É possível ser um escalador vegano e manter o rendimento atlético no montanhismo?

O veganismo é uma forma de viver (não somente de se alimentar) que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração contra animais. Tudo o que está ao alcance do vegano que envolva sofrimento animal, é retirado da sua rotina diária. Para esta retirada, claro, é necessário uma análise profunda e não simplista das coisas. A partir desta análise, muitos adotam vários tipos de filosofias alimentares como, por exemplo, vegetariana, vegana, crudiveganismo, etc.

Cada indivíduo faz a escolha que bem entender e, exatamente por isso, deve também respeitar as escolhas de outras pessoas (não as obrigando a nada). Por isso ninguém é melhor ou pior que ninguém, para julgar a maneira com a qual cada um escolhe como se alimenta. Portanto não será debatido aqui neste artigo se a adoção de uma dieta vegana é saudável ou não. Este tipo de debate deve ser feito em algum congresso de nutrição e, claro, de maneira civilizada e orientada à razão e não pela emoção.

O que este artigo tem como propósito é servir de orientação a quem é simpatizante do vegetarianismo, veganismo ou qualquer outra linha alimentar e filosófica que por ventura existir. Para quem se alimenta de qualquer maneira, sem se preocupar com nada (engordar, emagrecer, ser saudável, ética, etc.), e se sentir feliz assim, continue o que adotou para sua vida. Para entender mais sobre o que é o veganismo e vegetarianismo, há um artigo completo aqui na Revista Blog de Escalada que serve de orientação para entender mais sobre cada uma das filosofias.

Para a elaboração deste artigo, foram consultados quatro nutricionistas diferentes, que procuraram elucidar sobre rendimento atlético e educação alimentar de quem adota a filosofia vegana. Nenhum dos profissionais consultados fez juízo de valor a respeito das perguntas, muito menos restrições.

Mitos sobre atletas vegetarianos e veganos

Um dos maiores mitos a respeito de atletas vegetarianos e/ou veganos é de que falta força ou potência muscular. Na verdade o grande prejuízo de uma pessoa que adota a dieta vegana é que, muito provavelmente, não consulta um profissional de nutrição. Por negligência à própria saúde, começam a adotar a restrição alimentar sem planejamento e, inevitavelmente, acabam impactando a própria saúde. Este tipo de postura faz com que o veganismo acabe adquirindo uma fama ruim em quem não entende o que aconteceu de fato.

Sem haver um planejamento nutricional para a migração para esta filosofia, acaba criando um estereótipo de que a pessoa está sempre como fome. Além disso, a postura agressiva e panfletária que muitos veganos adotam com as outras pessoas também colaboram para que a resistência e preconceito aumente em relação a esta filosofia. Portanto, o planejamento alimentar, para substituir as proteínas animais (como carne vermelha, frango, peixe, ovo e leite) por outras proteínas vegetais (quinoa, lentilha, chia, aveia e sementes) deve ser realizado (preferencialmente por profissionais de nutrição).

Um outro mito que atrapalha a imagem de veganos em montanhismo e escalada, é de que “não comem nada”. Esta afirmação geralmente é aplicada a pessoas que decidem aderir ao veganismo mas não se preocupam em preparar a própria comida quando vão a lugares remotos ou abrigos e montanha. Da mesma maneira que para um trekking, escalada ou hiking, uma pessoa deve selecionar previamente o que irá comer, um vegano deve também saber que muito provavelmente ninguém irá se preocupar em selecionar alimentos sem carne ou proteína animal.

O principal mito que cerca o veganismo é o de que ser vegano é ter alimentação saudável. Não necessariamente, pois alimentações com gorduras saturadas, carboidratos simples e álcool, também podem ser veganas e não necessariamente saudáveis. Por exemplo, uma pessoa que se alimenta somente de batatas fritas, polentas fritas, mandiocas fritas (ou mesmo cozidas), cerveja, vinho, caipirinha, hambúrgueres veganos com maionese (também vegana), etc, está longe de ser saudável. Portanto para saber se uma alimentação é saudável ou não é necessário analisar cada ingrediente e em como ele está sendo usado.

Rendimento esportivo

A ideia de rendimento esportivo diz respeito aos êxitos conseguidos ou que podem conseguir alguns atletas ou praticantes de esportes. Para aumentar ou otimizar o rendimento esportivo, os atletas devem estar em condições de explorar os seus recursos ao máximo. Embora o preparo físico e a técnica sejam aspectos principais no rendimento esportivo, existem também outros fatores como a psicologia e a capacidade táctica. Exatamente por isso, por possuir tantos aspetos distintos, um atleta de elite trabalha em conjunto com preparadores físicos, técnicos e psicólogos.

Portanto, a pergunta no início do artigo continua valendo: É possível ser um escalador vegano e manter o rendimento atlético no montanhismo? A resposta é DEPENDE. Caso o atleta tenha feito um planejamento de substituição das proteínas alimentares (de animal para vegetal) e otimizado o consumo adequado de alimentos, a resposta é sim. Entretanto, se o praticante decidiu tornar-se vegano da noite para o dia, sem nenhum planejamento e apenas inspirado pela filosofia, muito provavelmente irá sentir o rendimento esportivo despencar.

Todos os nutricionistas consultados, um mesmo mantra foi repetido: “Alimentação, vegana ou não para atletas, depende do bom equilíbrio entre carboidratos, proteínas e gorduras”. Os carboidratos fornecem energia, enquanto as proteínas e as gorduras ajudam a recuperação dos músculos após o exercício. Portanto, para um montanhista, escalador, boulderista, praticante de trekking ou hiking, cada atividade física exige diferentes tipos de dieta que deve ser planejada.

Portanto, sejam os praticantes de esportes, veganos ou não-veganos, devem seguir as recomendações básicas de uma dieta saudável e equilibrada e combinada da melhor maneira para chegar aos objetivos.

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