Conhece o nó prusik? Quem já praticou escotismo, montanhismo, escalada e pesquisou sobre os nós possíveis já deve ter “esbarrado” no nó prusik (sim, escrito com apenas um ‘s’). O famoso nó (também conhecido em Portugal como “prússico”) é um tipo de nó blocante de grande utilidade para sistemas de segurança e tração.
O austríaco Karl Prusik (mas de pais tchecos) nasceu em 1896 em Viena e, além de montanhista, também era professor de música. De 1939 a 1941 e 1951 a 1953, Prusik foi presidente do Österreichischen Alpenklubs (ÖAK) o clube alpino austríaco.
Prusik é mais conhecido como o inventor do nó que leva seu nome. Mas, segundo historiadores, não foi o único que desenvolveu.
De acordo com pesquisadores, além de boa parte contida no livro “History and Science of Knots” de autoria de John Turner e Pieter Van De Griend, o austríaco também seria o inventor/desenvolvedor do nó oito.
Grande parte dos nós foram registrados em outro livro: “Ashley Book of Knots”. Cada nó possui um código ABoK, considerado o “RG” dos nós inventados e desenvolvidos (assim como suas variações).
O livro de Clifford Ashley, publicado em 1944, foi o resultado de 11 anos de pesquisas e possui 3.854 nós registrados e 7.000 ilustrações.
O nós de Prusik
O nó oito é registrado nos códigos ABoK #420 #520 #570. Especula-se que o Dr Karl Prusik descobriu/desenvolveu o nó por volta de 1931.
O nó prusik, também desenvolvido em 1931, está nos códigos ABoK #1763.
Descrito pela primeira vez em uma publicação alpina austríaca de 1931 chamada ” Um novo nó e sua aplicação”, historiadores apontam que há uma evidência clara que o trabalho de Prusik se baseou em ideias anteriores, como o “boca de lobo” e “focinho de porco”.
Porém, a partir de nós conhecidos desenvolveu um nó que até hoje leva seu nome. O nó, originalmente chamado “Bernhardknoten” , tornou possível várias técnicas verticais usadas até hoje.
O nazismo
À primeira vista, muitos se perguntam porque todas as vezes que se fala de Karl Prusik frequentemente se usa o termo doutor. O termo é usado não porque era médico, mas porque possuía doutorado.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), Karl Prusik estudou musicologia e fez seu doutorado em 1923 tendo como tese as composições do músico alemão Sylvius Leopold Weiss e tornou-se professor do Wiener Konservatorium (Conservatório de Viena).
Como instrutor de escalada, Karl Prusik era um dos educadores alpinos que aplicava o darwinismo social, nome moderno dado a várias teorias da sociedade, que surgiram no Reino Unido, América do Norte e Europa Ocidental, desde a década de 1920. A teoria procurava uma nova verdade racial ou religiosa.
Prusik representou a legitimação social darwinista de um alpinismo de combate que deveria produzir uma nova pessoa: o alpinista, como o pensamento mais jovem do espírito mundial. Karl foi tenente na Guerra da Montanha de 1915-1918 e viu as virtudes do alpinismo como um avivamento para os próximos preparativos de guerra.
Assim, Prusik preparou o terreno para o militarismo para uma elite juvenil alpina-völkisch em Viena. Seu campo foi o 1920, com um aberto revanchismo do Clube Alpino Alemão e Austríaco (DuÖAV) cujo instrutor ele se tornou o 1921.
Prusik foi um dos apoiadores dispostos da elite do National Socialist Alpine Club liderada pelo nazista Arthur Seyss-Inquart e realizou cursos de escalada para instrutores até 1940. Em 1941, aos 45 anos, foi convocado como tenente da Wehrmacht (conjunto das forças armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich).
Em 1942, Karl Prusik foi promovido a Waupen SS da Hauptsturmführer (posto paramilitar do Partido Nazista) e recebeu a medalha War Merit Cross II Class.
Mais tarde, em 1947, Prusik, quando retornou da prisão, foi novamente o primeiro vice-presidente da ÖAK. Anos depois, entre 1951 e 1953, ele seria eleito presidente do clube .
A escalada e montanhismo
O Dr Karl Prusik também era um montanhista habilidoso e com várias marcas, fazendo as primeiras ascensões de mais de 70 novas vias. Entre outras coisas, foi o primeiro a escalar a parede noroeste do Planspitze (2.117 m) e a subir a borda sudoeste do Bischofsmütze (2.458 m).
Prusik também foi o primeiro a escalar o caminho em espiral (V) no Kleinen Zinne (2 999 m), bem como a borda nordeste do Kleinen Buchsteins.
Como explicado no início do artigo, seu legado mais conhecido foi o nó Prusik (ABoK #1763), desenvolvido em 1931.
Em 1932, cunhou o termo alemão Torlauf para corridas de slalom no esqui. Nos EUA, em 1948, os escaladores Fred Beckey e Art Holben nomearam uma montanha “Prusik Peak ” (2.395 m) na região de Cascade Range, no estado de Washington com o nome de “Karl Prusik”, depois de serem os primeiros a escalá-la.
Karl Prusik faleceu em 1961 e publicou diversos livros, entre eles: “Ginástica para alpinistas” em 1926 (Gymnastik für Bergsteiger), “Um instrutor de escalada de Viena” em 1929 (Ein Wiener Kletterlehrer) e “O alpinista Arquiduque Johann” em 1959 (Der Bergsteiger Erzherzog Johann).
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.