Grandes nomes do esporte: Yvon Chouinard

Yvon Chouinard não tem problemas em ser o primeiro. Aos 26 anos, ele fez a primeira ascensão na via “Muir Wall”, em Yosemite. Na época levou oito dias para conquistar com cordas de sisal e alguns pitons forjados à mão.

Três anos depois, em uma viagem de furgão e barco da Califórnia até o extremo da América do Sul. Yvon Chouinard fez pausas em Baja e no Pacífico que nunca haviam sido surfados antes. Quando começou a andar de caiaque, reivindicou a primeira descida do rio Clarks Fork no Parque Nacional de Yellowstone.

Entretanto, Yvon Chouinard é mais conhecido por ser o fundador da marca de roupas outdoor Patagonia, em 1984. Desde então, a marca é reconhecida por sua postura “diferentona” em relação aos negócios e por sua postura em relação a causas ambientais.

Seu negócio de roupas decolou na década de 1970, quando criou uma linha de roupas para sua empresa de equipamentos de escalada. A empresa começou a chamar a atenção em 1985, quando a Patagônia reservou 1% das vendas para financiar grupos ambientais nos EUA e no exterior.

Por sua postura diferenciada, a boa aceitação do público fez com que as receitas atingissem US$ 800 milhões em 2017. Em maio de 2013, a Patagonia lançou a Tin Shed Ventures, que fornece financiamento inicial para startups ambientais e socialmente responsáveis.

O início

Nascido em 1938 em Lisboa, Maine, Yvon Chouinard e sua família se mudaram para Burbank, Califórnia, quando ele tinha cerca de 8 anos. O pai de Yvon era um trabalhador mecânico e encanador franco-canadense e procurou ir para a Califórnia para melhores oportunidades de trabalho.

Lá Yvon Chouinard descobriu as atividades de natureza. Como consequência de sua paixão por estas atividades, Chouinard foi um dos principais escaladores da “Era de Ouro da Escalada de Yosemite” nos anos 1950.

Para economizar dinheiro e fazer adaptações na maneira como estava escalando, Chouinard decidiu fazer seus próprios equipamentos de escalada. Para isso procurou aprender serralheria serralheria. Em 1957, Yvon, pegou uma forja a carvão, uma bigorna e algumas ferramentas de um ferro-velho da Califórnia.

Foi quando então começou a martelar pitons (peças de metal que escaladores entalam em fendas para usar como ancoragem) para que ele e seus amigos usassem nas paredes de Yosemite. Na época Yvon os vendia por US$ 1,50 cada. Apesar de ser um negócio “de nicho”, teve grande aceitação e começou a tornar-se um negócio rentável.

Entre o tempo gasto surfando e escalando, Yvon Chouinard vendia pitons na traseira do carro para se sustentar. Para sempre estar à frente dos concorrentes, ia aprimorando o designe de seus produtos a cada ano. Esta pró atividade, fez com que fosse líder de mercado.

À medida que a demanda crescia, Chouinard expandia a produção, criando novos produtos. Quando viu a necessidade de formalizar sua empresa, a nomeou como Chouinard Equipment.

Chouinard Equipment

No final da década de 1960, Chouinard e seu parceiro de negócios Tom Frost começaram a estudar o equipamento de escalada no gelo para também fabricá-los. Como fruto da parceria, reinventaram as ferramentas básicas (grampos e piquetas) para escalar em gelo em locais mais íngremes.

Junto destes novos equipamentos, também lançaram um livro Climbing Ice (1978), impulsionando a popularização do esporte moderno da escalada no gelo.

Por volta de 1970, Yvon Chouinard percebeu que o uso de pitons de aço feitos por sua empresa estava causando danos significativos às fendas de Yosemite. Foi aí que um detalhe aparece, sendo bem ilustrativo a respeito de sua postura de negócios: os pitons representavam 70% de sua renda.

Chouinard escolheu sacrificar sua “galinha dos ovos de ouro” em nome de algo maior.

