Parede de escalada é instalada em campo de refugiados na Grécia

No campo de refugiados de Katsikas (Grécia), há pouco a fazer. Quando os militares gregos ergueram as primeiras barracas, cobriram o solo com pedras como as que alinham os trilhos dos trens. Foi a sua forma de evitar que aquele terreno baldio, onde antes existia um lago, se transforme num atoleiro devido às fortes chuvas que caem na região.

Katsikas foi construído em 2016 como um local de emergência para abrigar milhares de pessoas que deixaram suas casas fugindo de conflitos na Síria, Afeganistão ou Iraque. E como tantas outras coisas, o provisório tornou-se permanente e hoje abriga mais de 1.000 pessoas. Quase desse montante metade são menores.

No local foi construído um muro de escalada, para que os refugiados se entretenham e possam realizar uma atividade lúdica e se entretenham.

As pessoas que vivem ali possuem incertezas infinitas. Não têm estatuto legal para se estabelecerem como cidadãos gregos, o que os impede de estudar ou trabalhar. Nos países europeus tramitam pedidos de asilo que são repassados de um país a outro. Assim, o futuro destes refugiados fica mais incerto.

Como nasceu o projeto

Emilia Debska é co-fundadora do projeto Habibti.Trains (antes conhecido como Women’s Sport) e autora de um estudo sobre a criação de espaços seguros para mulheres refugiadas para o Centro de Estudos Pós-coloniais. Habibi é uma palavra árabe que significa querido ou amado e é usada tanto em relacionamentos sentimentais quanto entre amigos.

A filosofia de trabalho desta organização de origem alemã evita o clichê dos refugiados como vítimas ou recipientes passivos de ajuda externa. Com esta abordagem, Habibi.Works oferece workshops e ferramentas para fabricantes, as mentes criativas de Katsikas. Assim nasceu Habibti.Trains (habibti seria a forma carinhosa de se dirigir às mulheres), que garante às mulheres deslocadas espaços para a prática esportiva não mista.

A iniciativa nasceu em agosto de 2019, quando um grupo de mulheres somalis exigiu um local onde pudessem praticar esportes que não deveriam dividir com os homens no campo de concentração. Não foi a primeira tentativa que fizeram, mas cada vez que um grupo de mulheres ocupava uma barraca para passar algum tempo a sós, os militares as retiravam dos espaços comunitários.

O resultado, segundo as trabalhadoras da Habibi, é que essas mulheres acabam marcadas pelo cansaço e pela frustração, com sintomas psicossomáticos que vão desde insônia ou dores de cabeça constantes até depressão e outros problemas de saúde mental.

A ideia da parede de escalada é algo que deixou Emilia Debska particularmente animada, pois adora escalar. Assim foi construída a pequena parede.

O impacto nas mulheres do campo foi meteórico: graças ao esporte, elas construíram melhores redes de apoio e ajuda mútua. Agora, além de cuidar da família, estas mulheres têm um espaço em que se sentem cuidadas por outras mulheres e reservam um tempo para si mesmas.

Em termos de saúde mental, esse sentimento de pertencimento faz com que elas se sintam mais animados e alegres. “Se existe algum esporte que se refira à liberdade de movimento é a escalada”, finaliza Emilia. “Não há conexão mais pura entre liberdade e movimento.”

Os bastidores da montagem do espaço pode ser lido em: https://elcohete.sputnikclimbing.com

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