Crítica do filme “Team Foxcatcher”

team-foxcatcher-1Assim como acontece com alguns tipos de artes, os esportes de menor popularidade dependem muito de um mecenas para seu desenvolvimento e evolução. Exemplos não faltam em todas as modalidades, que por não atraírem atenção midiática, os praticantes destes esportes estão obrigados a brigar por migalhas de incentivo e patrocínio.

Mesmo nos esportes outdoor, como escalada, corrida de montanha e alpinismo, a necessidade de investimentos para a prática do esporte é indiscutível, o que deixa atletas, e até mesmo dirigentes de federações, expostos a pessoas que possuem vazios existenciais gigantescos e desejam artificializar o processo de crescimento do esporte em benefício próprio.

Estas pessoas se travestem de mecenas, ou filantropos, para se destacarem perante a sociedade ostentando glórias e conquistas que na verdade eles mesmos não seriam capazes de fazer por mérito próprio. Para isso sustentam atletas, constroem academias, promovem campeonatos, bancam associações e federações e, assim, criam toda uma atmosfera artificial para esconder a sua própria incapacidade. Em outras palavras, estes endinheirados “praticantes” optam por viver através de quem realmente pratica o esporte.

O documentário “Team Foxcatcher” coloca uma lupa sobre os acontecimentos ocorridos no centro de treinamento para atletas de luta greco-romana, batizado de Foxcatcher, na propriedade do bilionário John DuPont.

A história tinha sido contada anteriormente, sob a ótica particular de Hollywood, no filme “Foxcatcher – A história que chocou o mundo“, que ganhou diversas indicações ao Oscar porém, como era de se esperar, a produção não aprofundou muito na história em si, focando apenas em alguns personagens.

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Agora o documentário “Team Foxcatcher” coloca toda a equipe, com todos os seus principais integrantes, falando sobre suas versões do ocorrido que culminou no assassinato de David Schultz a sangue frio por John DuPont. Na época Shultz tinha apenas 37 anos e era o grande nome do esporte nos EUA.

Nesta produção original do canal de streaming Netflix, alguns detalhes que foram deixados de lado no filme hollywoodiano são abordados com maior frieza para reconstruir a história sinistra do time de luta greco-romana Foxcatcher.

Procurando desenhar a obsessão de DuPont em obter fama com esportes, o filme mostra que o milionário sempre bancou modalidades de menor apelo midiático em sua propriedade, como natação e esgrima, de olho sempre em promover-se como uma divindade viva para a mídia.

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John DuPont tinha uma desejo desesperado em ser idolatrado por algo, e foi nos esportes que bancava que viu a oportunidade de isso acontecer. Sempre que seu time ganhava, ele procurava a todo custo capitalizar toda a glória. Seu ego era tão grande que pedia a todos que o chamassem de águia (ave símbolo dos EUA).

Quando resolve dedicar-se à luta greco-romana, alguns detalhes demonstram como o ser humano faz tudo por dinheiro, inclusive enterrar os próprios princípios e dignidade, evidentes nas falas de cada integrante do time Foxcatcher. Todos entraram em um espírito de “oba-oba” assim que grandes aportes monetários começou a entrar para a prática de luta greco-romana.

Quanto mais dinheiro coloca no seu centro de treinamentos, mais as pessoas envolvidas (federação, atletas e imprensa) abaixam a cabeça para John DuPont, mesmo com o milionário cada vez mais demonstrando estar perdendo a lucidez. Até mesmo quando possuía atitude bizarras, socialmente falando, parecia não parecia incomodar ninguém.

Neste detalhe está o ponto forte do documentário: a que nível uma pessoa pode se rebaixar, convivendo com uma pessoa desequilibrada mentalmente, para continuar recebendo um salário fora da realidade para a prática do esporte.

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Utilizando em grande parte do filme tomadas originais da época, colocando sempre a tela “quadrada” e não widescreen, parece um roteiro programado desde a época em quem foi captado. As próprias imagens originais, maioria da década de 80 e 90, falam muito por si e oferecem riqueza visual à narração da produção. O expectador sente a certa altura que está vivendo junto dos integrantes do time.

