O que fazer, e o que não fazer, na Meditação para aproveitar melhor a natureza

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Hoje nós não vamos falar sobre a amada natureza dos parques e florestas onde nos sentimos tão acolhidos.

Iremos estender nossa visão até a natureza da vida.

O assunto é meditação.

Depois disso, até mesmo a natureza em nosso vasinho de casa irá ganhar uma nova perspectiva.

Meditação

Existe mais de um tipo de treinamento para o que chamamos de meditação. Cada um visando desenvolver um grupo de habilidades que possam nos ajudar a lidar com os balanços da vida.

Desde já, é proveitoso aprender como as com variações emocionais ocorrem e, se possível, nos libertar completamente dos condicionamentos que limitam nossa visão e nossa conduta.

Toda palavra está imbuída de significado, e aqui irei explicitar aquele que iremos atribuir à palavra “meditar”.

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Meditação não é algo que fazemos. Não não pode ser um meio para um fim. Meditação é um modo operante, um estado natural de participar da vida como ela se apresenta. Está além dos condicionamentos que nos movem de acordo com as motivações e os desejos, que por sua vez operam de acordo com apegos e aversões associadas aos estímulos dos sentidos.

Um comportamento comum:

Observo mundo como algo separado. Existem o “eu”, e “as coisas externas a mim”; Divido as experiências em opostas, de caráter agradavel ou desagradavel; Umas de meu desejo, e outras objeto de minha aversão;

Passo a programar minha conduta de maneira que o “eu” venha a ter mais experiências agradaveis, e menos experiências de meu desagrado.

Qual é o condicionamento aqui?

Quando não tenho o que desejo, eu sofro por não ter alcançado algo. Quando tenho o que desejo, eu sofro por temer perder o que consegui. Quando não posso me afastar do que me desagrada, eu sofro essa frustração. Quando consigo me afastar, temo a possibilidade de perder o conforto que alcancei.

Eis a formula para o sofrimento. Insatisfatoriedade é nome dado à esse modo operante falho. É falho porque eu reclamo à ele, e consiste na habilidade de não encontrar satisfação mesmo que os desejos sejam obtidos. Podemos chamar isso de habilidade porque não é algo inato, é algo que desenvolvemos pelo treinamento, pelo costume.

Se soa estranha a ideia de que treinamos para ser insatisfeitos, talvez seja sábio de nossa parte olhar mais uma vez para o mundo. Vivemos imersos em uma atmosfera social de constante temor e cobranças. Fomos educados para seguir os mesmos princípios que construíram essa realidade.

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Os treinamentos meditativos são uma busca interna a uma alternativa à esse modo de viver. E meditação é como uma criança vive a vida através de uma chama pura de investigação, quando ainda estão naquela sua fase inocente onde as experimentações ainda fogem às influências dos medos alimentados por seus progenitores. Sem motivos e sem pretensões as crianças apenas descobrem o mundo, e crescem.

A falta de motivos nesse contexto não significa viver apaticamente e sem propósitos. O propósito é a experimentação em si da vida como ela se apresenta.

O viver meditativo liberta muitas formas de energias latentes e potenciais reprimidos. Musculares, emocionais, capacidades mentais de observação, interpretação, comunicação. Nossa capacidade de criar conscientemente é paralela à nossa habilidade em nos alinhar com as verdades mais profundas sobre o inter-relacionamento entre os elementos da rede da vida.

Como eu posso começar a praticar?

Como humanos, nossas capacidades tendem a se potencializar quando desenvolvidas em grupo. O ser humano é por natureza um ser social, e não individual. Esse entendimento influenciará inclusive o nosso treinamento meditativo. Se estamos aberto a isso, iremos buscar por um grupo. Será como uma segunda casa.

Aquilo que iremos conhecer sobre nós mesmos e as sensações que iremos experimentar com os exercícios irá nos requisitar além do que estamos acostumados, e certamente além do que podemos lidar sozinhos. Nesse momento, nada como amigos. Novos amigos que estejam passando pelo mesmo processo, ou que já tenham passado por muito mais do que nós nessa estrada que acabamos de entrar.

Dito isso, ensinarei agora de maneira que mesmo sozinhos possamos iniciar nossos esforços. Como dissemos, existem tipos diferentes tipos de treinamentos meditativos.

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Como remédios, iremos dividi-los didaticamente em dois tipos: em treinamentos que ajudam aliviar tensões, e treinamentos que irão agir na erradicação das raízes das tensões.

Aliviando sintomas

Existe um tipo de atividade meditativa onde através de um estimulo mental, como uma lembrança ou uma visualização, nós estimulamos o surgimento de uma emoção positiva. Algo que nos coloque em um estado de amorosidade compassiva, uma grande paz e tranquilidade. Em seguida ampliamos esse sentimento, aumentando seu potencial e sua influência.

