Por que o Monte Everest foi nomeado assim?

Você já se perguntou o motivo de que o Monte Everest (8.848 m) foi nomeado com um nome inglês? O local, que agora conhecemos como Monte Everest e está na divisa entre Nepal e Tibet, era conhecido pela população local como Sagarmatha (Deusa Mãe do Mundo) em nepalês, Sagarmatha (Mãe do Universo) em tibetano e Zhūmùlangma Fēng (Santa Mãe) em chinês.

Como pode ser observado pelos nomes, o Monte Everest é percebido por muitos moradores locais ao longo do tempo, como a mãe de todas as montanhas.

O início das medições

Em 1715, o Império Qing da China (última dinastia imperial da China precedida pela dinastia Ming e sucedida pela República da China) pesquisou a altura da montanha enquanto mapeava seu território. De acordo com dados históricos, há descrições de Monte Zhūmùlangma Fēng no mais tardar em 1719.

Por volta de meados do século XIX, a maior potência do mundo era a Inglaterra. O Império Britânico foi o maior império em extensão de terras descontínuas do mundo. No auge, em 1920, o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, 25% da população mundial e abrangia 20% das terras do planeta.

No ano de 1802, os britânicos começaram a O Great Trigonometrical Survey (algo como Grande Levantamento Trigonométrico) da Índia para determinar os locais, alturas e nomes das montanhas mais altas do mundo. O projeto foi executado ao longo do século XIX no Raj Britânico (denominação não oficial para o domínio colonial do Império Britânico).

Começando no sul da Índia, as equipes de pesquisa foram se movendo para para o norte do país. De acordo com os relatos históricos, os teodolitos pesavam aproximadamente 500 kg e exigia 12 homens para transportar. Estes instrumentos eram os mais precisos da época.

Os britânicos chegaram à base do Himalaia na década de 1830. Entretanto, o Nepal não permitiu que os britânicos entrassem no país com suspeita de “agressão política” (leia-se invasão) e possível anexação. Ambas práticas comuns do império britânico. Com a resistência dos nepaleses, britânicos foram forçados a continuar suas observações a partir de Terai, uma faixa de território na zona fronteiriça do norte da Índia, a qual é paralela ao Himalaia.

Kangchenjunga é considerado o mais alto

Andrew Scott Waugh, o sucessor de Sir George Everest.

No ano de 1847 os britânicos começaram observações detalhadas dos picos do Himalaia a partir de estações de observação de até 240 km de distância. No mesmo ano o inspetor geral britânico da Índia, Andrew Waugh avistou o Kanchenjunga (8.586 m ) e o decretou como pico mais alto do mundo.

Nas suas observações, Waugh notou também que a uns 230 km de distância do Kanchenjunga, conseguia notar que existia uma montanha que se destacava. John Armstrong, um dos subordinados de Waugh, também viu o mesmo pico de um local mais a oeste e o chamou de pico “b”. O nome acabou sendo adotado pela equipe britânica de topografia. Após alguns estudos, mesmo à distância, Waugh escreveria mais tarde que as observações indicaram que o pico “b” era maior que Kangchenjunga

No ano de 1849, Waugh mandou o topógrafo James Nicolson para a área de observações do Himalaia. Nicolson fez duas observações de Jirol, um outro lugar a 190 km de distância. No lugar, em posse do maior modelo teodolito existente, fez mais de 30 observações de cinco locais diferentes, sendo o mais próximo a 174 km do pico “b”.

Seus dados brutos deram uma altura média de 9.200 metros acima do nível do mar. Este valor aconteceu por ter Nicolson desconsiderado a a refração da luz, que distorce os valores obtidos. Mesmo com os valores sendo contestados por algumas revisões, o número indicava claramente que o pico “b” era maior que o de Kangchenjunga.

Entretanto, James Nicolson contraiu malária e foi forçado a voltar para casa sem terminar seus cálculos. Michael Hennessy, um dos assistentes de Waugh, assumiu seu posto e implementou uma nova nomenclatura. Para Hennessy os picos agora eram batizados em números romanos, com Kangchenjunga chamado “Pico IX” e o pico “b” como “Pico XV”.

