O que é verdade e o que é boato sobre os brasileiros desaparecidos no Fitz Roy

As buscas pelos brasileiros Leandro Ianotta e Fabrício Amaral, que estão desaparecidos na Patagônia há mais de 10 dias, levantou muitas informações erradas que circularam na última semana. A coordenadora de operações de resgate da Comisión de Auxilio de El Chaltén, Carolina Codó, que vive há mais de 26 anos na região, tem sido muito prestativa e paciente em esclarecer a situação sobre montanhistas brasileiros a toda imprensa, seja ela especializada ou não. No domingo, uma rede de televisão brasileira, com repórteres no local, fez uma reportagem especial na qual entrevistou pessoas envolvidas no resgate e dia a dia de escaladas na região. Carolina Codó foi uma das entrevistadas.

Desde o início das buscas, a redação da Revista Blog de Escalada sempre buscou por fontes oficiais, divulgando, inclusive, os áudios das declarações cedidas. Entretanto, alguns jornais regionais e revistas, tanto no Brasil quanto no exterior, publicaram informações baseadas em fontes oficiosas e acabaram por divulgar informações erradas, desinformando o público. Após conversas com Carolina Codó e outras autoridades locais, abaixo está listado tudo o que oficialmente se sabe sobre o resgate dos brasileiros.

Os corpos foram encontrados? FALSO

Desde o início das buscas realizadas por montanhistas voluntários e participantes da Comisión de Auxilio de El Chaltén, não foi encontrado nenhum corpo. Entretanto, as próprias autoridades admitem que não há qualquer possibilidade de encontrá-los com vida.

A declaração foi feita diretamente pela coordenadora de operações de resgate da Comisión de Auxilio de ElChaltén. Quando questionada de que os resgatistas poderiam não ter lhe informado alguma informação deste tipo, Carolina negou a possibilidade de que aconteça desencontro de comunicações entre a equipe de operações de resgate e ela.

Atualmente, tanto pelas autoridades do Governo Argentino, quanto pela equipe de resgate, Leandro Ianotta e Fabrício Amaral estão declarados desaparecidos. Por terem sido declarados desaparecidos, o fato verdadeiro é que seus corpos não foram de fato encontrados. O que existe de concreto a respeito da localização dos corpos, é a visualização de um objeto inerte em um local do Fit Roy que pode ser, ou não, os montanhistas brasileiros. Porém, esta é apenas uma hipótese e qualquer afirmação além disso, é mera especulação.

As buscas foram canceladas? FALSO

Ao contrário do que foi divulgado largamente em redes sociais, e até mesmo por sites, jornais e revistas, o resgate da dupla de brasileiros está suspenso, mas não cancelado. A esperança é de que quando houver uma janela de tempo favorável, os montanhistas sejam localizados.

Os objetivos da equipe de resgate, caso sejam localizados por algum escalador ou mesmo em buscas, é que sejam retirados de onde se encontram. Como a dupla se acidentou em uma região de trânsito, no qual passam vários escaladores, quando o tempo melhorar espera-se que ambos sejam encontrados, devidamente retirados e entregues às autoridades locais. A retomada dos resgates depende da abertura de janelas de bom tempo.

Montanhistas saíram como tempo ruim? EM TERMOS

De acordo com declaração por voz de Carolina Codó no dia de ontem (escute o áudio no topo do artigo) à rádio FM Dimensión de El Calafate, os escaladores apenas demoraram a fazer o ataque ao cume, na janela de bom tempo que fazia. De acordo com os relatos de escaladores que estavam na região, Leandro Ianotta e Fabrício Amaral levaram muito tempo para iniciar a escalada, que leva alguns dias para ser completada, arriscando a enfrentarem uma mudança repentina no tempo.

A Patagônia, em especial El Chaltén, é mundialmente conhecido pelas mudanças repentinas de tempo. Portanto, para ir praticar montanhismo na região é mandatório que não se arrisque, mesmo confiando na sorte, especulando sobre as mudanças de clima. Todo erro de interpretação e logística no Fitz Roy custa a vida do montanhista.

