Roberta Nunes: A biografia da maior escaladora brasileira da história

Neste ano de 2021 fará 15 anos da morte da escaladora paranaense Roberta Nunes, ocorrido em um acidente automobilístico nos EUA. Robertinha, como era conhecida no ambiente de escalada, tinha 34 anos.

No final do dia de 18 de Julho de 2006, Roberta Nunes, que estava aprendendo a dirigir, estava conduzindo o seu veículo junto de seu namorado Sean Leary. Deste então, o esporte brasileiro nunca mais teve um nome na escalada que tivesse tanto destaque internacional.

Fosse possível fazer uma comparação com o futebol, seria o equivalente à Marta, estrela do futebol feminino, falecer no auge da carreira.

O então namorado de Roberta, o norte-americano Sean Leary, morreu em 2014 em um acidente fatal quando realizava um salto de Base Jumping no estado norte-americano de Utah.

O início de Roberta Nunes

Roberta Nunes

Roberta Nunes

Roberta Nunes era natural de Curitiba-PR e teve uma infância comum, como de qualquer garota curitibana de classe média da cidade nos anos 1980. Com uma beleza que se destacava dentre as demais, se aventurou como modelo fotográfico e de esporte escolheu o balé. O balé clássico, com estética e técnica rigorosa, movimentos fluidos, precisos e muita leveza colaborou para fosse o alicerce perfeito para uma futura escaladora.

Em uma certa oportunidade no ano de 1993, foi convidada por amigos a conhecer a escalada. O local escolhido foi justamente o Morro do Anhangava, um dos mais tradicionais e populares locais de escalada do Paraná. Lá ficou encantada pelo esporte, que, nas palavras da escaladora Lynn Hill, tratava-se de um balé na rocha.

A partir desse encontro, começou a praticar escalada, esporte que foi cada vez mas fazendo parte de sua vida. Acostumada com a disciplina que o balé exigia, que lhe ensinou a ter uma consciência corporal acima da média, começou a se destacar na comunidade de escaladores de seu estado. No mesmo ano foi chamada para viajar para a Patagônia, que acabou tornando-se seu lugar preferido no mundo.

Dedicando-se totalmente ao esporte, passou a fazer parte de entidades de classe consagradas do estado do Paraná como o Corpo de Socorro em Montanha (COSMO). Quando começou a frequentar e conhecer o Marumbi, local de escaladas tradicionais mais exigentes do Brasil, se apaixonou pelo gênero.

A paixão pela Patagônia

Roberta Nunes

Roberta Nunes

Dedicando-se à escalada tradicional, começou a estabelecer marcas que poucos escaladores conseguiram em Salinas (tradicional local de escalada no Rio de Janeiro). O destaque fica para a via “Decadance avec Elegance” de 850 metros.

No ano de 1998 percorreu por dois meses os principais locais de escalada tradicional na Argentina e Chile. Nesse período escalou em Los Gigantes, La Ola, Arenales, Los Mogotes, Cerro Catedral e Cerro Bonete.

No ano seguinte, em 1999, voltou à Patagônia Argentina, desta vez em Chaltén, onde realizou uma primeira tentativa na Aguja Mermoz (2.730 m) por uma nova via na face leste, junto a Ale Gracia, Sebastian Bortolin e Andres Zeggers. Na mesma temporada, junto da suíça Barbara Regli, fez uma tentativa na Aguja Guillaumet (2.580 m) pela via “Colouir Amy”, ficando a poucos metros do cume.

Roberta Nunes volta no ano seguinte, no ano 2000, e assombra a todos com suas conquistas:

  • Escala a Aguja Inominata (2.500 m), pela via anglo-americana (V+, 6c, A1) junto ao argentino Fefi.
  • Fez a primeira ascensão feminina brasileira da Aguja de la Media Luna (1.923 m) pela via “Salvaterra”, junto a Sebastian Bortolin
  • Sube o Cerro Solo (2.100 m) pela via normal
  • Realiza uma tentativa do Monte San Lorenzo (3.706) pela via Agostini, ficando a apenas duas horas do cume
Roberta Nunes

Roberta Nunes

No ano de 2001, Roberta Nunes decidiu que era hora de trocar de ares e encontrar novos desafios. Decidiu ir para a Meca da escalada tradicional mundial: Yosemite. Em um período de dois meses repetiu inúmeras vias em diferentes rochas icônicas como o El Captain, Sentinel Rock, Royal Arches, Rostrum, North Dome, Catedral Peak e Leanning Tower.

