A história do fogareiro de camping

Não existe nenhum praticante de atividades de natureza que não tenha usado um fogareiro alguma vez na vida. O equipamento é quase obrigatório na mochila de toda pessoa que deseja cozinhar algo rápido na natureza.

No mercado existem vários modelos, desde os mais simples e baratos, até os sofisticados e caros. Entre um modelo e outro o determinante para a escolha é: tipo de comida a ser preparada, local de uso e facilidade de manuseio. O tema já foi abordado com profundidade e detalhes no premiado artigo “Como escolher um fogareiro”.

Entretanto, a história de como este equipamento foi criado e se desenvolveu ao longo do tempo não é divulgado em língua portuguesa, tampouco é disponibilizado em literatura de montanha no Brasil. Desde a invenção do fogareiro portátil no século XIX, uma grande variedade de designs e modelos foram usados ​​em várias aplicações diferentes.

Primeiro existia o Shichirin

Fogareiro

O shichirin (Nos EUA são conhecidos como “hibachi”ou “estilo hibachi “) é um pequeno forno grelhador movido a carvão. Este pode ser considerado o avô de todos os fogareiros no mundo e das churrasqueiras também. O equipamento era uma forma acessível à população de baixa renda de cozinhar uma refeição, porque a quantidade de carvão necessária para cada uso custava pouco.

Originalmente usado pelos militares Samurais, aristocratas e cidadãos de classe alta do Japão durante o período Edo (período da história do Japão entre os anos de 1603 a 1868), o shichirin é um dispositivo de aquecimento tradicional onde seu uso ao longo do tempo e gradualmente se espalhou entre o público em geral, tornando-se parte integrante da famosa cultura japonesa da cerimônia do chá.

Alexis Soyer o pai do fogareiro moderno

Fogareiro

Alexis Soyer

A Revolução Industrial foi o processo que levou à substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico (ou artesanal) pelo sistema fabril. O processo estimulou o desenvolvimento das cidades, que tiveram que se adaptar ao grande contingente de pessoas que migrava do meio rural em busca de emprego nas fábricas

Como todo equipamento moderno, o desenvolvimento dos fogareiros tal qual como conhecemos hoje foi graças à Revolução Industrial. Os modelos mais modernos de fogareiros surgiram em meados do século XIX e é creditado ao chef de cozinha francês Alexis Benoît Soyer, o cozinheiro mais famoso da Inglaterra vitoriana.

Ao francês, inclusive, é dado o nome de “inventor do fogareiro moderno”. Começando como aprendiz, aos 11 anos, tornou-se chef aos 17, mostrando grande aptidão para a cozinha.

Alexis Soyer deixou Paris em 1830 para, aos 20 anos, servir a Adolphus Guelph, o Duque de Cambridge, e se tornou o chef de cozinha do Reform Club (um clube privado na Inglaterra). Em 1847, Soyer recebeu uma nomeação do governo para ir para a Irlanda, que então estava sofrendo com a fome de sua população. Lá ele construiu várias cozinhas e serviu comida por cerca de metade do custo normal.

Fogareiro

Fogareiro Soyer

Alexis inventou condimentos e molhos, inúmeros utensílios de cozinha e vários tipos de fogão. Ele instituiu muitas inovações, incluindo cozinhar com gás, geladeiras por água fria e fornos com temperaturas ajustáveis. De 1851 a 1858, Alexis dedicou-se a suas invenções e produtos. Ele foi o primeiro a experimentar vender caldos prontos para usar e, principalmente, foi o idealizador da modernização das cozinhas do exército britânico.

No ano de 1849, Soyer começou a comercializar seu “fogão mágico” portátil, que permitia que as pessoas preparassem alimentos onde quer que estivessem. O projeto do equipamento foi baseado no mesmo princípio de uma lamparina de querosene: um pavio é usado para ‘puxar’ o combustível de um tanque ou reservatório para um queimador.

Durante a Guerra da Criméia, conflito que se estendeu de 1853 a 1856, na península da Crimeia (no sul da Rússia e nos Bálcãs), Soyer juntou-se às tropas às suas próprias custas para aconselhar o exército sobre culinária. Mais tarde, o francês recebeu suas despesas e salários equivalentes aos de um militar de alta patente.

Alexis Soyer projetou seu próprio fogareiro, o Fogareiro Soyer, e treinou e instalou em cada regimento o “cozinheiro regimental” para que os soldados tivessem uma refeição adequada e não sofressem de desnutrição ou morressem de intoxicação alimentar. Seu fogareiro, ou adaptações dele, permaneceram no serviço militar britânico até o final do século XX.