Codó em sua declaração no rádio (escute o áudio no topo do artigo) declarou que “o principal erro que cometeram foi que saíram muito tarde para escalar, e a janela de bom tempo durou apenas três dias. Eles estavam no Paso Superior desde terça-feira e saíram para escalar no último dia”. “Todo mundo sabia que na sexta-feira à tarde começaria a mudar o clima. Inclusive, quando todas as expedições estavam baixando do cume, eles continuaram escalando”, completou Codó.

É a temporada com maior número de acidentes? VERDADE

A temporada de 2018/2019, que até o momento registrou 4 óbitos, é, na opinião de Carolina Codó, a temporada com maior número de acidentes em tão pouco tempo, desde que atua na região. Codó lamentou que vive 26 anos na região e “nunca tivemos este número de falecimentos num período tão curto”. Nas declarações em áudio (escute o áudio no topo do artigo), Carolina Codó afirmou ainda que “as pessoas estão indo à montanha com pouca experiência e preparação adequada”.

“Uma coisa é a escalada esportiva e outra é planificar uma ascensão em El Chaltén. Por mais que fisicamente sejam fortes os escaladores, na Patagônia é 50% de psicológico, o que exige ter estratégia e planejamento previamente elaborados. Talvez a vontade de chegar ao cume esteja minimizando o risco”, completou Carolina Codó.

Completando sua entrevista à rádio FM Dimensión de El Calafate, Carolina Codó explicitou preocupação com o número crescente de acidentes e afirmou que “a Comissão de Socorro terá de fazer alguma campanha de prevenção de acidentes, para difundir entre os escaladores que o que é a montanha na Patagônia e todos os riscos que ela possui, para que as pessoas avaliem se estão em condições de enfrentar”.

Quantos acidentes com óbito aconteceram na temporada 2018/2019? QUATRO

Até o momento, quatro acidentes aconteceram na temporada 2018/2019 em El Chaltén. O primeiro óbito foi do argentino Ignacio Mejean, que morreu no final de 2018, enquanto fazia uma escalada no Cerro Solo. O corpo de Mejean não foi resgatado, mas a Comisión de Auxilio de El Chaltén planeja resgatá-lo com o auxílio de pessoas da Gendarmaria (equivalente à polícia militar da Argentina). Estuda-se também que profissionais do parque cubram o corpo de Ingacio com pedras para dar-lhe uma sepultura.

O segundo óbito foi do escalador tcheco Thomas Kudrna, que morreu de hipotermia quando errou o caminho de volta, após descer do Fitz Roy. O corpo de Thomas também não foi retirado do local encontrado.

O terceiro e quarto óbito foram os brasileiros Leandro Ianotta e Fabrício Amaral.

Informações erradas foram divulgadas? SIM

Como informado extensivamente pela Revista Blog de Escalada, existiram dois tipos de informações que circularam desde o anúncio do desaparecimento. As oficiais, que são as autoridades locais e envolvidos efetivamente no resgate, e as baseadas em fontes não oficiais (que muitas vezes sequer são verdades, mas boatos e hipóteses opinativas). Alguns veículos de comunicação do Brasil e do exterior, se omitiram em buscar fontes oficiais e apoiaram-se em fontes oficiosas, hipóteses opinativas e declarações desconexas de escaladores que sequer estavam em El Chaltén.

Por ignorar declarações oficiais e de fontes fidedignas, veículos de mídia, que tinham a obrigação de checar os fatos e obter declarações oficiais, acabaram publicando informações erradas. Todos estes, inclusive, sequer conversaram com a Dra. Carolina Codó coordenadora dos rescates de la Comisión de Auxilio. Todos os meios de comunicação da região (jornais, rádio e televisão) de El Chaltén, assim como a província a qual se encontra, consideram Codó como a informação oficial a respeito de resgates na região.

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