Janja Garnbret: Por que o ouro da escalada é um marco para o esporte?

Quem acompanha a escalada esportiva, ficou pouco surpreso com qualquer manchete que destaque, mais ou menos empolgada, que a eslovena Janja Garnbret ganhou ouro nas Olimpíadas de Tóquio. Garnbret é uma das maiores, senão a maior, atleta de competição da história da escalada esportiva.

Tida como grande favorita, principalmente por ser bicampeã mundial em 2018 e 2019 e ser especialista em competições de vias guiadas e bouldering, entrou na competição como o fantasma da escalada de velocidade e terminar em quinto lugar na classificação geral nas classificatórias.

Janja Garnbret

Para alívio da Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC), a escalada de velocidade não deixou de fora do pódio as melhores atletas, assim como o fez no masculino. Uma das justificativas para atrair audiência, que era ter os principais nomes do esporte competindo, faz com que a audiência se interesse mais pela transmissão.

Uma boa demonstração disso foi vivenciada pela equipe da Revista Blog de Escalada, que providenciou um ‘streaming alternativo’ para que o público pudesse acompanhar com cometários e narrações de quem realmente entende do esporte. Durante a transmissão, no momento de Janja Garnbret escalar, haviam próximo de 1.000 pessoas assistindo em simultâneo.

Mas não é somente por audiência que a vitória de Janja Garnbret é um marco. Existem vários outros escondidos e também pouco comentados. A atleta já é tratada como heroína em seu país, ganhando a terceira medalha de ouro da Eslovênia nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Janja Garnbret

A Eslovênia conquistou três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, um recorde de medalhas de ouro olímpicas para o país, que também garantiu uma medalha de prata e uma de bronze.

A agora medalhista olímpica Janja Garnbret carregou a bandeira eslovena no evento de encerramento dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 no domingo, já que era a única dos medalhistas eslovenos que ainda estava em Tóquio. A Eslovênia ocupou o sétimo lugar em termos de medalhas per capita, sendo uma medalha de ouro por 692.979 habitantes.

Os atletas medalhistas da Eslovênia, não apenas terão uma recepção na Praça do Congresso esloveno, mas também no Ministério dos Esportes. Lembrando que a Eslovênia ganhou quase metade do número de medalhas de ouro que o Brasil.

História: a primeira campeã olímpica de escalada esportiva

Janja Garnbret já estava acostumada a ser premiada com medalhas em território japonês. No Campeonato Mundial de Hachioji de 2019, ela conquistou três: no bouldering, nas vias guiadas e no combinado.

Mas Tóquio 2020 foi uma competição muito diferente, porque a pressão para fazer história e ser a primeira mulher a pendurar a medalha de ouro olímpica em escalada pesava, e muito. Além disso, nenhuma mulher eslovena tinha ganho uma medalha de ouro (confira o vídeo da comemoração dos eslovenos nas ruas com sua medalha) antes dessa Olimpíada..

A eslovena conseguiu vencer e, segundo os especialistas, é a atleta que mais combina elasticidade, força física e equilíbrio mental. Nos Jogos Olímpicos, a eslovena demonstrou porque é a melhor do mundo neste esporte, tanto que parecia que era de outro planeta, pela forma convincente que derrotou todos as rivais

A grande diferença de pontuação em relação ao restante das escaladoras tornou evidente sua superioridade: Janja Garnbret fechou a participação com um total de 5 pontos, à frente dos 45 de Nonaka e de 64 de Noguchi.

Com lágrimas de felicidade nos olhos, Garnbret se colocou diante da câmera e do jornalista da RTV e disse que ainda não entendia totalmente o que tinha conseguido realizar. “Eu não posso te dizer como é a pressão para sair do meu coração. Foi difícil ter me destacado nas três disciplinas. Não sei como consegui tudo junto, mas consegui ”, completou a campeã.

Janja disse que enquanto esperava no sofá reservado das que já tinham competido, quando acompanhava as competidoras, não pensava muito e apenas observava a escalada e esperava o fim. Quando recebeu a medalha, disse que não imaginava que fosse tão difícil.

“Foi a disputa mais difícil da minha carreira. A pressão olímpica é algo completamente diferente. Eu não sabia quanto peso carregava nos ombros. É difícil ser tão controlada”, disse Garnbret, explicando por que não queria prometer nada antes de ir para as Olimpíadas. “Não me atrevi a prometer nada porque é uma combinação em que o último competidor pode misturar praticamente qualquer coisa”.

Janja Garnbret pensou que a sul-coreana Chehjun Seo iria vencê-la na disciplina final, mas a realidade não foi bem assim. Quando Miho Nonaka terminou sua apresentação mais cedo do que esperado, a comemoração pôde começar.

“Eu chorei um pouco no meio, mas disse a mim mesma, vamos lá, acalme-se, ainda não acabou. Também foi um respeito ter a última competidora escalando, e depois demonstrar alegria” disse a eslovena ao veículo dnevnik.si.

“Janja Garnbret é a melhor escaladora esportiva do mundo porque é incrivelmente talentosa, mas há muitos outros talentosos na Copa do Mundo, então ela tem algo mais. Trabalha. Ela faz tudo e mais, mas também é mentalmente forte”, disse o escalador Gregor Vezonik, que a treina desde 2019, ao veículo esloveno siol.net.

A obstinação de Janja Garnbret

Janja Garnbret

Por definição, obstinação é apego forte e excessivo às próprias ideias, resoluções e empreendimentos. Precisa de exemplos desse espírito em Janja Garnbret ?

A campeã olímpica dirige até quatro horas por dia para treinar, devido à falta de instalações adequadas na cidade que mora na Eslovênia. Além desses treinos à distância, a jovem de 22 anos faz ginástica ao terminar a programação de treinamentos.

Sim, você leu certo, a estrutura de escalada na Eslovênia é inferior quando comparada a países do continente como Áustria, Alemanha, Espanha e Itália. A falta estrutura de escalada é compensada com metodologia e rotina de treinamentos estabelecida por seu treinador Roman Krajnik.

Superação constante

Janja Garnbret

Foto: Dimitris Tosidis/IFSC

Uma das coisas que diz muito sobre Janja Garnbret, é que dentro de seu Instagram, além de destacar as últimas competições em que participou, ela também possui uma seção sobre falhas e erros.

É algo que demonstra como muitos atletas pensam em fazer para melhorar e também ensina ao mundo dizendo que todo mundo comete erros.

Garnbret não tem vergonha e reconhece que todos erram. A capacidade de superar isso e de ver as próprias dificuldades, os próprios erros e fracassos que possui, a torna uma atleta muito mais completa.

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