COI confirma escalada como esporte olímpico para Toquio 2020

O Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou hoje a inclusão de softball-baseball, skate, escalada esportiva, karatê e surf como esportes de exibição para a próxima edição dos Jogos Olímpicos de Verão, marcados para meados de 2020 na cidade de Tóquio, no Japão. A inclusão destes novos esportes incluirá 18 eventos a mais nas datas dos Jogos Olímpicos de 2020. Assim haverão mais 474 atletas incluídos no programa olímpico de Tóquio, e seria a evolução mais completa do programa olímpico da era moderna.

Após a apresentação formal do presidente da COL Yoshiro Mori que falou sobre todos os melhoramentos que o Japão está implementando no país, e que ficará como legado dos jogos em terras nipônicas, foram apresentadas pelo CEO (Chief Executive Officer) Toshiro Muto as estruturas que serão erguidas para os jogos.

O anúncio oficial da escalada como esporte olímpico foi feito pelo presidente do CEO Toshiro Muto, posteriormente, que também incluiu softball-baseball, skate, karatê e surf. A escalada será disputada na forma de boulder, dificuldade e velocidade.

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Logo após as apresentações e motivos para fazer os cinco novos esportes tornarem-se olímpicos foi aberto um debate para esclarecimento dos detalhes de cada esporte. O surf foi o esporte mais questionado por grande parte dos delegados antes de abrir a votação por ser muito dependente do clima. No caso do skate a preocupação foi pelo fato não há uma competição oficial em nível mundial para definir o campeão mundial. O case de sucesso da inclusão de snowboard (que gerou muita audiência e interesse de mídias televisivas), nas olimpíadas de inverno, foi usado como case de sucesso para justificar a inclusão de cada esporte.

Para acomodar os novos atletas das novas modalidades serão tomadas algumas medidas para manter o número máximo de 10.500 atletas na vila olímpica. As medidas não foram detalhadas mas especula-se que será a redução de modalidades. Nos debates a escalada foi considerada, além de inovação das modalidades dos jogos, como das mais interessantes modalidades por “misturar várias habilidades atléticas”, segundo argumentou o Toshiro Muto.

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Na votação a escalada como esporte olímpico foi aprovada por unanimidade.

A confirmação era esperada com muita apreensão por toda uma comunidade de escaladores e já existia um site exclusivo dedicado à escalada como esporte olímpico assim como até mesmo um documentário a respeito sobre o assunto foi disponibilizado para visualização do público.

Conforme anunciado primeiramente, e com exclusividade para todo o Brasil, no começo de junho pela Revista Blog de Escalada,o interesse do COI em incluir escalada esportiva nos Jogos Olímpicos foi confirmado hoje após longa reunião no Rio de Janeiro e que durou mais de 4 horas. A sessão da 129º reunião do Comitê Olímpico Internacional pode ser assistida na íntegra na página oficial do evento (legendas em inglês e francês estão disponíveis).

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A decisão inédita é comemorada entusiasmadamente pelo International Federation of Sport Climbing (IFSC), que após tornar-se uma entidade desvinculada do Union International des Associations d’Alpinisme (UIAA) conseguiu administrar as competições de tal maneira que se popularizaram, sobretudo na Europa. A elaboração de regras unificadas de competição foi um dos fatores que contribuíram para este fortalecimento. O IFSC será o responsável por estabelecer as regras de índice Olímpico para os atletas assim como serão as competições de escalada esportiva disponibilizadas no evento.

Na proposta inicial, que tramitou no COI e foi analisada pelos delegados, está a possibilidade de incluir 40 atletas na escalada esportiva (20 homens e 20 mulheres).

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Foto: http://www.constant-climbing.com/

América do Sul tem poucas competições

Sem dúvida nenhuma a escalada como Esporte Olímpico é o passo mais importante para o desenvolvimento da escalada esportiva no mundo, sobretudo para as suas competições, que prosperam somente na Europa. Nos EUA algumas etapas voltaram a serem organizadas após um longo hiato.

Até os Jogos Olímpicos 2020, pelo menos em teoria, daria tempo também de federações ainda não consolidadas na organização de competições do esporte, como quase todas na América do Sul, terem parâmetros e metas para uma melhor preparação de seus atletas.

Porém atualmente o retrato existente na América do Sul não é animador: há poucas competições de escalada e pouquíssimos atletas representando seus países nas etapas organizadas pelo IFSC.

