A história completa da UIAA

Toda e qualquer pessoa que já tenha praticado alguma atividade de montanha já deve ter esbarrado na sigla UIAA. Union Internationale des Associations d’Alpinisme (UIAA) é a organização que representa interesses de alpinistas, montanhistas e escaladores ao redor de todo o mundo.

Formada em 1932 em Chamonix, França, quando 20 associações de montanhismo se reuniram para um congresso alpino. O conde Charles Egmond d’Arcis, da Suíça, foi escolhido como primeiro presidente. Em 2018, a UIAA declarou que representa mais de 3 milhões de escaladores e montanhistas de 91 organizações em 6 continentes e 68 países de todo o mundo.

Na indústria de materiais relacionados com a montanha e a escalada, UIAA desempenhou um papel crucial no desenvolvimento de padrões nas regulações de segurança para os equipamentos usados nestas atividades.

A UIAA é hoje o órgão regulador internacional de escalada e montanhismo e representa escaladores e montanhistas de todo o mundo em uma ampla gama de questões relacionadas à segurança na montanha, sustentabilidade e esportes de competição.

O International Climbers ‘Meet, o objetivo desses encontros é promover a boa vontade e a compreensão cultural por meio de nossa paixão compartilhada pela escalada, hospedando um grupo diversificado de habilidades de escalada de vários países.

O montanhismo como esporte

O montanhismo ocorreu nos anos 1300 e 1400 d.C., para fins não recreativos ou não esportivos, como religião e meteorologia. Foi a ascensão do Mont Aiguille (2.085 m) em 1492 que inaugurou a prática do montanhismo tático.

Montanhismo em um sentido esportivo contemporâneo nasceu quando em meados do século XVI, os europeus começaram a ter interesse nas montanhas, começando com as geleiras do vale de Chamonix, na França. Quando o Mont Blanc foi escalado pelo médico local, Michel-Gabriel Paccard, e seu porteiro, Jacques Balmat, é que foi considerado como prática esportiva.

As ascensões do Mont Blanc foram logo seguidas pela primeira ascensão da Aiguille du Midi (3.842 m) em 1818. A companhia de guias de Chamonix foi fundada em 1823 e é a mais antiga companhia dos guias de alta montanha do mundo. Ela foi criada por deliberação municipal com o objetivo haver alguém que ajudasse as famílias dos guias desaparecidos.

Meados do século XVIII, os montanhistas se reuniam nos Alpes e realizaram as primeiras escaladas de praticamente todos os principais picos da região. As expedições eram predominantemente lideradas por alpinistas britânicos e acompanhadas por guias suíços ou franceses. Foi durante esta década que o Clube Alpino da Grã-Bretanha foi fundado (1857).

Há quem considere os britânicos os criadores do montanhismo moderno, o que é um equivoco. O que os britânicos criaram na verdade foi o hábito de criar narrativas (bravatas) a respeito da superioridade britânica em relação às outras nações.

Com a possibilidade de ostentar conquistas onde não haviam fronteiras, a possibilidade de contar bravatas criou várias possibilidades entre os nobres. Por isso o alpinismo tornou-se um esporte da moda entre a nobreza, com guias oficiais e equipamentos cada vez mais técnicos.

Até o início do século XX, não havia qualquer regulação ou representação para montanhistas. a partir de 1870, todos os principais cumes alpinos haviam sido escalados, e os alpinistas começaram a procurar rotas novas, e mais difíceis, em picos fora do continente europeu. Portanto, no final do século XIX, os montanhistas voltaram sua atenção para a Cordilheira dos Andes (América do Sul), Montanhas Rochosas (América do Norte), Cáucaso (Europa oriental e Ásia ocidental), África e, finalmente, Himalaia.

No início do século XX ficou evidente que o que determinava a superioridade de um alpinista era sua capacidade de invenção de técnicas e desenvolvimento de tecnologia. Como sua popularidade aumentou, o esporte de montanhismo gradualmente tornou-se menos elitista.

Representatividade política

Com a popularização do esporte, que começou a ser praticado pela burguesia, não somente pela nobreza, houve uma preocupação do “espírito alpino” se perdesse ou fosse corrompido. Além disso, fez-se necessário que os alpinistas tivessem uma representatividade política.

Representatividade é a expressão dos interesses de um grupo (seja uma partido, uma classe, um movimento ou montanhistas) na figura de um representante. Ou seja, sera necessário que alguma associação política fosse o amálgama de todos os montanhistas.

Como a representação política dos alpinistas e montanhistas estava descentralizada, não havia o reconhecimento do que seria um montanhista ou alpinista. Havia, portanto a figura de um explorador (que na verdade era apenas um colonizador à época), que exercia funções mais políticas que esportivas.

Foi quando em 1932, pouco depois de longas discussões, que 20 associações de montanhismo se reuniram em Chamonix para um congresso alpino. Elas decidiram então decidiram fundar uma federação internacional que se encarregaria de “estudar e solucionar todos os problemas do montanhismo”.

Fundação da UIAA

Foi assim que a União Internacional de Clubes Alpinos (Union Internationale des Associations d’Alpinisme) foi fundada em agosto de 1932 em Chamonix. O local foi escolhido para a criação do UIAA por ser lá o berço do montanhismo mundial. O conde Charles Egmond d’Arcis da Suíça tornou-se o primeiro presidente.

