Filmes realizados em Hollywood em geral carregam excessivamente fatos irreais quando retrata histórias que contenham alguma prática de atividades de natureza.
Não é incomum também tirarem um sarro do estilo de vida de pessoas outdoor tampouco.
Não faltam exemplos de produções realizadas em um passado recente como o péssimo “Limite Vertical” (Vertical Limit) e galhofas como “Risco Total” (Cliffhanger) gerando visão equivocada (e ridícula) dos esportes de montanha.
Entretanto algumas produções realizadas nos últimos anos como o bom “127 Horas” e o cult “Na natureza Selvagem” (Into the Wild) demonstram um cuidado maior com a veracidade da história e enredo com profundidade admiráveis.
O filme “A vida secreta de Walter Mitty” realiza um inesperado elogio a entusiastas de montanhismo e atividades de natureza.
A história retrata a vida de Walter Mitty um funcionário da já extinta revista impressa “Life” e que é responsável pelo departamento de fotografias fazendo manipulação e arquivamento dos negativos.
A foto a qual seria estampada na última edição impressa acaba por sumir, e cabe ao protagonista encontra-lo.
Indo a cada localidade a qual supostamente se encontra o fotografo de natureza interpretado por Sean Penn onde quer que ele esteja para ter acesso ao destino do negativo
Paralelamente o protagonista nutre uma paixão por sua colega de trabalho, a qual tenta paquerá-la por meio de uma rede social de encontros amorosos.
No preenchimento de seu perfil nesta rede social encara a triste realidade de ser totalmente desinteressante além de não ter realizado nada notável.
Suas viagens mentais relevam que possui um desejo de fazer algo diferente que a sua rotina entediante e sua atitudes “coxinhas” perante a vida.
Após o início pela busca ao negativo perdido, o qual coloca em xeque seu orçamento pessoal, leva o espectador a seguir sua viagem ao amadurecimento pessoal refletindo nas roupas , decisões e postura perante obstáculos.
Estas pequenas decisões são sempre sucedidas de imagens icônicas e fotografia belíssima que tem o explícito objetivo de retratar a libertação de uma nova pessoa.
Dirigido e protagonizado por Ben Stiller (especializado em comédias rasas e de humor duvidoso) surpreende, embora demonstre que há ainda um longo percurso a seguir até firmar-se, mas está claro na produção que os primeiros passos foram realizados.
Do ponto de vista de quem realiza atividades de natureza o filme funciona como um convite à todos saírem da zona de conforto e tornar-se uma versão diferente de si mesmas.
Para esta reengenharia pessoal viagens a lugares inóspitos, experimentando situações fora do cotidiano e principalmente deixando de lado os mimos da civilização que presenteia com uma “segurança” perante a um mundo que mereça ser visitado e experimentado.
O personagem em questão realiza atividades simples, e algumas exigem boa dose de “suspensão de realidade” como por exemplo seu trekking ao Himalaia (sem treinamento específico e com aquela mochila dos anos 50 não teria chegado tão longe) para conseguir absorver todas as metáforas sobre amadurecimento espiritual lá contido.
O filme “A vida secreta de Walter Mitty” é uma grata surpresa e admiravelmente vinda de uma fonte que parecia improvável: Ben Stiller.
Com uma direção sem grandes deslizes ilustra de maneira que mesmo tendo realidades opressoras é possível ter doses de felicidades a cada conquista pessoal.
Conquistas estas não por meio de promoções em empresas corporativas ou por compras de carro e bens de consumo mas vindo por meio de viagens, trekkings e contato com natureza (mesmo contemplando).
São as experiências pessoais que nos enriquece verdadeiramente.
O filme entretanto esta longe de ser considerado uma grade obra-prima. Teria ainda de possuir mais qualidades para configurar como “cult”.
Algumas passagens contidas as quais tentam realizar humor utilizando referência a outros filmes como “Benjamin Button” parecem não encaixar na história.
Mas é inegável que a postura mais adulta assumida neste filme inspira, e muito a quem assiste.
“A vida secreta de Walter Mitty” é um filme interessante principalmente para quem teve a sua revolução pessoal por meio da prática de atividades de natureza, além de apontar para um futuro interessante a Ben Stiller caso decida por adotar este tom mais fora das comédias.
Nota do Blog de Escalada:

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.