Quem aprecia (e se dedica à pratica) corridas de rua, tem como admiração pela escola queniana de maratonistas.
Basta se debruçar sobre os números para constatar que o domínio dos quenianos é real.
O segredo para tal domínio é assunto de debates calorosos sobre os porquês serve como pano de fundo para o documentário “The Unknown Runner”.
A produção de DeKemp procura documentar o início da trajetória do corredor Geoffrey Kipsang que, segundo os especialistas apresentados no filme, possui uma carreira promissora.
O filme começa a documentar sua jornada de estréia em grandes circuitos de maratona desde os treinamentos e filosofia de trabalho em escola humilde localizada na região rural no Quênia até a estreia na maratona de Berlim .
Mostrando a com uma crueza ,que beira a crueldade, a quem não vive na linha de pobreza levanta a óbvia pergunta de como um campeão possa sair de um lugar tão simples.
Longe de treinamentos adaptados, e apostando em treinamentos efetivos como “correr o tempo todo” a “indústria” de criação de corredores de rua é mostrada aos curiosos.
Toda a estrutura de corrida no Quênia deixa a entender que é nada mais que escolas rurais, isolamento da população paupérrima (para evitar o assédio) e competições de simplicidade extrema fazem qualquer abastado agradecer aos deuses pela vida de abundância vivida.
Insistindo muito na documentação da simplicidade de recursos vivida pelos quenianos, o filme se alonga mais que o necessário nesta primeira parte.
Por esta lentidão deixa forte impressão que está sendo repetitivo até mesmo nas declarações de cada personagem.
A partir do momento em que a maratona de Berlim passa a ser retratada o filme ganha fôlego novo, especialmente pelo impacto das imagens que denota a gritante disparidade de ambientes.
Os contrastes entre o local de treinamento à ruas da capital alemã é tão acentuado, que não tivesse alongado muito na primeira parte seria mais impactante.
Por conta deste contraste é nítido a pressão psicológica que o atleta está submetido, podendo inclusive ser sentido pelo espectador.
Todo o desenrolar da maratona, incluindo as cenas de bastidores (com direito a uma pressão desumana a ABC), são dinâmicas e conseguindo transmitir toda tensão da corrida.
Com um final até surpreendente, “The Unknown Runner” termina por deixar o espectador emocionado.
Mesmo não tendo pretensões ambiciosas para filmes outdoor, e até mesmo para documentários de cunho mais sisudo, é boa opção para quem confunde vidas sem luxos com simples (muito comuns a quem possui nanismo cultural).
A produção serve ainda de incentivo a quem tem paixão por corridas de rua, e de montanha, e às vezes sente falta de algum estímulo em forma de filme.
“The Unknown Runner” merece destaque pela iniciativa de documentar as corridas de rua sob uma ótica interessante .
Nota da Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.