Remédio usado por montanhistas no mal de altitude pode ajudar no combate ao COVID-19

A dexametasona, o esteroide comumente usado para prevenir o mal agudas das montanhas, foi aclamado como o “maior avanço até agora” de Boris Johnson na luta contra o coronavírus. Assim como qualquer remédio tarjado, o corticoide dexametasona só deve ser utilizado com prescrição médica, afirmaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Importante salientar que a dexametasona não cura a infecção, nem é eficaz em todos os casos, mas é um avanço sólido que pode ajudar pessoas que desenvolvem sintomas graves de COVID-19 e necessitam de ventilação mecânica.

O estudo RECOVERY foi divulgado em março e é um dos maiores ensaios clínicos aleatórios e controlados para o tratamento do COVID-19. O estudo britânico constatou que a dexametasona reduziu as mortes de pacientes com COVID em ventiladores em aproximadamente um terço. É o primeiro medicamento mostrado para reduzir a taxa de mortalidade. “É um resultado surpreendente e terá um enorme impacto global”, disse Kenneth Vallie, médico intensivista da Universidade de Edimburgo e membro do comitê de direção da RECOVERY.

O estudo analisou mais de 11.500 pacientes com coronavírus em 175 hospitais diferentes, que se ofereceram para uma variedade de tratamentos experimentais. Cerca de 2.100 participantes receberam uma dose baixa de dexametasona (seis miligramas por dia) por 10 dias, e seus resultados foram comparados com 4.321 pessoas recebendo tratamento padrão para o vírus.

“O que vimos foi realmente notável”, disse Peter Horby, da Universidade de Oxford, que liderou a pesquisa. A droga reduziu as taxas de mortalidade em cerca de 35% para pacientes em ventiladores e em cerca de 20% para aqueles que necessitaram de oxigênio. O medicamento não teve impacto naqueles com casos leves de COVID-19.

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde alertaram contra o tratamento do coronavírus com esteroides, uma vez que suprimem o sistema imunológico, mas o estudo RECOVERY sugeriu que os benefícios do tratamento superam os possíveis danos. De fato, eles não encontraram efeitos adversos. “Este tratamento pode ser dado a praticamente qualquer pessoa”, disse Hornby.

Os dados do estudo ainda não foram publicados, por isso ainda há cautela, mas médicos consideram isso um grande ponto de virada, e o tratamento está sendo recomendado pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido. Com base nesses resultados, uma morte pode ser evitada em oito pacientes ventilados ou uma em cerca de 25 pacientes que necessitam de oxigênio isoladamente.

Se os médicos no Reino Unido tivessem prescrito dexametasona para os pacientes com COVID-19 mais doentes, até 5.000 mortes poderiam ter sido evitadas, dizem os pesquisadores.

Semanas antes, quando alguns médicos observaram que a pneumonia por COVID-19 apresentava semelhanças com a edema pulmonar de alta altitude (HAPE), o British Medical Journal e o European Respiratory Journal questionaram essa conexão.

O European Respiratory Journal afirmou que é improvável que o uso de medicamentos para o mal da altitude no tratamento do COVID-19 ajude e possa até ser potencialmente perigoso, mas isso foi antes dos resultados do estudo RECOVERY.

Qualquer pessoa que tenha tido uma experiência mínima com a altura do Himalaia e a maioria dos montanhistas de alto nível reconhecerão imediatamente esta droga. A dexametasona é o item número um no Kit de Primeiros Socorros em alta montanha e já salvou inúmeras vidas.

Seu uso em alta montanha é tão comum que a dexametasona também é considerada o segundo produto mais usado como doping no Himalaia, perdendo apenas para o tanque de oxigênio.

Para saber mais sobre o estudo RECOVERY: https://www.recoverytrial.net

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