Foto: http://www.ifsc-climbing.org/

Foto: http://www.ifsc-climbing.org/

Algumas iniciativas de organizar centros de preparação de atletas de escalada esportiva, já se adiantando ao anúncio do COI no dia de hoje, foram tomadas em Santa Catarina por empreendedores locais. Porém é uma iniciativa embrionária e a exceção dentre todas as academias do Brasil e da América Latina.

Particularmente no Brasil existem duas entidades representativas após o racha que aconteceu após um anuncio da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) que não mais pagaria a taxa de filiação do IFSC. Alguns dias após o anúncio a CBME voltou atrás, mas alguns dissidentes optaram por fundar uma liga independente e filiarem-se eles mesmos ao IFSC. Desta cisão nasceu a Associação Brasileira de Escalada Esportiva, que desde então anualmente organiza etapas únicas de campeonatos nacionais nas modalidades Boulder e Dificuldade.

O impacto desta animosidade entre as entidades de escaladores no Brasil foi um esvaziamento de atletas em competições e mesmo com 26 estados e 1 distrito federal, apenas um se disponibilizou a organizar um ranqueamento regional. O lado positivo desta queda de braço foi o ressurgimento de várias datas, o que não vinha acontecendo desde a cisão de entidades, e de eventos competitivos que não necessariamente são vinculados a nenhuma das duas entidades.

Na Argentina, um dos destinos favoritos de escaladores de todo o continente também não é diferente. Não há um calendário de competições definido e tampouco uma entidade representativa de competidores como já há no Brasil. Algumas das competições existentes no país ainda são regionais.

Foto: FEMERJ

Foto: FEMERJ

No Chile, apesar de todo o desenvolvimento comercial que vivenciou o esporte nos últimos anos, também engatinha e não tem uma competição que visa preparar atletas para competirem nas datas do IFSC. Existe no país chileno apenas competições organizadas por marcas de indumentárias, mas que possui regras próprias e nem sequer consta no calendário oficial do IFSC.

Os países mais avançados na organização de competições de escalada esportiva estão o Equador e Venezuela.

O primeiro possui seleção nacional e vem procurando formar atletas que participem do maior número de etapas do calendário do IFSC possíveis.

O caso da Venezuela é difícil de prever alguma coisa diante da situação política e econômica que o país vive. A seleção de escalada esportiva venezuelana era bancada pela política de incentivo ao esporte chavista e pelo esgotamento deste modelo político dificilmente os escaladores terão força de organizar ou participar de qualquer evento do esporte.

Foto: Flavia dos Anjos

Foto: Flavia dos Anjos

Possibilidade para atletas brasileiros

Agora a escalada como esporte olímpico abre infinitas possibilidades de crescimento do esporte e, claro, como negócio para marcas e empresas. As marcas já estabelecidas no mercado mundial passarão a investir em países que antes não estavam presentes.

Já as marcas brasileiras é uma oportunidade única de investir no crescimento do esporte e na organização de eventos. Uma realidade que não acontece, pois por uma escolha estratégica escolheram não patrocinar nenhuma atleta.

No Brasil hoje apenas marcas internacionais patrocinam pouquíssimos atletas, preferindo erroneamente investir na promoção de seus produtos através de sub-celebridades e apresentadoras de obscuros programas de TV.

As marcas brasileiras de produtos outdoor por sua vez, mostrando certo nível de amadorismo, optam por apenas investir em posts em redes sociais e apenas doar equipamentos a atletas e eventos, mas se omitem fortemente de patrocinar.

Foto: escaladoras_do_brasil | https://instagram.com/escaladoras_do_brasil

Foto: escaladoras_do_brasil | https://instagram.com/escaladoras_do_brasil

Na história do esporte no Brasil nunca houve um atleta que se classificasse para as finais da copa do mundo de escalada e, pela quantidade de atletas focados nas competições do IFSC, será surpreendente, mas não impossível, que um atleta se classifique com índice olímpico para Tóquio.

Resta portanto que algum atleta fenômeno desponte em competições e que, com o anúncio no dia de hoje, os eventos tendem a ter um crescimento do número de datas e premiações para motivar toda a comunidade a participar. Resta às entidades representativas de escaladores aparar as arestas, abandonar o amadorismo e corporativismo e construir uma nova organização das competições de escalada, agora esporte olímpico.

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