Porém a sua maior paixão tinha nome: Patagônia. Assim, Roberta retorna em 2002 para uma nova temporada e escalar o Fitz Roy (3.405 m). Dessa maneira, entra para a história do esporte de seu país como a primeira mulher brasileira a tentar esta escalada.

No ano seguinte, já em 2003, a escaladora recebeu um convite para experimentar alguma atividade em alta montanha. Roberta Nunes aceitou e viajou até Mendoza, na Argentina. Na região fez aclimatação realizando uma escalada na face frontal do Cerro Vallecitos (5.500 m). Após a aclimatação, subiu até o cume do Aconcágua (6.962 m) pela via normal.

Os anos de 2004 e 2005 foram de exploração de possibilidades para Roberta Nunes. viajou para Espanha e Chile, estabelecendo marcas que até hoje são consideradas um divisor de águas para qualquer montanhista. Participou em 2004 da primeira cordada feminina na região de Cochamó, no Chile.

Últimos anos

Roberta Nunes

Roberta Nunes

Roberta Nunes volta a Yosemite em 2005 para mais uma temporada de escaladas. Fazendo cordada com Sean Leary tornou-se a primeira mulher sul-americana a escalar o El Capitán (Roberta escalou a via “Lurking Fear”) em menos de 24 horas.

Roberta volta à Patagônia em 2006 para realizar uma primeira ascensão 100% brasileira no Fitz Roy. Mas tempo ruim inviabilizou o ataque ao cume e a tentativa de escalada.

No meio do ano, Roberta Nunes volta aos EUA para mais escaladas. Porém uma fatalidade atrapalhou seus sonhos: nod ia 18 de julho, em uma terça-feira à noite, morre em um acidente de carro nos EUA. Roberta voltava dirigindo para a casa em que estava hospedada após realizar uma escalada de treinamento no Parque Nacional de Yosemite. O acidente aconteceu dentro do Parque.

Sean Leary levou as cinzas de Roberta Nunes para o Brasil, algum tempo depois do acidente, e as lançaram do cume do Morro do Anhangava.

There is one comment

  1. Alexandre S.

    O maior feito por esta extraordinária escaladora talvez tenha sido na Groelândia. Roberta Nunes e a aragonesa Cecília Buil, fizeram história ao abrirem a maior via já realizada por mulheres. No ameno verão da Groelândia, tendo como testemunha apenas o sol, o mar gelado e a câmera do diretor espanhol Jesus Bosque, duas mulheres escalaram os mais de mil metros da parede de granito conhecida como Thumbnail para chegar ao cume do Maujit Gorgassassia, com seus 1.620m de altura. Hidrofilia, o documentário filmado na ocasião por Jesus Bosque, foi lançado no ano seguinte e vem ganhando aplausos mundiais. Venceu festivais de cinema na Espanha e na França e foi selecionado para mostras na Inglaterra e na Itália. Hidrofilia conseguiu ainda entrar para o circuito internacional de 2005 do Banff Mountain Film Festival (www.banffcentre.ca/mountainculture/festivals/schedule/highlights), do Canadá, o maior festival de filmes de montanhismo do mundo, apresentado em diversos países.

    A curitibana Roberta Nunes e a aragonesa Cecília Buil, ambas com 32 anos, abriram a via em estilo alpino, “o mais bonito e ético”, segundo Roberta, usando o mínimo de equipamento e tentando ao máximo deixar a rocha intocada. “Não batemos nenhuma chapeleta (plaqueta metálica que é fixada na pedra, pela qual se prende um mosquetão para a fixação da corda de segurança) e não fixamos cordas. Para montar a maioria dos rapéis que fizemos na descida, prendemos a corda em grandes blocos de pedra. Foi a aventura mais intensa de que já participei”, conta Roberta. O Thumbnail é a maior falésia marinha do planeta. Para chegar até ali, Roberta e Cecília precisaram fazer uma travessia de 85 quilômetros em caiaques individuais, saindo do povoado de Nanorthalik, no sul da Groelândia. “A proposta era surreal, fiquei assustada no começo”, admite Roberta. “Mas foi uma fábula. Cruzamos com focas e baleias, bem de perto, e completamos a travessia em três dias”. Uma vez no acampamento base, Roberta e Cecília passaram três dias estudando o paredão com a luneta. A única informação que tinham era dos ingleses que haviam aberto uma via ali três anos antes. “Acabamos decidindo por uma linha independente, que dava acesso ao ponto mais alto, a torre Maujit Gorgassiana, cerca de 200 metros acima do Thumbnail”. A via chama-se Hidrofilia, Via Hidrofilia, VI, 1620 m., 6c+/7a, A2+. 31 enfiadas.

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