Desde o nascimento da ideia de que queria criar um time, passando pelo auge de sua equipe, até a sua atitude de assassinar cruelmente Schultz sem change de defesa, a produção é quase que uma comprovação de que problemas que vão embora sozinhos voltam acompanhados. A cada declaração é nítido que ainda se perguntam o verdadeiro motivo de ter chegado ao ponto de haver um assassinato em um time esportivo.

Todos os integrantes do time poderiam ter saído da equipe, vivido em outros lugares fazendo o que bem entendessem, e nem mesmo DuPont poderia fazer nada. Porém a dependência, e submissão ao grande mecenas, fizeram com que todos ignorassem o respeito próprio, e até mesmo negligenciarem a sua própria segurança (caso de David DuPont).

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Tudo porque pensou-se, erroneamente, que vale tudo em nome do crescimento do esporte. Assim algumas brigas, desentendimentos, atitudes ruins, falhas de caráter, etc, foram varridos para debaixo do tapete em nome de um “bem maior”, que era ganhar uma medalha olímpica e praticar o esporte que gosta.

Team Foxcatcher” termina com imagens, e declarações, de cada um dos envolvidos (incluindo os filhos de David Shultz ), sobre o julgamento de John DuPont, que mesmo dando um final jurídico ao assassinato, deixa a pergunta no ar de que seria possível tudo aquilo ser evitado. O que é mais aterrorizador é que a resposta para esta pergunta não é fácil de ser respondida, pois quando se fala de mecenas qualquer atleta acaba por confundir sua paixão pelo esporte com a razão.

Esta confusão de sentimentos é compreensível pois quem pratica um esporte que não seja de massa e há uma pessoa rica investindo pesado em estrutura, a qual era o sonho coletivo dos praticantes (como, por exemplo, um moderno ginásio) o julgamento racional acaba sufocado. Isso é facilmente visto em qualquer esporte quando os praticantes começam a testemunhar seu “padrinho” a criar ginásios, bancar estilo de vidas incompatíveis com a realidade, e até mesmo dominar quem dirige o esporte como marionetes de um teatro infantil. Afinal o que os “John DuPont da vida” desejam é apenas preencher um vazio existencial e não ajudar no desenvolvimento de qualquer esporte.

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No meio disso tudo estão os praticantes que abdicam de sua dignidade porque “quero apenas praticar o meu esporte” e, assim, fecham os olhos para a realidade.

Nenhum esporte está livre de um John DuPont, por isso engolir e idolatrar indiscriminadamente  mecenas, de qualquer modalidade, apenas incentiva a criação de um problema maior que pode acontecer mais cedo ou mais tarde e de menor, ou maior, impacto como o documentado em “Team Foxcatcher“.

Os atletas de luta greco-romana dos EUA apostaram pesado de que conviver com alguém com comportamento bizarro, mas que bancava o esporte como se dinheiro nascesse em árvore, valeria a pena. Afinal, apesar de comportamento bizarro, ele bancava o esporte e isso era o mais importante. Será mesmo?

Nota Revista Blog de Escalada: 

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There are 3 comments

  1. Andries Viljoen

    A tragédia do esporte de elite, envolvendo os irmãos campeões olímpicos de luta livre, Dave e Mark Schultz, que impressionou o mundo, teve uma jornada relativamente longa até se transformar em filme. Provavelmente, foi preferível esperar o autor do crime, um dos benfeitores da luta profissional da época, John duPont, bater a botas, o que só ocorreu em 2010, mais de uma década depois. Porém, no caso dessa história, é melhor presumir menos e aguçar mais a sua desconfiança.

    Como sempre, toda a história contada baseada em fatos reais – principalmente, quando o é por meio de um filme – se torna uma versão dela mesma. E nenhuma versão jamais é parcial. No entanto, em Foxcatcher, o que possivelmente fez o filme se tornar alvo de tantas suspeitas e controvérsias, é o fato de que ele não abraça totalmente a versão que escolheu assumir.

    Bennet Miller, o diretor da produção, em vários momentos escolheu uma abordagem mais, digamos, livre, ao adaptar a história da tragédia, que é inteira fundamentada no relato de Mark Schultz. Mesmo ele próprio fazendo uma aparição no filme, Schultz não mediu palavras para expressar seu descontentamento com o diretor.

