A questão de ética e vias conquistadas é talvez tão antiga quanto o próprio esporte de escalada.
Também são de longa data os super “donos da verdade” que se consideram os” reis absoluto”s das regras e convenções da escalada.
Infelizmente 0 que não falta no mundo inteiro são polêmicas, bravatas e discussões que seguem por décadas.
Na última semana dois escaladores que se valeram de uma imensa falta de caráter, e possuídos por uma tática canalha, arrancaram vários grampos da via em do compressor no Cerro Torre.
Não irei discutir aqui se a via merecia ou não, o fato a ser discutido é: porque duas pessoas ao estilo de George W. Bush resolveram desconsiderar toda a comunidade de escaladores locais e fazer o que bem entender.
A questão é: Por que estes imbecis desrespeitaram a comunidade do Cerro Torre?
Com isso, trocando em miúdos, a via foi “apagada” de sua existência.
A via “apagada” já era cercada de polêmica pelo maneira que foi aberta e o que a mesma representa para a comunidade local.
Mas não há nada que justifique a atitude pusilânime que a dupla teve ao simplesmente desrespeitar toda e qualquer ética de escalada vigente.
Uma das consequências foi imediatamente sentida na pele: A dupla de escaladores foi ameaçada por cerca de 40 pessoas de serem linchadas, e se refugiaram de forma covarde dentro de um locutório (loja de cabines telefônicas).
Saíram escoltados pelas autoridades locais, prestaram depoimento sobre o ocorrido, e tiveram de devolver cada um dos grampos retirados da via.
América do Sul é o quintal da América do Norte?
A Argentina vê mais uma vez estrangeiros desrespeitarem os locais de escalada no país.
Vale lembrar que um brasileiro, também dono de baixo caráter, e inteligência, contribuiu para que o Valle Encantado fosse fechado durante o verão pelos seus proprietários (despejou um litro de solvente de tintas deliberadamente, e após isso saiu rindo da cara de todos dizendo que tinha imunidade).
Para estes dois exemplos não houve punição para os infratores.
O resultado disso é que neste ponto que o esporte mais sofre, pois não há legislação que proteja os locais de escalada de atos como este.
Somos reféns de pessoas incapazes de respeitar nem mesmo o esporte que praticam.
O desejo de fazer algo imbecil, pouco importa se irá ou não prejudicar outras pessoas que praticam o mesmo esporte.
Imagine a seguinte situação: um estrangeiro, ou até mesmo um outro idiota como o falso professor de Yoga de São paulo e poluidor do Valle Encantado, se sente no direito de ir até um local de escalada popular.
Por exemplo o Pão De Açúcar, no Rio de Janeiro, ou até mesmo a Serra do Cipó em Minas Gerais.
O infrator decide lá que uma via está fora dos padrões de sua ética e entendimento pessoal, e remove os grampos que fazem parte da via.
Detalhe: Isso sem perguntar a ninguém e de maneira escondida.
Imagine agora a via “Italianos” ou até mesmo a “Johny Quest” na serra do cipó desaparecer da noite para o dia, porque alguém acredita que não está de acordo com o que ele acredita.
Já presenciei escaladores brasileiros planejarem fazer o mesmo em vias como “Nem Fudendo”(Itajubá-MG), “Chove não Molha”(Pedra do Baú-SP), “Injustiça Social”(Serra do Cipó-MG) para citar algumas vias “polêmicas”.
O desenrolar disso tudo já foi visto: como o sujeito é estrangeiro, ele simplesmente faz as malas e vai embora para casa, e se esconde atrás da diplomacia.
Este sentimento de frustração e impotência que está sentindo agora é o que a comunidade de escaladores da Argentina está sentindo neste momento.
Ninguém, seja do próprio pais, ou estrangeiro tem o direito de se achar o dono da verdade.
O que foi feito foi, cristalinamente, uma babaquice típica de perfeitos cretinos, e quanto a isso não resta dúvidas.
O ato tomado por estes dois escaladores, oriundos da América do Norte, é inaceitável e, sem qualquer exceção, deve ser feita. Tanto em vias polêmicas ou não.
É necessário, portanto, realizar algum tipo de mensagem direta a todos da América do Norte, ou de qualquer parte do mundo, que a América do Sul não é o quintal destas pessoas.
O montanhismo está baseado no respeito à natureza, e às éticas locais, não seguindo estes princípios seremos somente um bando de malucos dividindo o mesmo espaço.
Para saber mais veja em: http://www.lacachania.com.ar
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.