Equipamento durável x Equipamento barato: Como fazer a escolha certa?

Todo consumidor já ficou na dúvida de um equipamento durável e um outro equipamento barato. Desde o início da revolução industrial, existe o conceito de produto final que se concretizou como o que chamamos hoje de “qualidade“.

Em outras palavras, a qualidade é o nível de perfeição de um processo, serviço ou produto. Não necessariamente um equipamento barato significará baixa qualidade, e vice versa. Com o tempo, algumas empresas adquiriram o que chamamos de excelência, que é qualidade do que é excelente. Uma qualidade muito superior.

À primeira vista, é quase o conceito básico de bens duráveis e não duráveis. Mas quando pensamos em equipamentos outdoor, este tipo de definição parece entrar em uma área cinza que conceitos se misturam. Muitas vezes um produto de qualidade, como um tênis, não possui uma longevidade aceitável (em outras palavras, gasta muito rápido), por que isso acontece?

O que é obsolescência?

Equipamento barato

Você sabe o que é obsolescência

Por grande parte da população se informar de maneira superficial (especialmente aquele que se usam como fonte de informação apenas redes sociais ou grupos de WhatsApp), muitos acusam que marcas de produtos outdoor de praticarem obsolescência programada de seus produtos. Grande parte dos que fazem esta afirmação sequer sabem que a própria obsolescência possui três tipos e, por isso, nem sempre quer dizer que se aplica a equipamentos outdoor.

A obsolescência é uma característica típica de tempos com rápidas e frequentes transformações. Por isso, estas transformações se aplicam aos produtos que usamos de três formas: programada, perceptiva e funcional.

  • Obsolescência programada: É a decisão do produtor propositalmente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.
    • Ex: Um tênis com solado macio (que gasta rapidamente), mochilas ultra-leves (mas que rasgam rapidamente), equipamentos de poucos usos como camisetas de material de baixa qualidade, etc.
  • Obsolescência perceptiva: Ocorre quando um produto ou serviço, que funciona perfeitamente, passa a ser considerado obsoleto devido ao surgimento de uma nova versão, com estilo diferente.
    • Ex.: Um freio de escalada que sofre um upgrade (como o grigri), modelo de tênis com tecnologia nova, jaquetas com cores de nova coleção, etc.
  • Obsolescência funcional: Ocorre quando um produto, mesmo funcionando e cumprindo a função para o qual foi projetado, é substituído por um novo, com tecnologia mais avançada, que acaba desempenhando com mais eficiência as necessidades do consumidor. Esta é a a mais antiga e permanente desde a Revolução Industrial.
    • Ex.: Uma bota que não possui impermeabilidade, ou respirabilidade, uma jaqueta que não possui costuras seladas, um tênis 30% mais leve, etc.

Mas por que devemos saber sobre os tipos de obsolescência para entender sobre equipamento durável e equipamento barato? Simples, porque junto deste tipo de obsolescência está também implícito o conceito de patente de um produto. Geralmente um equipamento barato possui alta obsolescência.

Patente de um produto

Equipamento barato

Para uma empresa de equipamentos outdoor, ou mesmo de tecnologia de impermeabilização de tecidos técnicos, ter a patente de um produto significa ter o direito de impedir terceiros de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar, sem o seu consentimento. Ou seja, a empresa possui o direito de explorar de maneira comercial sem que tenha um concorrente que o copie.

Mas esta proteção não dura para sempre. Basicamente existem dois tipos de patente:

  • Patente de Invenção: Dura 20 anos e se aplica a produtos ou processos que atendam aos requisitos de atividade inventiva, novidade e aplicação industrial.
    • Ex: Um novo freio de escalada, um novo equipamento de proteção móvel, um novo tipo de solado, etc.
  • Patente de Modelo de Utilidade: Dura 15 anos e se aplica a objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.
    • Ex.: Novo modelo de tênis, botas, mochilas, barracas, etc.

Existe ainda o que se chama de Certificado de Adição de Invenção, que é uma espécie aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção. Ou seja, é o modelo novo. Um equipamento barato geralmente é de uma patente já expirada e fabricado por uma empresa sem muito expertise ou preocupação com a excelência, somente o preço final ao consumidor.

Quando vence uma patente

Equipamento barato

Mas o que acontece quando o tempo de exploração de uma patente vence? Significa que aquele produto pode ser fabricado sem a necessidade de pagamento de direitos intelectuais para o seu criador. Em termos práticos significa que qualquer fabricante pode fabricar aquele produto.

No caso de patente, há três exemplos clássicos que podem ser observados no universo outdoor:

  • Barraca iglu: Conforme descrito no artigo “A história completa das barracas de camping“, a barraca iglu foi inventada em 1955, com o modelo “A16 Dome Tent”. Quando a patente venceu, a The North Face criou o modelo geodésico no ano 1976. Quando esta nova patente venceu, houve uma multiplicação de fabricantes de barracas iglu para camping.
  • Freio autoblocante: O mais icônico freio autoblocante de técnicas verticais é, sem dúvida, o grigri. Conforme descrito no artigo “História das marcas: Petzl“, o grigri nasceu em 1991 e até 2010 não sofreu qualquer modificação. Seu novo modelo, o grigri 2, foi criado justamente quando venceu sua patente. Atualmente há vários fabricantes que possuem seu próprio freio autoblocante.
  • Ziper: Conforme descrito no premiado artigo “A história do zíper: Como surgiu o acessório mais usado no universo outdoor“, o acessório foi inventado pela empresa Talon, que o explorou comercialmente por 20 anos. Quando a patente venceu, a empresa japonesa YKK fez inovações e tornou-se líder mundial, praticamente colocando a Talon com 15% do mercado mundial.

