Tokenismo: A prática do esforço superficial que atrapalha os esportes outdoor

Você sabe o que é Tokenismo? Há muito tempo que na cultura brasileira existe o hábito de fazer algo de má vontade. O brasileiro, em geral, apoia-se excessivamente no modelo de pensamento político de Nicolau Maquiavel, o qual pregava que na sociedade moderna o que interessa é “parecer ser”. Dia a dia em nossa sociedade atuamos em um imenso palco, onde cada um representa seu papel.

Assim, o importante não é mais ser honesto, nem justo, mas “fazer um bom papel” e agir de acordo com o script, com aquilo que se espera ou aquilo que foi determinado em alguma planilha. É o popular “fazer por fazer”, sem ter a intenção de que a ação tenha significado.

Quem é mais leigo acredita que este tipo de comportamento é nada mais que uma simples hipocrisia, que é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. Um exemplo clássico de ato hipócrita é denunciar alguém por realizar alguma ação, enquanto realiza, ou realizava, a mesma ação (ato corriqueiro em redes sociais e grupos de WhatsApp).

Tokenismo

Há muito que todos reclamam (mas poucos falam abertamente) da total letargia e falta de interesse das marcas (nacionais e internacionais) na própria comunidade outdoor brasileira. As reclamações mais comuns e conhecidas são as de que não anunciam em nenhum veículo, fazem acordos promíscuos baseados em afinidades pessoais (mas não profissionais), não apoiam o esporte nem qualquer evento esportivo, e assim por diante.

Todas marcas e lojas que optam pelo pragmatismo, oferecendo “descontos” de 5% em promoções via redes sociais (mas reclamam que o público prefere comprar no exterior), entidades de classe que afirmam ser a favor da inclusão social (mas não promovem nenhuma ação para realizá-la), os praticantes de esportes que se dizem protetores e seguidores da ética (mas sequer possuem o hábito de respeitar os lugares que frequentam nem os outros praticantes) além de serem altamente hipócritas também praticam o Tokenismo cultural.

Tokenismo

Tokenismo

No filme “O Poderoso Chefão” há uma cena de que está sendo negociado um ato de corrupção, no qual o personagem Vito Corleone frisa para seu capanga que “mencione, mas não insista” quando for executar. Ou seja, faça, mas sem a intenção de que tenha vontade de que seja cumprido . Pois o nome deste tipo de atitude serve de boa metáfora para o Tokenismo.

Tokenismo é um conceito social que surge em meio a luta dos afrodescendentes pelos direitos civis nos EUA na década de 1950. Tecnicamente falando é a prática de fazer apenas um esforço superficial (ou simbólico) para ser inclusivo para membros de minorias. Uma espécie de greenwashing social, no qual agrupa-se um pequeno número de pessoas de grupos sub-representados para dar a aparência de igualdade racial ou sexual dentro de um grupo ou empresa.

Consiste em mascarar o racismo (ou machismo, ou homofobismo, ou inclusão social) promovendo uma inclusão que não segue a proporcionalidade na prática, assim esse pequeno grupo não representa o todo excluído, segregado e discriminado, mantendo assim as desigualdades nos mesmos índices em que se apresentam.

Tokenismo é uma forma de perpetuação das desigualdades raciais e de gênero, pela falsa representatividade nos espaços de decisão e poder. A verdadeira inclusão exige movimento em ambos os lados: pessoas pertencentes às minorias desenvolvendo suas habilidades de liderança e marcas outdoor dando-lhes a oportunidade.

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Muitas marcas (nacionais e internacionais) publicam expressões simbólicas de diversidade: anúncios em veículos de comunicação, vídeos em canais de YouTube e perfis de atletas em redes sociais. Algumas ainda convidam pessoas de grupos marginalizados para falar em painéis de discussão em eventos

Mas isso por si só não traz mais pessoas para o universo outdoor. Fazer isso requer mais do que apenas mostrar rostos destas pessoas nas redes sociais. Para evitar o tokenismo, o setor outdoor precisa realmente recrutar e contratar pessoas pertencentes a estas minorias em todos os tipos de funções.

O tokenismo acontece quando as empresas e os organizadores de eventos não fazem o suficiente para promover a contratação de candidatos recém-qualificados (como postar empregos em lugares onde as minorias provavelmente os verão) ou limitam suas iniciativas de diversidade à contratação sem olhar para o quadro geral.