    Mas antes de tomar um lado nessa briga, vamos às polêmicas:

    John duPont (Steve Carrell) era uma espécie de “salvador’ para lutadores da época.

    Verdade! John du Pont financiava uma série de lutadores, e oferecia moradia e treinamento na fazenda Foxcatcher. Mesmo que Schultz, em entrevistas atuais, tente minimizar o quão boa era a oportunidade oferecida por DuPont, relatos de atletaas da época deixam claro que, em uma época de claro sub-financiamento do esporte, a chance era irrecusável.

    Nancy, a esposa de Dave, testemunhou o assassinato e presenciou a morte do marido.

    Verdade! Inclusive, a viúva foi umas das grandes apoiadoras do filme, estando presente em vários momentos das filmagens e cedendo objetos pessoais para a performance dos atores. Mais precisamente, ela presenciou o momento do terceiro tiro levado pelo marido, e ficou ao seu lado até que ele morresse. E assim como no filme, antes de fugir DuPont chegou a ameaça-la com a arma.

    Mark e Dave moraram em Foxcatcher ao mesmo tempo

    Mentira! Na realidade, Mark Schultz deixou Foxcatcher em 1988 e seu irmão Dave não iria chegar até 1989. A sobreposição das duas estadias foi uma escolha do filme para condensar a história em um período de tempo entre 1984 e 1988.

    A saída de Mark foi um dos motivos pelo assassinato de Dave

    Mentira! Como dito acima, já fazia 6 anos que Mark havia deixado Foxcatcher, e essas eram águas passadas. Ao contrário do que o filme sugere, era Dave quem era mais próximo e amigo de DuPont, estabelecendo um equilíbrio às loucuras do outro com seu temperamento estável e personalidade serena. Foi, na verdade, porque ele próprio considerava sair da fazenda, que DuPont perdeu a cabeça.

    Mark tingiu o cabelo

    Mentira! “Eu nunca tingi meu cabelo” (SCHULTZ, Mark). Polêmica esclarecida.

    Mark e DuPont tinham um relacionamento amoroso

    Mentira! Ou pelo menos é o que Schultz descreve como “uma mentira doentia e insultante.” Claro que só uma das partes hoje está viva para desmentir (ou não) a polêmica. Mas o que, de fato, lançou as sementes da dúvida é uma cena específica introduzida no filme, que Bennet Miller insistiu em manter como demonstrativo da personalidade invasiva e desequilibrada de DuPont. Indícios, de fato, não existem. Mas (curiosidade!) eles de fato usaram cocaína juntos.

    John DuPont era visivelmente louco

    Verdade! Relatos de outros lutadores que moravam em Foxcatcher se referiam a ele como “bomba-relógio”, e vários antecipavam atitudes drásticas e tempestuosas vindas dele. Mas como era ele quem proporcionava as circunstâncias ideais em que eles viviam dentro do esporte, ninguém se manifestava. Além disso, a esposa com quem o dono da fazenda Foxcatcher havia sido casado por 90 dias em 1983, já havia denunciado abuso e ameaças por parte dele. Falta de aviso não foi…

  2. Andries Viljoen

    O brasileiro tem uma visão muito errada do Wrestling, infelizmente. A maioria é alienado e não quer nem saber de ao menos se informar do que realmente é wrestling. É a partir dai que surgem comentários de pessoas sem noção como:
    “WWE Marmelada!”
    “O que leva um idiota a gostar de WWE ?”
    “Qual a graça de ver luta de mentirinha ?”
    “UFC é brutal, WWE é banal ?”

    WWE, terminologia mais comum para World Wrestling Entertainment, Inc., é uma empresa americana de entretenimento com capital aberto controlado privadamente que lida principalmente com luta profissional …

    E infelizmente graças a GLOBO o Brasil vai continuar com essa visão fechada, por muito tempo, espero que não quer dizer para sempre. A sociedade não entende simplesmente que, o wrestling foi feito para as pessoas se desafiarem e não ver 2 pessoas se agarrando numa briga de rua regulada. As pessoas vivem nessa de “WWE marmelada” mas se esquecem simplesmente de que, aquele filme que elas tanto gostam também é de mentira.