Nos anos de 1971 e 1972, Chouinard e Frost introduziram novos equipamentos de alumínio, chamados Hexentrics e Stoppers. Para espanto de todos, comprometeram a empresa ao defender as novas ferramentas e um novo estilo de escalada chamado “escalada limpa “.

O novo conceito de escalada revolucionou o esporte e levou e, posteriormente, a um maior sucesso da empresa, apesar de inicialmente a decisão destruir as vendas de pitons, seu produto mais importante.

Em 1970, em uma viagem à Escócia, Chouinard ao reparar na qualidade do tecido, comprou algumas camisas de rugby e as vendeu para os escaladores. O tecido robusto atraía outros escaladores, e as camisetas esgotaram imediatamente. O produto foi um grande sucesso.

Assim nasceu a linha de roupas da Chouinard Equipment, batizada de Patagonia. Yvon Chouinard também começou a vender luvas, chapéus e shorts. Desde esse pequeno começo, a linha desenvolvia uma ampla seleção de roupas técnicas robustas.

Mas a administração pouco comprometida (afinal todos saíam para escalar todo o tempo), trouxe dificuldades à empresa.

Por volta de 1974, a empresa quase faliu depois que teve que vender um lote de camisas defeituosas com desconto. Um contador apresentou Chouinard a um membro da máfia em Los Angeles. O mafioso lhe ofereceu um empréstimo com 28% de juros.

Yvon recusou a proposta, e a Patagônia conseguiu se manter à tona, e a receita subiu de US$ 20 milhões para US$ 100 milhões entre meados da década de 1980 e 1990.

Mas em 1989, a Chouinard Equipment, entrou com um pedido de proteção contra falência para protegê-lo de ações judiciais. Os ativos da Chouinard Equipment foram adquiridos por seus funcionários e a empresa foi restabelecida como Black Diamond Equipment.

Patagonia

Reconhecendo o sucesso financeiro da linha de roupas Patagonia, a parte de vestuários ficou sob os cuidados de Yvon Chouinard. Administrar a empresa também ofereceu a ele a oportunidade de também atingir objetivos pessoais e implementar ideias de administração não ortodoxas.

Yvon se comprometeu a deixar a empresa a ser um excelente local para trabalhar. Além disso procurou fazer da patagonia um recurso importante para o ativismo ambiental. A empresa acabou com escritórios particulares em 1984 e, dois anos depois, prometeu doar 10% dos lucros a pequenos grupos que trabalham para salvar o meio ambiente.

Em 1984, a Patagonia abriu uma lanchonete no local de trabalho oferecendo “comida saudável, principalmente vegetariana” e começou a prestar assistência infantil no local. O agrado fefletiu na felicidade de funcionários e na produtividade da empresa.

A Patagônia mais tarde elevou a promessa de doações para 1% das vendas. No ano de 1988, a empresa lançou sua primeira campanha ambiental nacional, um esforço para desurbanizar o vale de Yosemite.

Após outra crise financeira no início dos anos 1990 que quase a levou à falência, a Patagônia prometeu desacelerar seu crescimento e ser mais econômica. Mas o fabricante de roupas outdoor ainda se expandia a um ritmo constante, mas lento.

Yvon Chounard mudou a linha de roupas da Patagonia para algodão orgânico em meados da década de 1990, uma escolha não motivada pelo lucro

Em seu livro, Chouinard diz que as vendas cresceram 25% no meio da crise financeira de 2008-2009. Em comunicado da empresa, disse que os lucros triplicaram entre 2008 e 2014.

No início do milênio, a Patagonia fez parceria com a Blue Ribbon Flies, equipamento de pesca com mosca, para criar 1% for the planet, uma coalizão de empresas que se comprometeram a doar 1% de suas vendas a grupos ambientais.

“Na Patagônia, tomamos nossas decisões importantes com base no desejo de estar aqui daqui a 100 anos.”, afirmou Yvon Chouinard em uma entrevista à revista Esquire. “Viver uma vida próxima à natureza também me ensinou sobre responsabilidade”, completou o empresário.

“Nenhum animal é tão estúpido e ganancioso a ponto de sujar seu próprio ninho – exceto o animal humano”, finaliza Yvon Chouinard.