Então nós expandimos esse sentimento para toda a existência. Para o passado, o presente e o futuro, para toda classe de seres, vivos, não vivos, os que conhecemos e que ainda não conhecemos. E agora tudo está imerso em um sentimento terno.

Na prática, esse é um tipo de meditação que pode ser usado para nos ajudar em momentos quando nossas emoções foram além do que poderíamos prever. Se praticamos frequentemente dessa maneira, passamos a desenvolver o entendimento empírico de que as emoções podem ser ligadas e desligadas como um interruptor quando o estímulo mental apropriado for utilizado.

O resultado é que em meio a uma crise, temos a habilidade de alterar nossa forma de sentir e reagir mais apropriadamente, tirando o melhor de uma situação difícil.

Um único detalhe: a capacidade de usar a mente de modo a estimular as emoções com esse grau de eficiência está relacionada diretamente com a nossa habilidade de concentração. E para isso entremos no próximo treinamento.

Eliminando raízes

A mecânica funcional da insatisfatoriedade se relaciona o modo como reagimos automaticamente à estímulos sensoriais. Para elaborar um melhor entendimento sobre a função desse exercício meditativo está implícita a compreensão da seguinte premissa: sempre que eu movimento minha intenção em relação a algo eu estou gerando um potencial, uma força de influência criativa na realidade que terá efeitos em condições apropriadas. Em outras palavras, nossas intenções são como sementes que quando nutridas apropriadamente darão frutos.

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E existe uma segunda premissa que também deve ser explicitada: uma vez gerada a intenção não é possível anular a sua influência. Ou seja, ma vez que uma semente está plantada ela irá dar frutos no tempo propício, não é possível desconstruir os efeitos gerados por nossas intenções.

Os estímulos sensoriais que percebemos no presente o tempo todo são exatamente os frutos de sementes criadas por nossas intenções no passado. Se a intenção foi forte, seu efeito tende a perdurar por mais tempo. Se a intenção foi momentânea, fraca, seu efeito talvez passe até mesmo desapercebido. Mas a vida mostra que aquilo que criamos literalmente constrói a maneira como iremos experienciar a vida no mundo.

Se nós sentarmos de pernas cruzadas para “meditar” com o propósito de eliminar as bases nas quais nossas intenções são automaticamente reativadas de acordo com os estímulos dos sentidos, então o treinamento consiste em nos ocuparmos observar quais são os condicionamentos relacionados a cada estímulo sensorial.

Os gatilhos que desencadeiam nossa re-identificação em apego ou aversão a cada estímulo dos sentidos.

Existem em nosso corpo 6 bases dos sentidos:

Os ouvidos; Os olhos; O nariz; A língua, O corpo como sistema tátil; E a mente.

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Existem 6 objetos dos sentidos correspondentes a cada base:

As vibrações sonoras; A luz; Os aromas; Os sabores; A qualidade tangível dos objetos; E no caso da mente existem dois estímulos. A volição mental*, e as emoções**.

*Volição mental são os pensamentos, as lembranças, as idéias.

**As emoções são basicamente duas: abertura e fechamento. Tendemos a estar disponíveis, ou não, às experiências que temos. A forma como nos abrimos ou bloqueamos para as situações dará origem a todas as nuances de sentimentos que podemos experienciar: alegria, tristeza, euforia, apatia, raiva, frustração, amorosidade, e assim por diante.

Associando sentimentos à situações através do pensamento condicionado por desejos e motivos, automatizamos nossa resposta a cada estímulo sensorial.

Essas reações emocionais podem ser previstas se prestarmos atenção. O ponto é que nem todo nosso condicionamento passado foi construído em cima de pensamentos sábios, ou mesmo verdadeiros, a respeito da vida. Se nossas expectativas estão desalinhadas com a maneira natural como a vida se manifesta, estamos presos em uma situação mental que é a verdadeira fonte para as constantes frustrações.

Tudo que vivemos através dela é falta de assertividade e de correspondência entre o que esperamos sobre a vida, e a maneira como a vida realmente se apresenta.

Mesmo a sorte é uma habilidade. Quando estamos alinhados com um entendimento mais profundo dos processos naturais, nossos esforços se mostram constantemente reafirmados e potencializados pelo ciclo de eventos que seguem.

Existem exercícios para desligarmos essa reatividade, e acessarmos a habilidade de desidentificação correspondente ao viver meditativo.

O treinamento

Sento de coluna ereta, alinho meu pescoço com o restante da coluna abaixando levemente a cabeça. Irei entregar agora minha atenção à minha respiração. Entrego meu relaxamento a simplesmente assistir e acompanhar serenamente a respiração. Nesse momento eu me permito, pois não há nada que precise me preocupar, cuidar, não há mais nada por fazer.

