Patagonia: Repensando o capitalismo com o paradigma do compromisso ambiental

Fundada por Yvon Choinard em 1973, a Patagonia é uma empresa de roupas para atividades de natureza com sede na Califórnia. Certificada como B-Corporation (empresa que visa como modelo de negócio o desenvolvimento social e ambiental), a empresa é reconhecida internacionalmente pelo seu compromisso constante, demonstrado desde a sua criação, pela realização de produtos de alta qualidade e pelo seu ativismo ambiental.

A história completa da empresa está detalhada no artigo “Patagonia: O que faz com que esta empresa seja a mais “cool” entre todas as outras?” na Revista Blog de Escalada. O artigo recebeu elogios dos gerentes da própria empresa durante visita à Outdoor Retailer de 2019 durante reunião com a marca.

Patagonia

Para se ter uma ideia, até o momento, a Patagonia destinou mais de 100 milhões de dólares em bolsas e doações para grupos que lutam pela defesa do meio ambiente. A empresa ganhou as manchetes em 2017 ao entrar com uma ação judicial contra o presidente dos EUA, Donald Trump, por reduzir ilegalmente o tamanho de dois parques nacionais.

Mas qual o segredo da empresa? A Patagonia é sobre duas coisas: qualidade e valores. Simples assim. O resultado? A empresa tem uma receita de US$ 1 bilhão por ano.

Repensando o capitalismo

Patagonia

Para espantos de muitos a Patagonia não é a organização típica que incentiva os clientes a comprar constantemente novos equipamentos deles. Em vez disso, acreditam na criação de roupas e equipamentos de alta qualidade que podem ser usados ​​por gerações e passados ​​adiante.

O capitalismo hoje em dia recebe uma má reputação de muitos intelectuais e neoliberais. Para grande parte dos pensadores, a solução não é livrar-se completamente do capitalismo, mas substituí-lo por uma nova forma que muitos têm vem chamando de ‘Capitalismo Consciente‘.

A Patagonia há muito tempo está na vanguarda do que agora está emergindo como este ‘novo sabor’ cada vez mais popular do capitalismo. Seus clientes querem que seu dinheiro vá para empresas que usem seu dinheiro para tornar o mundo um lugar melhor.

Consciente disso toma ações como doar 1% das vendas para organizações ambientais sem fins lucrativos e, em 2016, doou 100% das vendas da Black Friday (aproximadamente US$ 10 milhões) para grupos ambientais. No final de 2018, mudou sua declaração de missão para “Estamos no negócio para salvar nosso planeta natal”. No final de 2020 a marca incentivou os clientes a comprar equipamentos usados ​​na temporada de festas.

O conceito é simples e depende de dois princípios definidos no nome da campanha: incentivar os clientes a comprar menos produtos novos e aumentar a demanda por produtos feitos de forma sustentável, usando material reciclado, algodão orgânico regenerativo e práticas de produção de comércio justo.

Patagonia não é somente sobre a natureza

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Nos últimos anos, a Patagonia tem feito grandes esforços para se tornar mais responsável em suas operações comerciais. Desde o apoio a projetos ambientais até o investimento em estratégias de negócios sustentáveis ​​e a promoção do movimento 1% for the Planet, a Patagonia abraçou a ética corporativa antes de se tornar moda.

Um bom exemplo foi sua postura com relação aos empregados de sua cadeia de suprimentos. Isso porque a fabricação de roupas para a indústria da moda é uma das que mais exige mão de obra, empregando diretamente pelo menos 60 milhões de pessoas.

Pesquisas realizadas em 2018 pelo The Global Slavery Index, da Walk Free Foundation (organização internacional de direitos humanos independente e de capital privado), mostram que a moda é o segundo setor que mais explora o trabalho escravo no mundo. De acordo com o relatório, existem no mundo mais de 40 milhões de pessoas colocadas nessa situação, sendo 71% mulheres.

De acordo com um relatório da Ellen MacArthur Foundation, a indústria da moda produz 53 milhões de toneladas de fibra a cada ano, mas mais de 70% disso vai para aterros sanitários ou fogueiras. Menos de 1% é usado para fazer roupas novas. O número médio de vezes que uma roupa é usada antes de deixar de ser usada diminuiu 36% em 15 anos.

Para combater este estado desumano na produção de roupas, a Patagonia conta com o Fair Trade Certified, que permite que as pessoas que trabalham na produção dos produtos sejam tratadas com o respeito que merecem. A cada produto fabricado, os trabalhadores recebem um prêmio que pode ser usado como investimento social para a comunidade ou para melhorar seu padrão de vida.

O comércio justo é uma estratégia para o alívio da pobreza e o desenvolvimento sustentável, com o objetivo de criar maior equidade no sistema de comércio internacional. Os produtores devem cumprir todos os padrões estabelecidos pelo Fair trade International.

A certificação também garante que a empresa respeita os parâmetros do Fair Trade (Comércio Justo) em termos de condições de trabalho seguras e dignas em qualquer canto do planeta. Atualmente, a Patagonia possui o maior número de produtos com esta certificação, em relação a qualquer outra marca existente.

As iniciativas do Fair Trade buscam tornar a cadeia de suprimentos mais transparente, dar aos trabalhadores da fábrica uma opinião sobre que tipo de desenvolvimento comunitário acontece em sua área e definir salários para que os trabalhadores não fiquem sujeitos às flutuações de preços do mercado.

Patagônia demonstra há anos que lucratividade e ambientalismo podem andar de mãos dadas. Reinventar o capitalismo, para torná-lo mais sustentável, não é uma escolha, mas é uma necessidade.

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