Frequentemente, as empresas usam a desculpa de que não conseguem encontrar candidatos qualificados, mas isso geralmente ocorre porque não estão procurando com atenção o suficiente ou nos lugares certos. Por exemplo, quando foi a última vez que um centro de treinamento, ou uma local de escalada (especialmente aquelas que ostentam ‘estrelinhas’ que as frequenta), organizar um evento para introduzir pessoas de minorias a estes lugares?

É bastante comum escutar as reclamações de que “ninguém dá força”, montanhismo é “um esporte pequeno”, entre outras, que residem no cerne da questão de que, de fato, é um esporte com pouca diversidade praticantes. Não seria a hora de, além de promover uma inclusão social efetiva, começar a cada vez mais se preocupar para que cada vez mais pessoas entrem e pratiquem regularmente os esportes de montanha?

Ressentimento: um sentimento latente que afunda o esporte outdoor

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Quem pratica qualquer modalidade de esporte outdoor, desde hiking até escalada alpina, já deve ter reparado, ou mesmo refletido, de que todos dentro da comunidade outdoor são brigados com todos. Há um sentimento de ressentimento geral de todos com todos.

Não resta a menor dúvida que o montanhista, sem importar o gênero, possui uma vaidade pessoal muito exacerbada e, por isso, se ofende com uma facilidade extrema. Tudo o ofende, desde chamá-lo de turista, ou mesmo identificar um acidentado aleatório de montanhista. Qualquer palavra, qualquer notícia, qualquer opinião é motivo para se sentir ofendido.

Fazendo uma reflexão, sem muito esforço, é fácil lembrar de quatro ou cinco conhecidos que são brigados entre si, ou mesmo nutre um sentimento de mágoa com alguma outra pessoa, ou mesmo um veiculo de comunicação. Muita gente está remoendo a mágoa e curtindo aquele sentimento de ressentimento. Sentindo de novo, ou sentindo de um novo jeito, deixando ressoar o sentimento ou uma emoção experienciada. Ressentimento é a mágoa que se guarda e todos os seus derivados podem brotar sem muita razão lógica.

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A pessoa ressentida fica sempre alimentando a mágoa e é isso que praticamente todos os praticantes de esportes outdoor possuem hoje em dia. Alguém que fez um filme rum se ressente por ter sido criticado, alguém que fez algo errado se ressente porque foi denunciado, alguém incompetente se ressente porque foi criticado pela sua incapacidade, e assim por diante.

O ressentido não é alguém incapaz de esquecer ou perdoar, pois é alguém que não quer esquecer e não quer superar o mal que o vitima. É diferente de uma mágoa, em relação à qual, se a pessoa se desculpar, passa. Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer, não assumindo a responsabilidade sobre a própria situação.

Assim, preso em uma incapacidade de amadurecer, leva tudo e todos à sua volta para dentro do buraco que é sua grande mágoa de seu frágil ego ferido. Um vingativo que não se reconhece como tal. Assim, em decorrência desse ressentimento, todos apelam para a passividade e inoperância. Tudo fica paralisado, pois todos possuem mágoa com todos, não querem de maneira alguma perdoar e, por isso, por que ajudariam em algo?

Só que, ao deparar com sua infelicidade (ou, no mínimo, com a mediocridade de sua vida), o ressentido procura sempre tentar culpar alguém. Esse é o recurso clássico do ressentido para não ter que avaliar suas escolhas, e depois se arrepender.

O ressentido é capturado por algo que Sigmund Freud chama de “a covardia moral do neurótico”, que são escolhas por caminhos seguros, onde não haja riscos de deparar com nada que lhe indique desejos contrários ao caminho certo para uma vida “normal”. Quer ser tão bom, tão especial, tão puro que não enfrenta e recua, porque finge uma superioridade moral, mas não perdoa. É um vingativo que não se reconhece como tal.

Portanto, o ressentimento de quem não possui mais um status quo (sendo ele como empresário, dirigente ou montanhista) que sequer existem mais ,alimentado pela hipocrisia clássica do ser humano, que o tokenismo no universo outdoor floresce. Já que montanhistas e escaladores se julgam tão especiais e pessoas tocadas pelos deuses, não seria a hora de também praticarmos uma inclusão social efetiva?

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