Meu emprego, minha família, tudo mais poderia acabar agora e não haveria nada que eu pudesse fazer ou mudar, então eu apenas desisto e me entrego nesse momento… observar a respiração.

Isso configura apenas a qualidade de entrega. Agora, ao treinamento: sempre que eu perceber uma distração, eu observo, e me permito perder o interesse por isso. Volto à respiração. Quantas vezes for necessário repito o gesto de voltar a respiração, sem ansiedade, sem tensão.

As distrações fazem parte desse exercício, e não estamos lutando contra elas. Como tempo, o espaço de tempo entre uma distração e outra aumenta. E passamos a perceber as distrações logo que elas ocorrem.

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Em algum momento nossa mente haverá se acostumado com o gesto de não mais interagir “por conta própria” com os estímulos, e nesse momento dizemos que desenvolvemos a plena atenção. Plena atenção é a habilidade de voltar a atenção para algo e não perder o foco pelos desejos em interagir com estímulos sensoriais que chegam o tempo todo. A base para o viver meditativo é o que acontece quando passamos a voltar nosso foco para o momento presente.

Então, aquilo que vivemos no presente se torna tudo que existe, alheio à nossas preocupações com um passado que já se foi ou um futuro que não existe.

O que configura uma distração?

Uma vez que geramos uma semente, não há condições de eliminá-la. O mesmo vale para os seus frutos. Todos os estímulos sensoriais que experimentamos no presente são frutos de intenções no passado. Nosso treinamento consiste em mudar as bases da reação compulsiva aos estímulos dos sentidos, e não lutar contra os estímulos em si, o que seria um esforço em bases de aversão a algo criado por nós mesmos no passado.

Quando eu estou praticando esse treinamento, os sons não são uma distração. Os pensamentos não são uma distração. As dores sentidas no corpo pelo tato, o calor, o frio, não são uma distração. Os aromas, e os sabores não são distrações. A distração é quando eu me percebo interagindo com algum desses estímulos por apego ou aversão.

Por exemplo, se eu tenho comigo uma ideia, um paradigma associado à meditação que diz: “Para meditar, eu preciso de um ambiente completamente silencioso”. Sempre que eu sentar para meditar e um estímulo sonoro surgir, automaticamente a minha interação será de frustração, re-alimentando e recondicionando em aversão uma intenção que irá gerar novas sementes associadas à “ruídos no momento de meditação”.

Emoção é aquilo que nutre vida em nossos pensamentos. Literalmente, damos vida as nossas idéias através de nossas emoções, e essa se torna a realidade que vivemos. E quando fazemos isso descompensadamente, experienciamos a vida de acordo com o que criamos em aversão ou apego, reafirmando e potencializando a mecânica daquele modo operante que chamamos de insatisfatoriedade.

Quando não tenho o que desejo, eu sofro. Quando tenho o que desejo, eu temo perder o que consegui. Quando não posso me afastar do que me desagrada, eu sofro. Quando consigo me afastar, temo por perder o conforto que consegui.

Estou meditando corretamente?

A princípio somos levados a crer que não estamos meditando corretamente, pois nossa mente continua a observar pensamentos e outros estímulos que não vão embora. O princípio do treinamento que ensinamos não consiste em buscar a mente vazia. É o de não reagir compulsivamente aos estímulos. Notar quando uma reação acontece.

Podemos perceber inclusive nosso humor se alterando antes que ele desencadeie reações que talvez nos arrependeríamos posteriormente.

Os ruídos mentais são apenas ecos, que continuarão surgindo enquanto realimentarmos suas bases em nosso dia a dia. Quando sentamos e focamos nossa atenção na respiração, apenas passamos a nos dar conta de tudo que rodeia nossa mente o tempo todo. E normalmente é como uma mesa de trabalho que nunca está limpa.

Com a continuidade do treinamento, o seguinte acontece: passamos a notar padrões em nossa mente, e conseguimos a traçar as correlações entre aqueles ecos e suas origens, bem como os efeitos emocionais que eles despertam em nos.

A partir dai as mudanças acontecem naturalmente.

Quando eu percebo os efeitos desgastantes de certo comportamentos, é espontâneo o gesto de abandonar uma conduta. Isso é sabedoria, e é completamente diferente de decidir mudar algo em nosso comportamento motivado por desejos. Seja qual for a motivação, interna ou externa, um desejo carrega em si carrega em sua sombra a pressão do fracasso e da cobrança.

Qualquer ação motivada, implica em tensões, e essa é a diferença do viver meditativo. Mudanças acontecem, mas não são programadas.

A vida condicionada por motivações não é a vida meditativa. E uma não é melhor ou pior que a outra, mas ambas são opções. Seus efeitos diferem entre harmonia ou atrito, e agora que conhecemos as alternativas podemos escolher viver como queremos. não somos mais vítimas de circunstancias sociais.

Então, muita alegria na vida.

Ela é nossa para experimentar!

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