A produção inglesa “The Long Hope” era aguardada com ansiedade, muito por causa do feito do escocês Dave MacLeod de conseguir escalar em livre uma parede de 350 metros de altura à beira mar no Reino Unido. A via não foi escalada em livre antes porque era considerada “muito difícil para ser escalada em livre”.
O filme é uma das melhores produções inglesas desde “E11”, e pode ser considerado obrigatório em videoteca de qualquer escalador. Com roteiro impecável, e ângulos de filmagens bastante criativos, que contou com uma edição primorosa, pode ser considerado como o melhor filme de escalada de 2011.
Os produtores britânicos optaram por uma abordagem curiosa e ousada: misturar declamações de poesias do conquistador, com declarações dos próprios conquistadores de 1970 e a preparação de MacLeod.
O resultado desta receita foi um filme exuberante e que em muitos momentos nos passa a sensação de que foi um filme feito por escaladores da velha guarda para escaladores da velha guarda.
Não há em nenhum momento declarações sobre ética e outras discussões(e divagações) do gênero que sempre fazem parte de filmes que retratam a velha guarda. A via que da nome ao filme foi conquistada em 1970, em escalada artificial, em um local inóspito e de clima ruim.
O escalador Dave MacLeod elogiou a coragem dos conquistadores, que à época ficaram sete dias nesta parede para concluir a conquista.
Junto com toda a preparação do escalador, há uma explicação de como é a dificuldade deste local a ser escalada. Tudo com a maior didatica possível, o que torna o filme agradavel até mesmo ao público leigo.
Pontuando o filme há as declarações dos conquistadores, e de como foi, em nível de detalhes e emoções raramente divulgados em filmes outdoor.
O roteiro não linear neste aspecto serve como uma verdadeira aula a quem deseja saber mais sobre este estilo de roteiro. Um ponto a se ressalvar seria a da dificuldade que teria uma pessoa que não domina o idioma britânico, pois há muitos diálogos e declamações de textos em tom de poesia (no melhor estilo Shakespeare) teria dificuldade de acompanhar o filme.
Porém o desejo dos produtores foi exatamente dar um tom mais intelectual a uma produção de escalada, tendo como resultado um filme elegante, emocionante e principalmente entretenido. As cenas em que um dos conquistadores, hoje perto dos 70 anos e enfermo de Parkinson, vai visualizar o local e a via pela última vez são emocionantes.
As cenas da escalada de MacLeod são muito bem filmadas, e editadas, passando a noção exata de realizar uma via com proteções móveis. Durante sua ascensão encontra agarras sujas com muito musgo,aquele “tempinho” de garoa o qual a Inglaterra é conhecida, além da dificuldade técnica. Nestas cenas há também o aspecto inovador de procurar mostrar o poder de concentração do escalador, aliado à sua força.
A produção “The Long Hope” ainda guarda certos tons de cores e iluminações típicos dos filmes ingleses e que transmite aquela sensação de clima sombrio e tenebroso. Contudo, o filme já é desde já um clássico instantâneo de filme de escalada.
Com um preço levemente “salgado” de £15 (cerca de R$41,00), é compensado pela sua alta qualidade de produção. Tanto nos aspectos técnicos quanto nos aspectos de atividade de escalada.
O filme muito possivelmente irá fazer parte de vários festivais no ano de 2012 pelo mundo (incluindo Telluride nos EUA), e deve chegar a ser exibido ao público nos festivais a serem realizados no Brasil no segundo semestre.
Nota do Blog de Escalada:
Para saber mais sobre o filme vá em: http://hotaches.com/
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.