Entre 1933 e 1939, a UIAA produziu mais de 25 relatórios escritos detalhados sobre vários tópicos. Muitos deles ainda são muito relevantes ainda hoje, como educação de montanhismo para jovens, estudos de avalanche e proteção de montanhas.

Apesar da crescente instabilidade política, 11 organizações se reuniram para uma Assembleia Geral em Zermatt, Suíça, nove dias antes do início da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra houve pouco contato entre os membros, embora alguns pudessem entrar em contato com a UIAA pelo correio.

Quando a guerra terminou, o presidente d’Arcis fez um grande esforço para reconstruir a federação. Ele acreditava que os montanhistas e a UIAA poderiam ter um papel importante na “reconstrução moral do mundo”.

Assim a UIAA não se rendeu ao continuísmo e são poucos os presidentes que duraram por vários anos (como acontece no futebol, COI e até mesmo no montanhismo do Brasil) e há uma alternância de poder.

Em 1947, a UIAA teve sua primeira Assembleia Geral do pós-guerra e, em 1950, cresceu para representar um total de meio milhão de alpinistas. O boletim UIAA foi criado em 1957 e o desenvolvimento de normas de segurança e testes de cabos começou em 1960. A primeira máquina de teste de cordas foi inventada pelo chefe da Comissão de Segurança da UIAA.

Mas a criação da UIAA, como foi descrito acima, era “solucionar todos os problemas” do montanhismo e o principal deles era a graduação de vias de montanhismo. Como cada lugar possuía uma, era necessária uma padronização. Assim era necessário um sistema de graus de escalada universal. Ironicamente foi finalmente resolvido com a criação da grade de escalada UIAA 40 anos depois.

Outro grande projeto na década de 1960 foi interromper um projeto italiano para construir um teleférico até o cume do Matterhorn e um plano para construir uma ferrovia até o topo do Jungfrau. Ambos os protestos foram bem-sucedidos, mas a UIAA não conseguiu impedir outros projetos, como a construção de teleféricos na França (conexão de Aiguille du Midi a Col du Géant) e na Suíça (Monte Pilatus).

Logotipo e normas

Em 1960, foi criado o selo de segurança UIAA para equipamentos de montanhismo, aprovado internacionalmente em 1965. O selo precisava ter um logotipo e, como o trabalho precisava ser feito rapidamente, o membro do comitê J. Juge pediu a seu filho que desenhasse uma montanha, em seguida, adicionou as letras UIAA e o círculo. A

gora os montanhistas sabiam qual símbolo procurar ao comprar equipamentos e, para muitos jovens montanhistas, ver esse logotipo é o primeiro encontro com nossa federação.

Na década de 1970 e no início da década de 1980, houve uma maior conscientização sobre o impacto ambiental do montanhismo. Já em 1982 resultou na declaração da UIAA em Kathmandu, que é um apelo à ação contra a degradação das montanhas.

A Comissão de Segurança da UIAA desenvolveu padrões para mosquetões, capacetes e arreios e, em 1982, o aniversário de ouro foi celebrado em Chamonix e Kathmandu. Outra questão importante era o acesso às montanhas. A UIAA também concordou com um 7º grau de dificuldade na escala de escalada.

No início dos anos 90, foi realizada a primeira Copa do Mundo de competição de escalada, preparando o terreno para nossos esportes competitivos. Houve uma maior conscientização sobre as questões éticas relacionadas ao montanhismo e a Assembleia Geral aprovou por unanimidade uma moção contra voos turísticos nas montanhas.

Em 1995, o Comitê Olímpico Internacional confirmou que a UIAA foi reconhecida como a federação que representa os esportes de montanhismo. A UIAA também publicou um dicionário multilíngue de termos de montanhismo, para facilitar a comunicação de escaladores de diferentes países.

Competições

Stefan Glowacz. e Patrick Edlinger | Foto: http://www.parcoavventuraorma.it/

Em 1999, foi criado o conselho internacional da UIAA para competições de alpinismo de esqui (ISMC) e em 2003 foi formada uma comissão para competições de escalada no gelo. Em 2002, a UIAA publicou o “Summit Charter” descrevendo os valores e princípios da organização. Nesta década também foi criada o 8º grau na escala UIAA.

Em 2006, a Assembleia Geral da UIAA reconheceu que não era mais possível manter todas as seções da UIAA juntas como uma única federação. Portanto, uma federação internacional independente para competições de escalada, a International Federation of Sport Climbing (IFSC) surgiu.

A decisão foi um consenso entre os dirigentes e não uma cisão como muitos chegaram a erroneamente propagar. Várias federações ao redor no mudo, sobretudo na América do Sul não quiseram seguir o mesmo caminho, provocando disputas políticas que terminaram com criações de ligas independentes fundada pelos dissidentes, como aconteceu no Brasil.

Assim a escalada no gelo continuava a fazer parte da UIAA e as competições de escalada indoor passaram a ser organizadas pelo IFSC. Em 2007, a UIAA celebrou seu 75º aniversário e, em 2009, a federação contava com quase 1,3 milhão de membros em todo o mundo.

Em 2009, a UIAA em sua Assembleia Geral aprovou a “Mountain Ethics Declaration“, um código para os valores do montanhismo e que define a ética do espírito esportivo e o respeito pelas culturas e pelo meio ambiente.

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