Bióloga faz estudo de como os escaladores impactam liquens e musgos

Os liquens são organismos que resultam de uma simbiose entre um fungo e um parceiro capaz de fazer fotossíntese, na maioria dos casos uma alga verde. Os liquens enchem de cor e formas os locais onde crescem: troncos e ramos das árvores (epífitos), rochas (saxícolas) ou solo (terrícolas).

O musgo é uma pequena planta que não possui caule ou raízes e podem ser encontrados em quase todas as partes do mundo, até mesmo nas regiões congeladas. Vivem em ambientes úmidos e sombreados e podem crescer sob diferentes substratos como o solo, rochas, troncos de árvores e até mesmo em paredes.

Um estudo recém-publicado na Eastern Washington University (EWU) por Giovanna Bishop, observou como a popularizção da escalada em rocha afetava os liquens e musgos pesadamente. Bishop, que começou a escalar durante a graduação, ficou imediatamente impressionada com a biodiversidade presente no mundo vertical.

Além de numerosos liquens, as falésias e afloramentos rochosos também são o lar de musgos, gramíneas, árvores e muito mais. Na verdade, afirma Giovanna Bishop, algumas árvores encontradas agarradas às encostas das montanhas são tão antigas e têm sistemas de raízes tão extensos que são consideradas árvores antigas.

Em todo o mundo, mais de 20.000 espécies de liquens cobrem cerca de 7% da superfície do planeta. O líquen ajuda a criar oxigênio, quebra lentamente a rocha no solo, pode ajudar a manter a sujeira seca e é tão sensível à poluição do ar que o Serviço Florestal dos EUA usa a presença ou ausência de líquen como um medidor de poluição do ar.

Tudo isso despertou o interesse de Bishop, que começou a estudar liquens e na EWU começou a estudar com a liquenologista Jessica Allen. A experiência de escalada de Bishop deu a ela as habilidades necessárias para fazer pesquisas bem acima do solo.

O que ela descobriu é até intuitivo: em vias de escalada, há menos liquens e musgos do que em faces não escaladas. Seu levantamento também revelou uma série de espécies de liquens até então não documentadas na região de Rocks of Sharon (estado norte-americano de Washington) e mostrou que certos tipos de liquens se beneficiam da presença de escaladores ao remover outras espécies de liquens e musgos, reduzindo assim a competição.

Conhecidos como líquenes crustosos, eles ficam incrustados na rocha e sobrevivem melhor do que outros.

No geral, as vias de escalada possuem menos biodiversidade do que as faces adjacentes não escaladas. Bishop examinou seis vias em Rocks of Sharon e 10 na McLellan Conservation Area. Ao longo de 2020, ela dividiu essas vias em lotes de meio metro quadrado e examinou os liquens e os musgos que encontrou.

Giovanna Bishop então repetiu esse processo nas faces adjacentes da falésia que não tinham vias de escalada e também analisou a dificuldade da via, a distância do início da trilha e a popularidade. Lembrando que o processo de conquista de uma via de escalada geralmente envolve uma limpeza extensa, e os escaladores usam escovas de aço para raspar o líquen, a sujeira e o musgo, e até mesmo descascam a superfície de rochas soltas, impactando na forma de vida existente ali.

A popularização da escalada e o problema ecológico

Uma vez estabelecidas, as vias de escalada são mantidas limpas por meio do tráfego ou por meio de escovações ocasionais. As vias podiam ser escaladas uma dúzia de vezes por ano, ou até menos, e o impacto ecológico da escalada era pequeno.

Mas nos últimos 20 anos, entretanto, a escalada explodiu em popularidade. Em 2019, mais de 2 milhões de norte-americanos escalaram na rocha, de acordo com um relatório de 2020 da Outdoor Foundation. Esses são apenas os números mais recentes em uma expansão de uma atividade outrora marginal.

Minimizar o impacto da escalada em áreas naturais é uma prioridade para a Bower Climbing Coalition, um grupo sem fins lucrativos com sede em Spokane que organiza a escalda na região. A presidente da associação Kristen Wenzel leu o relatório de Bishop e agradeceu ter mais informações sobre os impactos da escalada, especialmente porque a Bower Climbing Coalition trabalha próximo com os proprietários de terras locais e administradores de terras públicas.

Desde que Giovanna Bishop se mudou para Spokane em 2019, ela verificou que mais de 50 novas vias de escalada ou linhas de boulders foram desenvolvidas na região. Com isso em mente, Bishop alerta os escaladores e conquistadores de vias a escolherem cuidadosamente quando e onde fazerem novas vias e até sugeriu não desenvolver novas , embora tenha dito: “Não quero fechar nenhum lugar”.

Giovanna espera que os escaladores, incluindo ela mesma, considerem como a limpeza e a escalada afetam um organismo vivo antigo. “Quer você esteja conquistando uma via ou limpando, as pessoas não percebem que estão raspando um organismo vivo que demorou muito para crescer lá”, disse Bishop .

Para ler mais sobre o estudo: https://dc.ewu.edu

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