Asfixia na barraca: Como o monóxido de carbono pode matar em um camping

Ao comprar uma barraca, umas das instruções que existe (mas poucos as leem) é a de que não se deve cozinhar em seu interior. Quem não possui muito conhecimento acredita que é para não incendiar a barraca e sacos de dormir. Mas a proibição é por um outro motivo: o monóxido de carbono (CO) liberado pelos fogareiros.

É de conhecimento geral que a barraca deve estar sempre aberta durante o uso do fogareiro (o que muitas vezes é ignorado), mesmo que se esteja preparando algo no avanço da barraca. Se estiver muito frio ou ventoso, os montanhistas puxam o zíper da barraca até o fim para se proteger, mas ignoram o risco de envenenamento por monóxido de carbono.

O corpo de bombeiros declaram que Nunca ligue o motor do carro dentro de uma garagem fechada, pois o monóxido de carbono pode concentrar-se rapidamente. Também é recomendado pelo mesmo corpo de bombeiros que não se utilize o forno a gás para aquecer sua casa (ainda que por pouco tempo) e não use equipamentos (motores a combustão) que queimam combustível em ambientes fechados.

À luz da razão, o fogareiro entra nesse conjunto de recomendações, ainda mais que em uma barraca não há muitas saídas de ar eficientes para dissipar o monóxido de carbono. Para prevenir a intoxicação por monóxido de carbono, é necessário garantir a ventilação adequada do ambiente em que o fogareiro está sendo usado, por isso que ele DEVE ser usado somente no avanço e preferencialmente com o zíper de acesso parcialmente aberto.

Monóxido de carbono?

Produzido pela queima em condições de pouco oxigênio e/ou alta temperatura de carvão ou outros materiais ricos em carbono, como derivados de petróleo, por exemplo, pelos motores dos veículos e fogareiros (sim, o fogareiro usa GLP), o monóxido de carbono é um tipo de gás tóxico que não tem qualquer cheiro ou sabor.

Por ser inodoro (não possui cheiro) quando é liberado no ambiente, pode causar uma intoxicação grave e sem qualquer aviso, podendo levar à morte por asfixia. Com ele passa despercebido é justamente por isso que é tão perigoso.

Ocorre quando substâncias carbonáceas queimam incompletamente com suprimento insuficiente de oxigênio. Por exemplo, ao cozinhar em barracas mal ventiladas ou cavernas de neve. Principalmente em locais com muito frio e neve, há ocorrências de intoxicação e morte por asfixia em decorrências do monóxido de carbono.

Entretanto, sobretudo em locais que reúne campistas inexperientes, como o Pico dos Marins, em São Paulo, que para se protegerem do vento e chuva se trancam em suas barracas (muitas vezes de qualidade duvidosa) e cozinham para se alimentarem. Uma prática bastante comum e que explicita o descaso com sua própria segurança.

Como ocorre sufocamento na barraca

Ao se trancar na barraca, isolando o vento e chuva, para cozinhar acontece a intoxicação: o monóxido de carbono entra no sangue através dos pulmões e se liga à hemoglobina, o complexo proteico contendo ferro nos glóbulos vermelhos que é responsável pelo transporte de oxigênio. Como a afinidade do monóxido de carbono pela hemoglobina é duzentas a trezentas vezes maior que a do oxigênio, as hemácias o absorvem preferencialmente.

Como resultado, há menos hemoglobina disponível para o transporte de oxigênio, acarretando a falta de oxigênio nos órgãos e tecidos. Assim, as vítimas sufocam internamente, muitas vezes silenciosamente, sem ofegar ou sem ar.

Há agravantes? Sim, existe: em barracas com qualidade inferior, condensação é mais acentuada e, por isso, prejudicam a ventilação do teto impedindo a troca de ar. Como barracas de baixo custo não possuem um avanço, ou se possuem são pequenos, há quem opte por cozinhar no seu interior.

Ao fazer essa opção, está preparada as condições para uma tragédia. Ao cozinhar em um espaço fechado tão pequeno, a chama aberta do fogareiro consome parte do oxigênio e produz dióxido de carbono, que desloca o oxigênio. Além disso, há o consumo de oxigênio através da respiração dos ocupantes.

O gás queima cada vez mais de forma incompleta, a chama agora também produz monóxido de carbono. Se em algum momento não houver oxigênio suficiente disponível, a chama se apaga e o gás continua a escapar até que o cartucho esteja vazio.

Não se engane: estudos sugerem que um espaço mal ventilado pode ser ainda mais perigoso do que um que não seja ventilado. Uma barraca sem muitas opções de ventilação, que não permite renovação do oxigênio, são verdadeiras armadilhas para quem opta em cozinhar em seu interior.

Como evitar asfixia por monóxido de carbono

Ao contrário do que pregam pessoas que nunca acamparam, passar ‘perrengue’ não é sinônimo de acampar. Se acontecer algum apuro, ou ‘perrengue’, é porque o campista é ou inexperiente, ou negligente, ou irresponsável.

Portanto, para quem não quer que a prática de camping se transforme em tragédia, é importante atentar-se a alguns procedimentos de segurança.

  • Assegurar ventilação suficiente, abertura tipo janela recomendada de pelo menos 50 cm², uma abertura inferior ou lateral da barraca para renovar o suprimento de Oxigênio e uma superior para escape de CO é o ideal.
  • Ao usar o fogareiro por muito tempo, ventile-o ocasionalmente.
  • Baixo suprimento de ar pode ser mais prejudicial do que nenhuma ventilação (a chama simplesmente se apaga)
  • Cozinhe apenas em chama máxima e azul; se a chama estiver amarela, forneça mais suprimento de ar
  • Evitar fazer fervuras longas
  • Use potes com um diâmetro pequeno
  • Fique alerta o máximo possível, não durma quando o fogareiro estiver em funcionamento

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