Eduardo como você visualiza a discussão dos conhecimentos de escalada pela mídia especializada?
Olha, até onde sei no Brasil não existem mídias especializadas em escalada.
Poucos se aventuram a escrever sobre o esporte, nos trazendo o máximo de notícias nacionais e internacionais.
O grande desafio mesmo é trazer as informações corretas para nossa realidade, mas, muitas vezes o que vemos são os mesmos assuntos sendo abordados (o porque do uso do capacete, como montar um rapel, como fazer uma parada equalizada, etc.) e várias opiniões divergentes, o que não é nada interessante para o público.
Minha dica é rever o que vai publicar, para não ficar divulgando algo repetitivo e até mesmo errado.
No Brasil há uma verdadeira avalanche de encontros de escalada. Você saberia identificar o motivo deste crescimento?
O esporte vem crescendo e nada mais justo do que termos encontros de escalada.
São experiências importantes.
Nos encontros acontece a troca de informações, conhecemos a cultura do local, revemos e fazemos amigos, fazemos nosso esporte crescer, entre outras coisas.
Tudo isso que eu citei é o que faz com que os encontros aconteçam.
Hoje muito se discute sobre a importância e o papel das federações. Qual a sua opinião a respeito disso?
Ao meu ver as Federações têm a função de promover nosso esporte.
Seja passando as diversas informações sobre escalada e montanhismo ou até mesmo organizando eventos (competições, caminhadas, etc.).
Ao apresentar a prática do montanhismo e/ou escalada para os iniciantes e curiosos, as federações ou associações devem lembrar que todo esporte realizado na natureza deve causar o mínimo de impacto possível ao meio ambiente.
Para nós, escaladores e montanhistas o apoio das federações e associações se torna indispensável, principalmente num país que respira futebol.
Nos últimos anos muitas marcas internacionais de equipamentos outdoor vieram para o Brasil. Como você visualiza este fato?
Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que possuímos produtos de ótima qualidade fabricados no Brasil.
E nada mais justo do que valorizá-los!!
As marcas estrangeiras são bem vindas, é claro, ainda mais diante da grande variedade existente.
O grande problema é que os produtos outdoor importados entram no Brasil e automaticamente são taxados com impostos abusivos.
E assim tudo fica caro demais.
Nossas marcas são boas e estão de olho não só nos praticantes da escalada, como também no público que simplesmente opta por utilizar produtos voltados aos esportes outdoor.
Conforto e qualidade é o que os atrai.
Na sua opinião quais são os melhores lugares de escalada da região sul? Porque?
Acredito que uma das coisas que mais atraem os escaladores é o nosso clima, além da variedades de rochas que temos por aqui.
Sem dúvidas o estado Paraná possui os picos mais famosos.
O Anhangava, próximo à Curitiba, pode ser considerado um ótimo ‘campo escola’ com escalada para todos os gostos.
O conjunto Marumbi por si só dispensa comentários, tenho amigos que falam que é um treinamento perfeito pra quem pretende ir à Patagônia.
Mas vale lembrar que, a escalada e/ou montanhismo no Marumbi definitivamente não é para leigos.
Outro pico ainda no Paraná que eu recomendaria TODOS os setores, é o São Luiz do Purunã!
Santa Catarina tem um dos picos que mais atrai escaladores na atualidade.
No município de Corupá encontramos o Parque Natural Braço Esquerdo.
Point de escalada esportiva da melhor qualidade, com vias variando entre 4° até projetos de 11° grau. Outro lugar que também vale a pena conhecer é São Francisco do Sul.
Lá podemos encontrar todas as modalidades de escalada: tradicional, móvel, esportiva, boulder, assim como na região da grande Florianópolis.
Garopaba e Laguna são outros dois lugares onde também rola um bom Climb.
Sobre o Rio Grande do Sul não posso falar, porque nunca escalei por lá, mas, muita gente fala ‘bem’ do Parque da Gruta em Caxias do Sul. Pelo o que falam é incrível!
Sejam bem vindos ao o nosso Sul!!! =)
Muitas pessoas reclamam que no Brasil não há uma cultura de montanha disseminada. Como poderia ser modificado este panorama?
Primeiro é preciso entender o que você quer dizer com ‘cultura de montanha’.
O que eu posso afirmar é que, no Brasil praticamos ‘montanhismo’ e não ‘alpinismo’ como muitos falam.
Acredito que hoje não temos como reclamar sobre a dificuldade de acesso ao montanhismo.
Está super fácil conseguir informações pelo Google.
Quem quer mesmo adentrar no esporte consegue achar associações, federações, praticantes, academias com escalada indoor, etc.
O que acontece é que, como não praticamos uma atividade esportiva com muita divulgação, as pessoas acham difícil o acesso, mas, o montanhismo existe praticamente em todos os estados do Brasil.
Vale lembrar que possuímos montanhas que atingem quase 3.000 metros.
Uma modalidade que esta sendo bem explorada nos dias atuais é o Trekking.
A Escalada, por sua vez é menos difundida.
Muitos dos nossos picos são poucos divulgados e, ainda existe muitos lugares a ser explorados.
Ao meu ver, a não comercialização da escalada é aceitável, pois, nosso esporte se praticado sem treinamento adequado pode vir a gerar situações de perigo.
Dentro da escalada utilizamos uma técnica vertical de descida, o famoso ‘rappel’, que é sempre bem comercializado por aí.
Essa técnica muitas vezes é subestimada, gerando acidentes, seguidos de Mortes .
Até mesmo escaladores experientes podem se machucar.
As competições de escalada está enfrentando um impasse com relação à organização de eventos. Como você visualiza esta realidade?
Este é um assunto bastante polêmico!!!
Escalo desde 2001 e sempre que posso participo dos eventos relacionados a escalada.
Nos bastidores das organizações vejo que, grande parte dos conflitos se tornam particulares.
Todos sabem que organizar qualquer evento é difícil.
E muitos dos eventos que acontecem acabam sendo criticados.
Atletas deixam de comparecer porque possuem rixa com outros grupos de escalada, a galera de alguns ginásios e academias não se da bem.
No meu ponto de vista, todos deviam ir à merda!
Falam sobre a evolução do esporte mas não ajudam.
Ao invés de ficarmos falando mal, por que não tentamos ajudar a melhorar?
Poderíamos nos unir, não estou falando que todos deveríamos ser amigos, mas, que não é impossível que lutemos pelas mesmas ideias, achar soluções sem sermos ignorantes.
Somos seres humanos!
Cometemos erros mas, também sabemos solucionar de pequenos à grandes problemas.
Peço desculpas pela sinceridade, mas eu quero o melhor para o meu esporte e procuro fazer a minha parte.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.