Se todo escalador tem como destino obrigatório a Serra do Cipó os praticantes de surf possuem a mesma fixação com Florianópolis.
Considerada por muitos como a capital do esporte no Brasil , Florianópolis possui também toda uma cultura e, porque não, uma economia própria em torno do Surf.
Para documentar todo este universo foi realizado o filme “Pegadas Salgadas”, que procurou retratar o esporte desde o início e como foi todo o envolvimento com a cidade e a cultura local.
Usando de maneira comedida imagens da época, a produção conta de maneira clara como o surf se popularizou na ilha utilizando muitas entrevistas e imagens das principais personalidades do esporte construindo para o espectador todo o universo que se criou ao redor do esporte.
Após a apresentação da história, e profissões que vivem do surf, “Pegadas Salgadas” toca levemente em pontos polêmicos, mas não menos interessantes.
Posicionando de maneira neutra, o filme não aprofunda, mas levanta questões como sustentabilidade, ecologia, drogas, concorrência desleal entre outros são abordados de maneira adulta e imparcial.
Todos estes temas por si só dariam outros filmes.
Com roteiro muito bem escrito, e uma direção segura, o filme é também uma excelente introdução do leigo ao esporte e as disputas de ego que sempre existirão em esportes de natureza.
O filme é uma das poucas produções que focam esportes que consegue abordar todos os envolvidos no esporte como: fotógrafos, shapers, meteorologistas, radialista, federações, juízes, lojistas entre outros.
Neste pequeno detalhe está todo o mérito de “Pegadas Salgadas”, que é mostrar o esporte, não focando excessivamente nos esportistas.
Mérito também foi conseguir, mesmo que em segundo plano, mostrar o jeito de ser de quem vive na cidade de Florianópolis, conseguindo coloca-la também como personagem da produção.
Mesmo que abordando temas de disputas e rixas, fica evidente que os produtores procuraram se afastar disso, resultando em uma narrativa muito no estilo da personagem literária Poliana (realizando o “jogo do contente”).
Detalhe este que não chega a comprometer o filme, mas que poderia ser abordado em outras produções semelhantes.
A documentação de bonitas paisagens, mulheres bonitas de biquíni e manobras em ondas foi suprimida, para dar mais espaço a algo muito importante em filmes outdoor: história.
“Pegadas Salgadas” é um filme para ser assistido com atenção, pois consegue documentar um esporte e uma cidade como poucas produções conseguem: sem ufanismo, nem bairrismo ou superlativos.
O filme consegue utilizar todos os ingredientes necessários para fugir dos grandes clichês de filmes de surf (manobras, mulheres, paisagens e mais manobras) para focar nas pessoas e na filosofia do esporte, e está aí o grande mérito do filme.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.