Espalhados por todos os cantos do mundo da escalada estão escaladores considerados personalidades por suas comunidades.
Julio Campanella é uma destas pessoas.
Campanella é reconhecido como um escalador de vários estilos, e apaixonado pela escalada.
Tem como filosofia de vida ter a escalada na sua vida sempre.
Um sonho de muitos, mas realizado por poucos.
Por tanta dedicação ao esporte, o Blog de Escalada procurou Julio para uma entrevista no que fomos prontamente atendidos.
Leia a entrevista abaixo:
Júlio há pessoas que afirmam que pessoas que escalam no Rio de Janeiro conseguem escalar em qualquer lugar do mundo Você concorda com isso?
Eu acho o Rio um bom campo de treinamento e superações, por possuir diversos estilos de escalada.
Mas acredito que quem verdadeiramente gosta de escalar, respeita as éticas locais e a natureza para aventurar-se e sente a escalada pulsar em suas veias como o sangue vital.
Esse sim vai escalar em qualquer lugar do mundo.
Invariavelmente escaladores praticam mais um estilo do que outro. Qual o estilo de escalada que mais você gosta de praticar?
Me sinto vivo ao praticar e até mesmo em me expor em diversas escaladas.
Um estilo complementa o outro em habilidades e decisões diferentes, mostrando como é complexo e prazeroso executar suas próprias decisões, desde um posicionamento de um friend até um explosivo movimento corporal.
Algumas pessoas valorizam em excesso o valor do escalador pelo grau que escala. O que você pensa deste tipo de filosofia?
Cada um tem o direito de dar o valor que queira para um escalador, seja pelo grau ou afinidade e até mesmo ser o famoso”baba ovo”.
Para mim, grau apenas segue a escalada para dar uma referencia de segurança e dificuldade e também para qualificar quem treinou para isso e quem não, existe grau pra tudo, grau de dificuldade, de exposição e etc.
Acredito que o mais importante em um escalador, seja o que ele é como pessoa, e se fez um grau alto, parabéns, superou-se!
Os equipamentos utilizados para a escalada são caríssimos. Você acredita que é possível reverter este quadro?
Desde quando comecei escalar os equipamentos sempre foram caros no Brasil.
Antigamente não tínhamos acesso a muita coisa e os valores eram mais assustadores.
Mas já em outros países os valores são mais viáveis e com pouca grana se consegue comprar um kit básico e iniciar na escalada, talvez um dia a nossa situação se iguale à deles.
O ano de 2013 está por acabar, você conseguiu realizar algum projeto pessoal neste ano?
O maior projeto que tenho na escalada e viver escalando e tê-la presente na minha vida, no dia a dia, seja trabalhando como guia ou professor e também superando meus limites, em minhas escaladas.
Na sua opinião quais são os melhores lugares de escalada no Brasil e porque?
Conheço pouco deste imenso Brasil e não acho um lugar melhor que o outro, porque na realidade cada um tem seu estilo e é distinto do outro.
Basta você eleger o que busca na escalada e o que é melhor para aquele momento, mas sou vidrado nas escaladas do Estado do Rio de Janeiro, que são uma mistura de diversão, aventura e comprometimento.
No passado as escaladas foram criadas com mais ousadia e naturalidade e isso busquei como base para ser o escalador que sou, escalei em diversos lugares do mundo e percebi que a escalada brasileira é única.
Recentemente foi divulgado que as federações do Brasil não se interessam por promover um campeonato de escalada. Qual a sua opinião a respeito disso?
Não sou ligado a federações e competições, mas acho uma vergonha quando uma instituição se compromete em fazer e não faz nada pelo esporte, diferente dos atletas que visam as competições e treinam para isso.
Eles sim desenvolvem a escalada, mas quem deveria dar o apoio a eles em desenvolver a parte burocrática, não se interessa, deixando um quadro estagnado de competições, enquanto possuímos diversos atletas de nível e que são esquecidos.
Se valorizados poderiam mudar o quadro atual, mostrando o quanto o Brasil possui diversos escaladores de nivel alto, em competições mundiais.
Você acredita que as federações de montanhismo e escalada estão alinhadas com os interesses dos escaladores?
Na teoria todas visam o fomento, a preservação de nossa historia e da natureza.
Mas na prática algumas vezes deixam a desejar.
Mas existem federações que buscam seus fundamentos e objetivos em interesse comum com o escalador, como na busca de liberação de muitos acessos a montanhas e escaladas esportiva em diversos locais do Brasil.
Os incidentes com escaladores que desrespeitam locais de escalada cresceram muito nos últimos dois anos, a que você deve este fato
Cada vez mais o ser humano não respeita o próximo, e quando o próximo é uma rocha que não tem o poder de reagir naquele momento.
Fica mais fácil de ser agredida.
Não é só o leigo que começou ontem que altera e sim muitas vezes os veteranos que se perdem na vaidade e na falta de base em valores de educação e respeito a éticas locais.
Assim fazem o que querem, sem amor pela historia da nossa escalada e pela natureza.
E no decorrer destes 2 últimos anos, eu vi desde cavarem agarras no campo escola 2000, em pleno 2012, local que escaladores buscaram eliminar e aboliram os pontos de apoio artificial nos anos 90.
Também supostas “conquistas” de variantes, para satisfazerem o próprio ego do escalador vaidoso e até mesmo alteração de vias clássicas, sem autorização dos conquistadores desde grampos em locais errados e colagem de agarras sem necessidade, e agora ainda vem estrangeiro querer arrancar grampo aqui!
Pelo jeito muitos valorizam o erro de outros e se baseiam no que viram em outros países achando que o mesmo que aplicaram lá é o certo para nós.
Mas nossa escalada é única e fundamentada em princípios éticos de preservação da natureza e história e se cada um ajudar a manter, fica mais difícil de tentarem estragar o que já criamos.
Os incidentes sempre irão ocorrer, mas existem muitos escaladores que estarão de prontidão para defender a nossa escalada brasileira, mostrando o caminho para os que estão por vir a ingressar na escalada.

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.