Radhanath Sikdar descobre a altura real

Radhanath Sikdar

Anos mais tarde, em 1852, um matemático indiano e topógrafo de Bengala que fazia parte da equipe em em Dehradun, chamado Radhanath Sikdar, foi o primeiro a identificar o Everest como o pico mais alto do mundo. Sikdar usou cálculos trigonométricos baseados a partir das medições de Nicolson.

Entretanto, o anúncio oficial de que o “pico XV” era o mais alto do mundo, foi adiado por vários anos, porque os cálculos foram verificados repetidamente. Problemas com a refração da luz, pressão barométrica e temperatura sobre as diversas distâncias diferentes das observações eram as alegações das equipes de trigonometria.

Finalmente, em março de 1856, James Nicolson anunciou suas descobertas em uma carta ao seu vice. Na carta Kangchenjunga foi declarado como tendo 8.582 metros e enquanto o “Pico XV” 8.840 metros.

Politicagem faz Pico XV virar Monte Everest

Sir George Everest

Embora a pesquisa britânica procurasse preservar nomes locais, Andrew Waugh argumentou que não encontrava nenhum nome local comumente usado para o Pico XV. Para outros picos, como Kangchenjunga (8.586 m) e Dhaulagiri (8.167 m) ele respeitou esta linha.

A escolha de Waugh por um nome local foi dificultada pela exclusão de estrangeiros do Nepal e do Tibete. De acordo com relatos históricos, alguns nomes como “Deodungha” (“Montanha Sagrada”) como era referido em Darjeeling (cidade da índia) e “Chomolungma” em tibetano eram os principais nomes. O termo ,”Chomolungma” apareceu em um mapa de 1733 publicado em Paris pelo geógrafo francês D’Anville .

Até o final do século XIX, muitos cartógrafos europeus acreditavam erroneamente que um nome nativo para a montanha era Gaurishankar (7.134 m), a qual é uma montanha entre Katmandu e Everest.

Andrew Waugh argumentou com o governo britânico que, na sua opinião, havia muitos nomes locais e, portanto, seria difícil escolher um nome em detrimento de outros. Para não desagradar a população local, além de também agradar os ingleses e sua grande autoestima, decidiu que o pico XV deveria ter o nome do pesquisador britânico Sir George Everest.

George Everest era seu predecessor como o general agrimensor na Índia. Como a proposta tem muito de politicagem e pouco de respeito à população local, o próprio Everest se opôs ao nome. Tentando remover esta ideia que não lhe agradou, afirmou à Royal Geographical Society em 1857 que “Everest” não poderia ser escrito em Hindi (língua derivada do sânscrito e falada por 70% dos indianos) nem pronunciada corretamente por um “nativo da Índia”.

Apesar dos apelos de George Everest, o nome proposto por Waugh prevaleceu e, no ano de 1865, a Royal Geographical Society adotou oficialmente o Monte Everest como o nome da montanha mais alta do mundo.

A elevação de 8.848 m foi aferida primeiramente por uma pesquisa indiana em 1955, feita mais perto da montanha. No ano de 1999, uma expedição americana do Everest, dirigida por Bradford Washburn, colocou uma unidade de GPS no ponto mais alto do Everest. A elevação da parte rochosa mediu 8.850 m, desconsiderando a parte de gelo.

Embora este valor não tenha sido oficialmente reconhecido pelo Nepal, é amplamente citado.

Iniciativas de mudar o nome Everest

Mais de um século depois, no ano de 2002, o jornal chinês People’s Daily, jornal em chinês simplificado publicado em todo o mundo com uma tiragem de três a quatro milhões de exemplares, publicou um artigo posicionando-se contra o uso do “Monte Everest” em inglês, insistindo que a montanha deveria ser chamada de Monte “Qomolangma”. O jornal pertence ao oficial do Partido Comunista da China.

O artigo argumentava que os colonialistas britânicos não “descobriram” primeiro a montanha. O local já haviam habitantes e a montanha era conhecida pelos tibetanos e mapeada pelos chineses como “Qomolangma” desde pelo menos 1719.

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