Escalada equitativa: Por que essa é uma temática que poucos gostam de conversar?

Precisamos conversar sobre a necessidade de uma escalada equitativa. Porque enquanto no Brasil as pessoas estão preocupadas em discutir temas típicos dos anos 1960, e dos anos da Guerra Fria, o resto do mundo já discute temas sociais mais condizentes com a terceira década do século XXI.

Mas vale a pena um aviso: se você, caro leitor (a), ainda está na ‘caça aos comunistas’ ou se informa somente pelos grupos de WhatsApp e Telegram, explicar o que é equidade vai ser uma tarefa árdua. Há certos conceitos de sociedade que não são aceitos por quem ainda possui pensamento limitado, horizonte curto e pouca vontade de abrir a cabeça. Equidade é um deles.

Foto: ARCTERYX

Para discutirmos e refletirmos sobre equidade é necessário deixar de procurar a beirada da terra plana e procurar entender a diferença entre um vermífugo e uma vacina. Da mesma maneira que não se ensina cálculo diferencial e integral a um (a) aluno (a) do primário, não se perde tempo em explicar assuntos de sociedade para quem é obscurantista e negacionista.

Mas o que é equidade? São adaptações de regras a um caso específico, a fim de deixá-las mais justas. Ser equitativo é algo superior ao ser justo, segundo análise filosófica do filósofo grego Aristóteles. Para o filósofo, a equidade e justiça representam uma ideia similar.

A equidade social pode ser entendida como justiça social, como tratamento isonômico e imparcial de diferentes grupos sociais. O princípio da equidade exige o reconhecimento das desigualdades existentes e conferir a determinados grupos uma proteção especial e particular por causa de sua própria vulnerabilidade.

Escalada equitativa

Foto: Merlas | istockphoto

Escalada equitativa seria, na prática, ampliar e criar oportunidades para escaladores sub-representados em nossa comunidade. Por exemplo: pessoas de baixa renda, pessoas com vontade de conhecer o esporte mas sem áreas para a sua prática nas proximidades, etc.

Em outras palavras, as pessoas precisam se livrar da noção de que um guia e um pouco de força de vontade são suficientes para fazer alguém escalar na rocha ou em uma academia. A escalada, seja indoor ou na rocha, é uma atividade cara e isso prejudica o crescimento do esporte. Fecharmos os olhos a essa realidade é perpetuar o nanismo que a escalada vive há anos no Brasil.

Com o esporte se apequenando, praticantes endinheirados sempre poderão espantar quem estiver começando ou quem tem interesse em participar. Porque, na cabeça dessas pessoas, a escalada e o montanhismo “é esporte de nicho e deve permanecer de nicho”. Assim, tudo que é caro, ficará caro, tudo que é pequeno, ficará pequeno.

Entenda que para essas pessoas, quanto menos pessoas praticarem, mais elas poderão dominar os pequenos feudos de quem entra no esporte e ainda não possui uma visão ampla do que é o esporte.

O praticante mais atento já deve ter refletido dos motivos de que na cidade que vive há poucos espaços para a prática de uma atividade esportiva específica. Seja escalada ou qualquer outro esporte. Esse desequilíbrio e desinteresse é a consequência da falta de equidade diante de diversas modalidades esportivas, principalmente a escalada.

Há um grande volume de investimentos em esportes olímpicos no Brasil, mas as próprias pessoas que deveriam representar os praticantes não tomam medidas para que esses mesmos investimentos sejam distribuídos de forma equitativa. De uma certa forma, o esporte se apequenou.

A escalada tornou-se modalidade olímpica, mas essa novidade sequer melhorou a procura ou o empreendedorismo no esporte em território nacional. O que se viu, infelizmente, foram atitudes egoístas, iniciativas simplistas, administrações tendenciosas e uma completa falta de interesse em divulgar o esporte a outros praticantes que não fossem os mesmos de sempre.

Não houve sequer uma discussão, ou mesmo o anúncio de uma iniciativa, em favor de um modelo de distribuição equitativa de investimentos que poderiam contribuir com o desenvolvimento da escalada como esporte como um todo. Não houve, portanto, nenhum objetivo para tornar o acesso ao esporte mais justo, equitativo e saudável.

Há, sim, uma mentalidade muito egoísta entre todos que praticam o esporte, especialmente aqueles que possuem longos anos de dedicação a ele. Todos se dizem a favor de uma maior equidade (mesmo que não saibam o que é), mas desde que eles mesmos não tenham de fazer nenhum sacrifício.

Pois bem, o futuro do montanhismo e escalada brasileiro depende justamente da equidade. Sem ela, seremos conhecidos e reconhecidos pela sociedade como ‘novos ricos’ que gostam de esportes extravagantes.

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