Assim como as quatro nobres verdades são reconhecidas por todas as escolas budistas, a impermanência é um ensinamento presente em todas as linhagens.

Embora os praticantes budistas possam ter um conhecimento completo da impermanência de todas as formas mentais e físicas no ciclo do Samsara. As coisas têm uma natural impermanência (nada perdura para sempre), tudo se transforma continuamente e caminha para a própria dissolução.

A escalada, assim como a prática budista, força mentes e corpos a superar as vicissitudes de nossas experiências físicas e mentais. Durante a meditação, podemos experimentar formas mentais extremamente desconfortáveis, mas se nos sentarmos por tempo suficiente e aplicarmos o foco necessário, percebemos que elas sempre passam.

Da mesma como acontece com uma escalada difícil, a única resposta é ficar e aplicar nossa prática diante das circunstâncias em constante mudança. Pois não devemos nos apegar às coisas, pois todas as coisas são temporárias.

É justamente essa impermanência que possibilita a renovação do universo.

Diretriz 3: Fluxo e Zen

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Na tradição Zen o fluxo é fundamental e se refere à quietude da mente que parece sem esforço e contínua. Isso talvez esteja mais associado na cultura popular com atletas profissionais, que muitas vezes descrevem o estado de flow como meramente “ligado”.

De maneira simplista pode ser pensado como a experiência cumulativa de estar tão profundamente em contato com seu ofício, por meio de ensaio e prática , que nem mesmo precisa usar sua mente pensante para executar com perfeição.

Talvez o mais associado ao estado de flow no mundo da escalada seja o escalador Alex Honnold, que certa vez disse a um entrevistador que: “Não estou pensando em nada quando estou escalando. Estou focado em executar o que está diante de mim”.

As escaladas de Honnold tipificam o estado de flow, que exige estar totalmente presente, executando cada movimento perfeitamente, estando completamente ciente de seu corpo se movendo no espaço, para sobreviver.

Dentro de cada um de nós está o poder de nos separar da confusão da vida cotidiana, aproveitando um nível superior de consciência e paz conhecido como estado Zen. O verdadeiro estado Zen é a prática de voltar ao eu real, agora neste momento, voltando à naturalidade, à intimidade e à simplicidade de nossa verdadeira natureza.

Para montanhistas atingir o estado de flow e zen:

  • Escolha o estilo que você ama
  • Concentre-se em uma tarefa de cada vez
  • Conecte-se com a natureza
  • Certifique-se de que seja desafiador, mas não muito difícil
  • Encontre o seu horário de pico
  • Se isole de distrações
  • Divirta-se
  • Continue praticando

Diretriz 4: Aceitação

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Foto: Alton Richardson

Montanhistas e escaladores, em média, são conhecidos por terem a autoestima exacerbada. O exemplo clássico pode ser visto em grupos de WhatsApp frequentemente, quando uma legião de ofendidos e de raivosos.

O motivo da raiva: sempre quando há algo que demonstra que não possuem o conhecimento suficiente ou a habilidade que deseja ter. Sempre o resultado de ter um desejo de ter uma imagem exagerada da realidade perante amigos e sociedade. Resultado de não aceitar que quem é.

Quando se está em uma parede, não há como mentir para si mesmo ou para os outros sobre os trovões e os relâmpagos que podem estar se aproximando cada vez mais de onde está. Para escaladores mais experientes, isso também implica em um reconhecimento e aceitação genuínos do ego, que pode ser ferido ou envergonhado quando fisicamente ou mentalmente incapaz de terminar uma determinada escalada.

Esses veteranos dirão que não adianta fingir que você pode executar um movimento ou conhecer uma habilidade na rocha que você não conhece, porque a consequência poderia facilmente ser a morte.

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