Pedra da Galinha Choca – Quixadá: O episódio de assédio no Carnaval

Mais um episódio de assédio no Carnaval, desta vez na Pedra da Galinha Choca, em Quixadá, Ceará. No entanto, diferente do que ainda é comum ver, esta vítima — que terá o nome preservado — comunicou as autoridades locais e a história chegou até o https://blogdescalada.com eventualmente.

Neste informe, fica um encorajamento a todas as pessoas, especialmente mulheres, que não se calem nesse tipo de situação. E para fazê-lo, nada melhor do que a mensagem de alguém que tenha voz para tal, alguém que tenha passado o que você ou um conhecido viveu e não soube como reagir. Confira.

Episódio de assédio no Carnaval na Pedra da Galinha Choca

Foto: Quixadá Turismo & História

Foto: Divulgação/Quixadá Turismo & História

Colocando em perspectiva que diversos levantamentos mensais e anuais relatam altas porcentagens de assédio ou agressão, fica difícil acreditar em melhoria futura.

A título de informação, em uma pesquisa realizada com 3 mil mulheres pela FEBRABAN (Federação Brasileira de Banco) no ano passado, 8 de cada 10 mulheres (77%) confessaram sofrer assédio na própria casa. Dentro disso, 7 de cada 10 mulheres (69%) também alegaram passar por situações constrangedoras ou pior com pessoas consideradas próximas, ou apenas conhecidas.

E esta mulher teve sangue-frio no ato para não se submeter a qualquer situação por medo. Enfim, como dito, este é um relato onde o nome da vítima e do assediador serão preservados, pois o caso já está em andamento com as autoridades locais e divulgações detalhadas podem atrapalhar este processo.

Relato da vítima na Pedra da Galinha Choca

Foto: Wikipédia

Foto: Divulgação/Wikipédia

Primeiro contato

Ela conheceu o sujeito em Igatu na última viagem a Bahia, no dia 23 de janeiro. O mesmo estava sentado comendo numa lanchonete em que ela sempre ia com seu namorado e amigos. O sujeito estava sentado de frente para uma amiga dela. No relato ela fala que ficou surpresa de ver a amiga conversando com um estranho, mas depois a mesma explicou que era um amigo que já conhecia há um tempo.

Devido à amizade em comum, o sujeito se juntou ao grupo que realizaria a escalada no setor labirinto. O sujeito até fez uns vídeos de dois integrantes do grupo na via Asteroide. O mesmo passou os vídeos via WhatsApp para a vítima no intuito de divulgar para todo o grupo. Finalizada a escalada, o grupo se dividiu, com o sujeito seguindo viagem para Itatim, enquanto a vítima e seus amigos ficaram mais uns dias em Igatu até partirem para Itatim.

Em Itatim, eles voltaram a se encontrar, pois estava acontecendo um Encontro de Escaladores na região. Encontro esse que reunia praticantes de todos os lugares. Em visitas mediadas pela amiga, o sujeito encontrava o grupo e conversava com todos, inclusive ela. Numa das conversas a vítima indicou os picos do Ceará, pois o sujeito queria conhecer os mais interessantes do Nordeste.

Com o fim do Encontro de Escaladores, todos seguiram seu rumo. O sujeito ficou interessado nos picos e pediu conselhos. A amiga em comum de ambos indicou a vítima que também compartilhou o contato de dois amigos residentes de Quixadá (um homem e uma mulher).

Passadas as informações de hospedagem e rota, o sujeito chegou no dia 17 de fevereiro em Quixadá. A vítima confirmou sua presença, chegando no dia seguinte para se reunir com o grupo.

Pedra da Galinha Choca

A primeira escalada estava marcada para o dia 19. Após o café, a vítima, os dois amigos e o sujeito seguiram em direção a Pedra da Galinha Choca. Primeiro, o grupo escalou o rabo da Pedra da Galinha pela via reféns da biomecânica até o cume. Ao descerem de rapel, tiveram a ideia de seguir pela via cavalo-do-cão, localizada na cabeça da galinha.

Como aquela trilha era mais movimentada e tinham alguns turistas, a dupla de amigos desceu para vigiar as mochilas enquanto a vítima e o sujeito escalavam.

Ao finalizar a via, o sujeito disse que queria ir até o cume. Então, seguiram na rota, realizando uma escalaminhada de uns 6 metros até o cume. Às 10h10 chegaram ao cume, comemoraram, contemplaram a vista, tiraram selfies e algumas fotos individuais.

  • Fica um adendo em nossa conversa, pois a vítima nos comunicou uma troca de palavras anterior que até então para ela não fazia sentido questionar.

