Muitos sabem o que é bouldering, mas mesmo perto da escalada esportiva estrear nas Olimpíadas, pouco se explicou sobre as regras da disciplina. A começar pelo nome bouldering e pelo estilo implementado na competição se diferenciar muito do que é encontrado na escalada em rocha, há muita confusão ao se explicar a prática.
Portanto, se você, caro (a) leitor (a), ainda não sabe o que é bouldering e acredita que a escalada em boulder na rocha são duas coisa diferentes, este artigo foi feito para acabar com suas dúvidas. A história da prática de escalada em boulder está detalhada em um outro artigo, detalhando de forma mais completa e aborda sobre os criadores e os principais nomes que desenvolveram o esporte.
Origem do nome bouldering
Praticado desde o início do século XX, a escalada grandes volumes de rocha, que tem média de 3 a 5 metros de. Este pedaço de rocha em inglês chamam-se boulder.
Há quem afirme que em português este grande volume de rocha seria ‘matacão’, porém os matacões, de acordo com a NBR 6502 – Rochas e Solos, possuem tamanho que pode variar de 20 cm a 1 metro. Portanto, de acordo com a ABNT, não é possível um matação ser um boulder.
Na prática da engenharia, os matacões podem apresentar tamanhos de até vários metros. Mas na literatura técnica de engenharia, os afloramentos de granitos, que são comuns em clima tropical, são chamados de ‘Mar de Boulders‘.
Portanto o ato de praticar a escalada em boulders (grandes volumes de rocha) é chamado, em inglês, de bouldering. No Brasil convencionou-se que a prática de escalada em grandes volumes de rocha chama-se apenas boulder.
Por convenção, este artigo irá se referir à prática de escalada em boulder, como bouldering para facilitar o entendimento de quem quer aprender mais sobre a modalidade.
Bouldering na olimpíada
Foto: IFSC/Eddie Fowke
Nas competições de bouldering os competidores tentam “linhas de boulder” sem corda em paredes mais curtas, geralmente de 3 a 5 metros. A ênfase está na dificuldade física com movimentos ginásticos e de equilíbrio. As linhas apresentam sequências novas, únicas e desconhecidas para os escaladores.
Há quem diga que o grande segredo de um competidor de bouldering seja sua capacidade de imaginar que movimento é necessário para decifrar a linha e chegar ao topo. Uma espécie de xadrez em termos de movimento, e a capacidade de cada escalador conseguir fazer.
A parede olímpica de bouldering em Tóquio tem 4 metros e possuem inclinação acentuada em muitos ângulos pendentes, um canto voltado para dentro e uma enorme proa pontiaguda que se projeta para a direita.
Na competição de bouldering, há quatro linhas de percurso (às vezes chamadas de vias, blocos ou problemas), sendo cada uma para a categoria masculina e outras para a categoria feminina. Os competidores possuem quatro minutos por tentativa para chegar no topo com o menor número de tentativas possível.
Foto: IFSC/Eddie Fowke
As rodadas de qualificação normalmente têm 5 linhas e a semifinal e a final têm 4 cada.
O objetivo é alcançar o topo e demonstrar controle com as duas mãos. A pontuação (que será explicada mais adiante nesse artigo) varia de acordo com o que conseguirem fazer: atingir o topo, alcançar uma parada intermediária (chamada de ‘zona’, mas em um passado recente chamava-se ‘agarras bônus’) e números de tentativas totais (para chegar na zona e sair dela).
O vencedor é a pessoa com mais “tops” nas quatro linhas propostas pelos route setters (equipe de pessoas que elaboram a dificuldade e o percurso a ser escalado). Se houver empate, a quantidade de zonas (parada intermediária) será usada.
Se persistir o empate, então o (a) escalador (a) com o menor número de tentativas vence. Essa regra levou a uma tática em que os escaladores podem decidir que seria melhor parar de tentar uma linha de percurso na parede para economizar energia para a próxima.
Entendendo o sistema de pontuação
A pontuação de bouldering é um pouco confusa e complexa à primeira vista. As competições de bouldering debatem muito a respeito do que seria “justo” ou “injusto” sobre o sistema de pontuação.
Basicamente, pelo sistema atual, somente é levado em conta o número de topos e o número de zonas alcançadas por cada escalador (a). O número de tentativas, totais e somente para chegar na zona, serve apenas como critério de desempate.
Os (a) escaladores (as), que estão em isolamento, participam em rodadas: O (a) primeiro escalador (a) da fila escala a primeira linha e tem 4 minutos para isso. Caso o (a) atleta consiga chegar ao topo ou se esgotar os 4 minutos, volta para o isolamento.
Após o seguinte escalador terminar suas tentativas e voltar ao isolamento, o escalador que estava anterior a este volta ao muro para escalar a linha seguinte.
Uma zona é considerada “controlada” se o competidor completou a linha ou usou a agarra da zona para alcançar uma posição estável. O top é considerado “controlado” se o participante alcançar com ambas as mãos e segurar por 3 segundos até que o juiz dê o “OK”.
Valentina Aguado em Meirigen | Foto: René Oberkirch
Após cada rodada da competição, cada competidor (a) participante dessa rodada será classificado dentro de sua categoria usando os seguintes critérios:
- O número de linhas concluídas com sucesso (“TOPS”) – Quanto maior melhor
- O número total zona ganhos pelo competidor – Quanto maior melhor
- O número total de tentativas – Quanto menor melhor
- O número total de tentativas para atingir esses pontos de zona – Quanto menor melhor
O (a) competidor (a) possui a melhor pontuação quando apresenta:
- O maior número de top “controlados”
- O menor número de tentativas
A pontuação por zona é usada no caso de empate entre dois competidores (ou seja, quando têm a mesma pontuação máxima).
- O maior número de zonas “controladas”
- O menor número de tentativas de chegar na zona
Resumindo:
- Se um (a) escalador (a) escala todas as linhas perfeitamente: 4T 4Z 4 4 e ficaria em primeiro
- Se um (a) escalador (a) realiza 8 tentativas no total e chega a 4 topos: 4T 4Z 8 8 e ficaria em segundo
- Se um (a) escalador (a) realiza 10 tentativas, mas somente chega a três zonas e nenhum topo: 0T 3Z 0 10
- Se um escalador faz 10 tentativas e consegue chegar apenas em uma zona: 0T 1Z 0 10
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.