Escaladora anuncia que possui síndrome RED-S e joga luz em problema pouco discutido no esporte

Nesta semana, a escaladora britânica Mina Leslie-Wujastyk anunciou que possui uma síndrome chamada deficiência de energia relativa no esporte (Relative Energy Deficiency in Sport RED-S), conhecido no Brasil como tríade da mulher atleta. O anúncio foi feito em um artigo no site britânico UK Climbing (UKC). Nele Mina declarou que “escalada e performance nem sempre são sinônimos”.

No artigo a escaladora, considerada das mais fortes de seu país, fala sobre a síndrome RED-S e de como os praticantes do esporte, especialmente as mulheres, devem se preocupar com ela.

Síndrome RED-S

 

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A deficiência de energia relativa no esporte (RED-S) é uma síndrome na qual estão presentes distúrbios alimentares (variedade de comportamentos alimentares anormais), amenorreia (ausência de um período menstrual em uma mulher em idade reprodutiva), oligomenorreia (menstruação com frequência anormal) e diminuição da densidade mineral óssea (osteoporose e osteopenia).

RED-S é um termo mais amplo e abrangente do que antes era conhecido como tríade da mulher atleta, uma síndrome que ocorre em adolescentes e mulheres fisicamente ativas. A tríade da mulher atleta é uma doença grave, com consequências para a saúde ao longo da vida e pode ser potencialmente fatal.

Em termos gerais, a grande causa desta síndrome é a ingestão de quantidade e qualidade insuficientes de alimentos para um alto gasto de energia diário. Além dos sintomas já citados, alguns dos sintomas no dia a dia da mulher atleta são:

  • Queda no desempenho físico
  • Maior cansaço no dia a dia
  • Fraqueza muscular
  • Desânimo e depressão

Caso a mulher não receba o tratamento adequado, ela pode ter dificuldade de engravidar, apresentar facilidade para fratura de ossos, doenças endócrinas e psicológicas. Este foi o caso de Mina Leslie-Wujastyk, uma escaladora de alto rendimento que começou a escalar aos 8 anos de idade quando morava na Índia, com seus pais.

Quando voltou para a Inglaterra começou a se aventurar nas rochas do local britânico conhecido como Peak District, e logo migrou para outros lugares como Portland e Fontainbleau. Logo Mina se destacou entre as escaladoras da Inglaterra e se tornou uma atleta de alto rendimento, obtendo vários patrocínios e reconhecimento nacional.

No seu texto, Leslie-Wujastyk afirma que “Na maioria dos dias, eu acordava cansada, como se fosse atropelada por um caminhão, mas depois de um café, ioga e bate-papo interno estava pronta para voltar a treinar”. Nele, a atleta confessa que somente neste ano, ao obter diploma de nutricionista, percebeu o quanto sua alimentação era deficitária e que prejudicava seu rendimento na escalada em rocha.

Mina declara que “Passei anos fazendo todo tipo de coisa, desde dietas com baixo teor de gordura ou baixo teor de carboidratos, até alto consumo de smoothies e restrição simples de calorias, a fim de obter uma leveza que provavelmente não era o que meu código genético havia planejado para mim”. “Com 170 cm, meu peso flutuou de 56 kg para 63 kg; uma constante conversa interna estava em jogo” completa.

A pílula anti-concepcional

Mesmo tendo equilibrado a sua alimentação ao longo dos anos, especialmente nos últimos meses, em setembro de 2019, fui diagnosticada com Amenorreia Hipotalâmica Funcional (AFH) causada pela RED-S. A doença caracteriza-se pela ausência de ciclos menstruais durante mais de 6 meses. A AFH pode estar associada à perda de peso abrupta, no contexto de distúrbios alimentares como a anorexia nervosa, ao exercício físico vigoroso e/ou ao estresse físico ou psíquico. Resumindo em termos mais simples: sem ovulação e sem período menstrual significa um estado atual de infertilidade que enfrenta Mina.

Ameaçadas junto à sua fertilidade estão a saúde óssea, cardiovascular, psicológica, metabólica e endócrina, bem como a função gastrointestinal e imunológica e, é claro, o seu desempenho atlético. Um equívoco comum e quem possui RED-S é que estar abaixo do peso, ou com um IMC baixo, é um pré-requisito definitivo para a condição de bom rendimento.

Leslie-Wujastyk afirmou categoricamente que “embora tomar a pílula anticoncepcional não tenha nenhum vínculo causal direto com a criação dessa condição,mas ela mascarou o sintoma mais óbvio nas mulheres”. Mina Leslie-Wujastyk termina seu texto com uma afirmação forte e que serve de conselho para muitas mulheres: “Incentivo fortemente a você considerar seriamente seus hábitos em relação a exercícios e alimentação e a ter uma visão de longo prazo sobre a sua saúde. A sensação de escalar bem é incrível, serei a primeira a dizer isso, mas não vale a pena perder sua saúde e é totalmente viável de uma maneira mais sustentável”.

Portanto, se você tem algum dos fatores de risco e quer realizar dietas e exercícios, procure o acompanhamento profissional de um nutricionista. Não aposte em dietas malucas ou mesmo em fórmulas já prontas. As mulheres que não são atletas de alto rendimento devem buscar o acompanhamento de um nutricionista para que a perda de peso seja balanceada. Já as atletas, o mais adequado é procurar, além de um nutricionista, um Médico do Esporte. Lembrando que todo tratamento deve ser feito de forma multidisciplinar, com médicos, nutricionistas, fisioterapeuta, preparador físico, psicólogo e psiquiatra, pois o tratamento é longo.

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