Equipamento durável x Equipamento barato

Equipamento barato

Pois bem, explicado as particularidades de o que é obsolescência e patente, chegamos ao que podemos chamar de diferenças de qualidade. Quando um produto, que teve sua patente expirada, pode ser fabricado por empresas diferentes. Nisso entra o que podemos chamar de “credibilidade na imagem da empresa”.

Um dos valores mais importantes de uma empresa é a sua credibilidade. Uma organização que possui uma boa opinião do público terá mais fidelidade de seus clientes. Uma das maneiras de conseguir seduzir o consumidor é diminuir o preço do produto fazendo “ajustes” nos materiais e acabamentos do produto. Dessa iniciativa estratégica que aparece o equipamento barato.

Assim, algumas empresas passam a fabricar um determinado produto, como uma jaqueta, com materiais de nível intermediário e aplicam um acabamento menos criterioso. Consequentemente o produto final é mais barato que seu concorrente. Um mesmo produto que à primeira vista parece igual, mas o preço final é discrepante.

Para o consumidor leigo, especialmente aquele que pratica uma atividade de natureza pela primeira vez, os produtos são “iguais” e, valendo-se do conceito terceiro-mundista de que “marcas conhecidas cobram mais caro porque são capitalistas” (sem levar em consideração todo o processo de qualidade que está por detrás de seu produto), acaba comprando este equipamento barato.

Geralmente o “equipamento barato” não possui a mesma qualidade de seu concorrente “durável”, e após pouco tempo de uso danifica-se. Assim aquele produto que poderia durar anos, acaba durando meses (ou até mesmo um uso somente) e vai e vai parar no lixo. Portanto, há desperdício de material muitas vezes não reciclável e de dinheiro por parte do consumidor.

Atualmente, é importante que todo praticante de esportes outdoor tenha como objetivo todos os dias Sensibilizar as pessoas para os problemas ambientais do seu entorno, para que possam buscar, proteger e oferecer soluções.

Informação: o melhor remédio

Equipamento barato

Se você se informa sobre qualidade de equipamentos ou sobre reputação de marcas em redes sociais, ou nos seus grupos de WhatsApp, você faz parte do grande problemas que temos no mundo hoje: a desinformação. Há muito tempo há vários veículos de imprensa, como a Revista Blog de Escalada, que se dedicam a informar e buscar a melhor informação a respeito de equipamentos e durabilidade. Passe a confiar neles, não nos pseudo-entendidos de grupos de WhatsApp.

Dependendo da atividade da montanha que realizamos, nosso material inclui mais ou menos plásticos e, em menor medida, metais diferentes. Assim, um montanhista pode usar um calçado feito de couro natural curtido com sais de cromo (um processo altamente poluente), um escalador uma jaqueta impermeabilizada com perfluorocarbonos (nocivos ao meio ambiente) ou um praticante de trekking um machado para o qual metais foram usados com processos geralmente insustentáveis.

Todo o nosso material, salvo raríssimas exceções artesanais, é fabricado industrialmente e, segundo a ONU, são justamente as indústrias responsáveis ​​por 10% das emissões de carbono no planeta e 20% da produção de águas residuais. A indústria do petróleo é a principal poluente (e do petróleo obtemos o plástico e o combustível para transportar os produtos que consumimos).

Equipamento barato

Depois da indústria petrolífera, a segunda mais poluente é a dos têxteis. Por isso, nós consumidores, somos mais responsáveis. Cada cidadão consome em média 65 peças de roupa por ano e quem vai para a montanha compra (e descarta) muito mais roupa do que há duas décadas. Entre nossos principais “inimigos” estão:

  • Poliéster: Presente em fleece, jaquetas térmicas e sacos de dormir sintéticos.
  • Algodão não orgânico: No seu cultivo são utilizados fertilizantes e pesticidas que poluem o solo e os aquíferos, sem falar que um jeans de baixo custo que não vai durar mais de 2 anos precisa de cerca de 10.000 litros de água para sua fabricação.
  • Perfluorcarbonos: Presentes nos impermeabilizadores da maioria das jaquetas impermeáveis e são 6.500 vezes mais poluentes que o dióxido de carbono.
  • PVC: Presentes nos isolantes térmicos de camping e nos ‘tapetinhos de yoga’.
  • Calçados: Comprar modelos de baixo custo para descartá-los com mais frequência do que um modelo de maior qualidade não é exatamente qualificar para o prêmio do ano como bons cidadãos.
  • Material metálico: Os produtos metálicos utilizados na escalada e no montanhismo, como mosquetões ou âncoras, são fabricados com alumínio e aços especiais , que emitem de 0,2 a 9 kg de dióxido de carbono para a atmosfera

Conclusão

Equipamento barato

Antes de somente levar em consideração somente o preço, sem verificar a reputação da empresa (assim como a sua postura diante de serviço ao cliente e reciclagem). Verifique se essa empresa valoriza os atletas em seu país (ou estado) assim como no país (ou estado) que atua.

Comprar um equipamento barato, mas com pouca qualidade é apenas colaborar com a montanha de lixo que todos os dias é criado na cidade. Sempre priorize a qualidade e a durabilidade.

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