    Não só é de mentira como usa efeitos especiais, alguns imbecis dizem que o fan de wrestling é enganado… Enganado? Como assim? Eles agem como se algum fan de wrestling se senti-se ofendido quando alguém fala “WWE é de mentira”. Perceba que os países desenvolvidos AMAM wrestling, mas o brasileiro sempre cabeça fechada fica na mesma de criticar quem gosta de wrestling. Todos nós sabemos disso, e gostamos mesmo assim pois o wrestling é um produto de muito mais qualidade do que milhares de programas por ai que apenas os empresários de TV reinam.

    Voltando ao assunto: Wrestling no Brasil. Infelizmente graças a baixa conscientização do povo brasileiro o wrestling nunca vai fazer sucesso por aqui, o brasileiro tem a cabeça fechada, acha que só existe um esporte no mundo: não só de futebol como de outros esportes. Coisa de gente sem noção, qualquer pessoa que assista luta livre é mais mente aberta com atletismo e outros “esportes” do que um pessoa que perde tempo se concentrando em partidos políticos, seja qual for ideologia.

    Fechando o assunto, se não gostam de wrestling, ok eu entendo… Eu até concordo que todos tem liberdade e direito de criticar algo, mas no mínimo busquem saber o que ele é, busquem o conhecimento, o respeito, etc.

    Muitos indivíduos que criticam a WWE se esquecem que QUASE TUDO quem vem na TV aberta é de mentira, ou alguém aqui realmente acha que Pânico, Ratinho, Big Brother Brasil e os programas da Cristina Rocha são verdadeiros. É de mentira? Sim, todos nós sabemos disso, mas as pessoas se esquecem que qualquer fan de TV que perde praticamente uma vida vendo futilidades “tamanho família” como Carrossel, Chiquititas, BBB e outras bobagens. E as mesas redondas do futebol então? Enquanto na frente das câmeras Neto e Milton Neves se “atracam” fora dela os dois se amam, se agarrando e se bobear, até se beijam. Os mesmos que criticam a WWE são os mesmos que perdem horas assistindo a GLOBO, escutando Big Brother Brasil e fazendo outras futilidades.

    Enquanto nos outros países as crianças assistem wrestling desde criança, aqui é ao contrário, as jovens de 12 anos comemoram o dia das mães com seus filhos e os meninos de 12 anos comemoram os furtos realizados. A verdade é que graça a enorme falta de conhecimento do brasileiro daqui alguns anos não quero nem imaginar o que será deste POBRE PAÍS. Pessoas fazendo sexo nas ruas, desrespeito ao máximo, etc.

    O Brasil é um dos países com menos cultura de qualidade do mundo, enquanto lá fora se ouve uma boa música, com tranquilidade, educação e bons modos aqui você não pode nem sair na rua que já te roubam até o talo, e agora quando não se tem dinheiro, te matam.Todos jovens mal criados com péssima criação, que não valorizam sua vida e vivem da vagabundagem.

    Eu fico aterrorizado com a baixa qualidade da educação dos pequenos, hoje em dia saio na rua e vejo crianças de 3/4 anos dizendo palavrões horrorosos, e ainda por cima perto dos pais vagabundos que mostram isso para seus filhos. É graças a toda essa mal criação dos menores que os brasileiros são tão cabeça fechada a ponto de não entender o verdadeiro sentido do wrestling.

    ABRAÇO !!!!

  3. Andries Viljoen

    10 lições sobre mentores do filme “The Foxcatcher”! Aqui estão as lições que aprendemos sobre ser um mentor depois de assistir ao filme indicado ao Oscar, The Foxcatcher.
    Um mentor…
    1. Vê o potencial de um aprendiz.

    2. Abre o caminho para as pessoas que querem segui-lo.

    3. Direciona seus orientandos para o caminho certo.

    4. Fornece as ferramentas certas para seus pupilos para que eles possam melhorar seus potenciais.

    5. Os mentores fracassam, mas os mentores estão lá para pegá-lo de onde parou e o encoraja a recomeçar.

    6. Está ao seu lado em todos os seus jogos.

    7. Nunca deixa de ensinar o que sabe.

    8. Ainda melhora a si mesmo através do investimento em educação.

    9. Agarra suas armas, mesmo que os outros digam que o que ele faz é tolice.

    10. Escolha suas batalhas com cuidado, mas sabe como sair.

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