Frans Wilhelm Lindqvist e o fogareiro Primus

Fogareiro

O primeiro fogareiro Primus

Frans Wilhelm Lindqvist foi um inventor sueco e projetou o primeiro fogareiro a querosene sem fuligem e operado por ar comprimido. Inspirado por um colega de trabalho, ele e seu irmão começaram a projetar um novo tipo de queimador para fogões a querosene. Ao vaporizar o querosene antes que ele alcançasse o queimador, sua construção teve uma chama quente sem fuligem, sem fumaça.

Lindqvist começou a vender seu fogão em pequena escala, mas o negócio logo cresceu. O inventor sueco abriu uma empresa, a Primus, para fabricar e vender fogareiro. Na década de 1910, mais de meio milhão de fogareiros eram fabricados anualmente.

Depois que a Primus começou a produzir seus fogareiros, Carl Richard Nyberg, também sueco, decidiu fazer fogareiros a óleo de parafina e querosene. O primeiro modelo, chamado Viktoria, não teve muito sucesso, mas o último Svea 123 se saiu melhor. Nyberg tinha como principal cliente a Rússia e logo produziu 3.000 por semana.

O uso de fogareiros portáteis leves para acampar tornou-se comum na Grã-Bretanha e na Europa na segunda metade do século XIX. prática ganhou aceitação mais tarde na América do Norte e coincidiu com o aumento da conscientização sobre o impacto ambiental que os mochileiros tinham nas áreas para onde viajavam.

Francis Fox Tuckett e a espiriteira

fogareiroO montanhista inglês Francis Fox Tuckett foi vice-presidente do Alpine Club da Inglaterra em 1866 e uma das principais figuras da Idade de Ouro do alpinismo, fazendo a escalada de 269 picos e a travessia de 687 passagens.

O inglês foi também um incansável inventor de equipamentos. Já em 1861, Tuckett testou um protótipo de saco de dormir. Foi ele próprio que acreditava no uso de plumas de ganso para roupas outdoor.

Na década de 1850, Francis Fox Tuckett desenvolveu um fogão a álcool para campistas e montanhistas conhecido como “fornalha russa”. O fogareiro e o kit de cozimento integral de Tuckett foram projetados para pendurar em uma corda no interior de uma barraca.

Por muitos anos, fogões a álcool foram usados ​​em barcos à vela, em vez de fogões a querosene por razões de segurança.

O uso de fogões a álcool de queimador único para acampar se popularizaram em 1919.

G.I. pocket stove

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Durante a Segunda Guerra Mundial , o governo dos EUA encarregou a Coleman Company de desenvolver um fogareiro compacto para uso militar. O equipamento tinha que ser leve, não maior do que uma garrafa térmica , queimar qualquer tipo de combustível, e operar em clima de -51 a +51° C.

Dentro de 60 dias, Coleman criou o que se tornou o GI Pocket Stove. Designado seu modelo 520 Coleman Military Burner, e referido pelo Army Quartermaster Corps como o M1941 Stove,. O equipamento entrou em serviço pela primeira vez em novembro de 1942, quando 5.000 fogareiros acompanharam as forças dos EUA durante a invasão do Norte da África .

Mais de 1 milhão de fogareiros foram produzidos para uso na guerra. No final da guerra, a Coleman começou a produção de uma versão civil do Modelo 520, designado Modelo 530 e anunciado como “G.I. pocket stove” e foi fabricado apenas entre 1946 e 1949.

O G.I. pocket stove possuía 20 cm de altura e 10 cm de diâmetro e pesava aproximadamente de um quilo. O equipamento foi projetado para queimar gasolina de automóveis com ou sem chumbo (às vezes chamada de “gasolina branca”).

Fogareiro a gás

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Fogareiro portátil de Lafare

A produção do réchaud de gaz de dirigeant (fogareiro portátil a gás) foi encomendada e iniciada na oficina do designer industrial Jue Lafare em 1932, depois que ele apresentou seu projeto de um fogão portátil a gás ao Exército francês dois anos e meio antes.

Em 1934, o fogareiro portátil de Lafare estava nas fileiras de oficiais e nos meses seguintes se tornaria um equipamento de todos os oficiais do exército francês. Devido ao medo de uso indevido por soldados, o exército solicitou que todos os escritos de instrução fossem colocados nos fogões em inglês, já que apenas os oficiais sabiam este idioma.

A maioria dos fogões projetados por Lafare foram derretidos em sucata quando os alemães invadiram a França em 1940. No entanto, a ideia do fogareiro de Jeu Lafare foi adaptada de várias formas ao redor do mundo durante a Segunda Guerra Mundial.

O cilindro de gás atual é um modelo militar alemão posterior aos anos 1940.

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