Produções de expedições que são filmadas com uma câmera somente não são propriamente uma novidade em filmes outdoor.
Muitas produções de qualidade foram feitas usando a técnica da pessoa virar a câmera, apontar a si mesmo e produzir o material que será apresentado no decorrer do filme.
A mesma técnica é usada por alguns repórteres na televisão.
A ciclista Renata Falzoni foi uma das precursoras deste tipo de novidade técnica, porém somente na televisão.
O interesse por desafios inusitados em lugares que nunca estão nas revistas outdoor “popularescas” e que estão em iminente fechamento) sempre são atração para público sempre hávido por novidades.
Com todos estes ingredientes à mão o escalador Kyle Dempster abraçou a idéia “maluca” de ir até Quirguistão, percorrer o país de bicicleta e escalar nas montanhas lindíssimas que existem no país.
O Quirguistão é uma república da Ásia Central e ex-integrante da antiga União Soviética.
Com todos estes dificilmentes dificilmente deixaria de ser uma obra interessante de assistir
Dempster com seu carisma , aliado a um trabalho de pós produção impecável, elevou sua produção a um degrau acima do que um filme outdoor tem ambição de ser.
O filme começa com uma cena bem inusitada, e que faz parte de seu trailer: Kyle Dempster totalmente nu apenas abraçado a sua bagagem e planejando atravessar um rio de forte correnteza explicando o porque daquilo tudo.
A partir daí seguem as memórias gravadas por Kyle nas situações mais inusitadas possíveis.
Por inusitadas entenda: cenas com o protagonista completamente embriagado com vodka e explicando o porque do porre.
Conduzindo todas as cenas com bom humor e simpatia a produção envolve o espectador com facilidade.
Com a identificação do espectador o ápice da produção fica ainda mais carregada de emoção e cumplicidade.
Um detalhe: todas imagens do filme foram captadas por uma GoPro, jogando por terra todos que acreditam que seja difícil a execução de um filme de qualidade com este material (incluindo a mim nesta preconceito)
Com tantas qualidades é fácil concluir ao final que o filme é envolvente por seu roteiro muito bem conduzido e por uma edição primorosa e inovadora.
Demonstrando com maestria que não necessariamente um feito heróico como uma cadena de grau alto, ou campeonato mundial conquistado são assuntos determinantes para um filme ser considerado bom.
Um bom filme outdoor se baseia em sua história, e não em cenas aleatórias.
Por isso ‘Road from karakol” se destaca dentre produções outdoor, pois documenta com documentado com qualidade e harmonia.
O conjunto disso tudo é uma história cativante e bem contada com imagens de qualidade mediana mas que passam despercebidas por causa da força e qualidade do roteiro.
“Road from Karakol” é sem dúvida nenhuma um filme que pode (e deve) ser visto e revisto por muitas “tribos” de esportes de aventura, porque agrega em todas suas imagens os melhores sentimentos vivenciados em desafios outdoor.
Kyle Dempster fez o filme com o mínimo de recursos possível mas provou elegantemente que com roteiro e edição de primeira qualidade produções de orçamento humilde podem tornar-se obras de qualidade indiscutível.
Dempster realizou não somente um filme, criou uma obra que deve servir de referência a todos.
Nota do Blog de Escalada
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.