Você já escutou falar da escaladora norte-americana Beth Rodden? Rodden, atualmente com 39 anos de idade, é conhecida por suas ascensões em vias de grande dificuldade. Beth Roddenfoi a mulher mais jovem a escalar uma via de graduação 5,14a norte-americana (10c brasileiro).
Beth também é uma das únicas mulheres no mundo a realizar uma escalada tradicional de graduação 5,14c (11b brasileiro). Junto de Tommy Caldwell, foram casados de 2000 a 2010, completaram a segunda subida em estilo livre do “The Nose”.
No mesmo período, Beth Rodden fez a primeira subida da via “Meltdown”, uma das escaladas tradicionais mais difíceis do mundo.
The Curious Climber Podcast
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A escaladora há muito tempo defende em suas redes sociais a natureza genuína das pessoas contra expectativas irreais. Além disso, defende a consolidação da autoestima com as características físicas de cada uma.
Recentemente Beth Rodden esteve presente no podcast “The Curious Climber Podcast”. Nele falou abertemante sobre a realidade das mulheres na escalada e em como aprendeu a gostar do processo de maternidade e mudança corporal após tornar-se mãe.
Comandado pelas britânicas Hazel Findlay and Mina Leslie-Wujastyk, o podcast com poucos episódios já se tornou um dos mais importantes da escalada mundial. Tendo Beth Rodden, muitas escaladoras, sobretudo as que se tornaram mães recentemente, receberam a mensagem da escaladora norte-americana.
No podcast (que pode ser escutado no topo do artigo), Rodden também fala sobre como está sua escalada hoje. Disse que fez o seu melhor e que, para espanto de muitos dos que valorizam o grau escalado, sente mais prazer em escalar vias mais fácies do que romper as barreiras do esporte.
Manifesto no Instagram
O episódio com Beth Rodden teve grande repercussão e, como não poderia ser diferente, a escaladora resolveu usar suas redes sociais para ampliar a sua mensagem. Muito disso para tentar quebrar um pouco a barreira de que escaladores tem de estar no auge da forma todo o tempo.
Ao contrário de vários escaladores que compram seguidores nas redes sociais para ostentar uma falsa popularidade, Beth abriu o jogo de uma maneira pouco vista entre escaladores e escaladoras.
O realato (que está na íntegra logo acima), pode ser lido em sua tradução abaixo:
Quando estava grávida, recebi elogios maravilhosos do meu corpo em crescimento quase diariamente. Foi lindo. Eu fiquei radiante.
“Olhe para aquela barriga esplêndida”. “Quando nascerá?”, “Não é um milagre?”.
Com quatorze quilos a mais, foi como uma distração refrescante do diálogo habitual sobre peso e condicionamento físico como atleta profissional.
Mas, após o nascimento, os elogios tornaram-se sugestões bem-intencionadas sobre exercícios, dietas, produtos e conversas pós-parto do tipo :”veja quão difícil a escala já deve ter sido a amamentação”.
Agradeci a todos, desejando retornar ao meu corpo familiar, mais magro, onde me sentia no controle. Mas depois de anos de amamentação, dietas e exercícios, meu corpo ainda estava diferente.
E mais do que isso, eu era diferente. Comecei a me perguntar por que o corpo da mulher grávida é venerado como algo sagrado, mas depois é hora de tonificar, fortalecer, pedir desculpas pelo inconveniente e voltar ao normal.
Por que é costume esconder nossas identidades mais suaves e flácidas?
No ano passado, comecei a me perguntar onde e por que aprendi isso, e assim comecei minha transformação de autodesprezo em autoestima .
Meu corpo pós-parto adotou uma liberdade que me levou aos meus melhores dias de escalada, amizades mais genuínas, sexo melhor e a força de ser vulnerável em público e me aceitar em particular.
Eu me sinto muito agradecida. A próxima vez que você achar que deve esconder seu corpo, pense nas possibilidades que podem surgir se não o esconder!
Espero que minhas publicações ajudem alguém a lutar contra as expectativas irreais que todos temos.
Demorei anos (e ainda estou em processo), mas foi a jornada mais libertadora da minha vida. Vamos fazer algo normal, não corajoso, para compartilhar nossa verdadeira natureza.
Argentina de nascimento e brasileira de coração, é apaixonada pela Patagônia e Serra da Mantiqueira.
Entusiasta de escalada, trekking e camping.
Tem como formação e profissão designer de produto e desenvolve produtos para esportes de natureza.