Não sei exatamente em que momento entre o dia que cheguei até às 10h10 daquele cume que o sujeito veio me fazer a seguinte pergunta:’ O teu namorado vem?’ assim de supetão.

Estranhei a pergunta em primeiro instante, mas empolgada respondi dizendo:’ sim, ele vem, vem com a K….’ Daí lembro na mesma hora que a amiga K. havia desistido de vir e eu falo com tom de desapontamento: ‘valha, vem mais não, esqueci que a K não vem mais, ele viria de carona com ela.’ — disse a vítima em nossa conversa.

Assédio na Pedra da Galinha Choca

No momento que guardava o celular na pochete, a vítima sente uma mão no ombro direito. Na tentativa de olhar o que era se depara com o rosto do sujeito se aproximando e ordenando: ‘me dá um beijo’. Prontamente a vítima recusou detalhando o diálogo.

  • V — você tá doido?, seu doido, sai pra lá!
  • S — é porque me deu vontade…
  • V — mas eu não tô com vontade, você tá doido.

Foi uma situação altamente constrangedora… 0 sujeito querendo me acuar num cume, se aproximando de forma íntima, sem eu nunca ter dado liberdade alguma para esse sujeito… me senti invadida e vulnerável naquele momento. – disse a vítima.

Apesar da cena, a vítima manteve o sangue-frio e sabia que precisaria dele para descer.

Ficamos ali uns 15 segundos em silêncio e em seguida falei: ‘vamos descer, precisamos fazer rapel’. Voltamos a última parada da via, o sujeito juntou as cordas para montar o rapel e nesse momento ele disse: ‘Você não fique chateada com isso não, viu!’ ‘Eu já tava com vontade há muito tempo’ e eu disse: ‘vontade é uma coisa que dá e passa e não é não.’

Enfim, ambos realizaram a descida um por vez.

Pós-assédio

Reencontrando o grupo, ela opta por não contar, esperando pessoas de sua total confiança e que entenderiam sua situação. Voltando da escalada todos foram almoçar e combinaram a próxima escalada.

Como a vítima ainda processava o ocorrido e não havia contado o episódio ao grupo, seguiu viagem com eles. Pararam para descansar e seguiram para a Pedra Riscada, o mesmo grupo.

Conquistaram o cume e desceram antes do sol se pôr. No retorno a cidade, deixaram um amigo em casa e pegaram uma amiga. Os quatro seguiram para uma pizzaria e na sequência chegou seu namorado e mais uma amiga na reunião.

O choro compulsivo

Foto: Divulgação/G1

Foto: Divulgação/G1

No dia seguinte eu já não aguentava segurar toda aquela história, tava com tudo engasgado na garganta. Precisava contar para alguém que não duvidasse de mim. Contei pro meu namorado e minha amiga. Os dois ficaram atônitos com o ocorrido e a ficha foi caindo, me dando conta do perigo, sozinha, tendo somente o rapel como rota de fuga.

Em nossa conversa ela explica que foi questionada do porquê ter continuado nas escaladas com o sujeito.

Ainda estava processando toda a cena na minha mente, duvidando até de que aquilo realmente tinha me acontecido.

Por curiosidade, uma de suas amigas é psicóloga e explicou que pessoas em situações de trauma demoram até 2 dias para assimilar o ocorrido. E passados exatos 2 dias a vítima relatou choro compulsivo.

Contando para pessoas de minha confiança, me senti segura e acolhida. Alguns se mantiveram parciais e quiseram analisar a situação.

Por isso não me senti à vontade em contar quando desci do rapel (dois homens) por mais que fossem meus amigos, pois imaginei a reação contida de ambos.

Enfim, no dia 20 de fevereiro o sujeito partiu, mas não por vontade própria. Ele foi porque um homem teve que ir lá falar grosso, colocando-o em seu devido lugar, assim relatou a vítima.

Mensagem final da vítima

De fato, não é fácil e só quem sabe, quem passou, sabe expressar a cena. E nesse caso, não existe mais ou menos grave, assédio é assédio. Ademais, cada um recebe de um jeito. Como dito, com outra pessoa, poderia ter acabado num fim trágico.

Por isso a importância de não deixar algo passar para não acumular ou piorar. Se você ou algum conhecido passou por algo semelhante, não fique em silêncio. Assim como quem tem boca vai a Roma, quem se comunica o mundo transforma.

Converse com pessoas próximas na falta de coragem para buscar justiça e principalmente busque conselhos com órgãos anti-assédio, juntamente de vítimas abertas a dividir palavras de aprendizados.

Por fim, confira abaixo uma reflexão de alguém com voz para tal.

Foto destaque: Amarilio Dantas /Unsplash

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