Muitos se perguntavam como seria o resultado de quando houvesse alguém disposto a realizar uma superprodução de filmes outdoor.
Sonhadas produções com envergadura grande e que poderia, e deveria, ser vendidas em Blue-Ray, filmadas com câmeras de “ultra-definição”, e em ângulos que somente um bom investimento poderia garantir.
“Where trails ends” é isso: uma produção de adjetivos superlativos.
Na produção foram usados helicópteros, gruas, drones e quadricópteros para que fossem criadas cenas que nem mesmo em filmes comerciais é visto.
Resuntando em que até mesmo as cenas de tombos são icônicas.
Há uma cena de um “capotamento” de um ciclista que qualquer pessoa se perguntará como ele conseguiu sobreviver.
Como via de regra todo filme outdoor de grande orçamento é realizado com o patrocínio de marcas que comercializam equipamentos postos à prova durante a exibição.
Bem diferente do “apoio amigo-da-onça” existente no Brasil para produções outdoor.
A viabilidade de realizar um filme , ou não, fica por conta da quantidade de dígitos no orçamento.
Esta matemática é complexa, e depende de muitos fatores.
Aconsequência disso é a decisão de se a produção vai ser paga ou não.
Apostando todas as fichas em divulgar esportes de natureza, a marca austríaca de bebidas energéticas “Red Bull” bancou a megaprodução “Where Trail Ends” com todos os requintes hollywoodianos possíveis .
Porém este tipo de atitude (bancar projetos caros) teve seu preço, e afetou o resultado final.
O filme documenta a procura obsessiva de vários ciclistas especializados em “downhill”, com bicicletas especiais adaptadas, descendo grandes montanhas pelo mundo afora.
Foram feitas tomadas em várias localidades do mundo, sendo praticamente uma em cada grande continente.
O filme inicia com a apresentação da motivação de tamanha obsessão com narração ao fundo “Where Trail Ends” já mostra a que veio: imagens de impacto a todo o tempo, e pontilhada por diálogos que tentam emplacar “frases de efeito”.
Fazendo um parênteses: para que algum filme tenha uma “frase de efeito” absorvida pelo expectador não existe uma fórmula exata, apenas a de que o desenrolar do filme é “brindado “com a frase no momento exato.
Por exemplo “I Will be back” e “Hasta la vista baby” de Swarznegger em “Exterminador do Futuro 2”, ou “Say Hello to my little fiend” de “Scarface”, até mesmo “Tira esta farda preta, porque você é moleque” de “Tropa de Elite”.
Todas estas frases marcaram o filme, e inspiraram o espectador.
Entretanto o motivo verdadeiro de ter caído na graça do público é que cada uma destas frases se apoiaram em histórias entretenidas.
O que não é o caso de “Where Trails End”.
O desenrolar do filme privilegia excessivamente cenas e mais cenas de descidas de bicicletas, algumas a esmo, e pouco conteúdo.
Com longas, porém exuberantes, cenas de downhill que são “costuradas” e poucos diálogos recheados de gírias dos participantes o filme começa a se arrastar a partir da metade.
A escolha de inserir e retirar personagens sem a devida apresentação deixa uma forte impressão de que era um vídeo-clipe, não um filme propriamente dito.
Mesmo tendo escorregões no roteiro pouco trabalhado, somado à excessiva repetições de cenas em ângulos diferentes, “Where Trail Ends” pode ser considerado um marco em filmes outdoor, além de também poder ostentar fama de “Cult”.
Muito disso pela embasbacante definição de imagens que poderiam facilmente ser usadas em qualquer feira de eletrônicos para divulgar a qualidade de qualquer televisor Full HD.
A produção deixa evidente também a dificuldade de produtores a realizar filmes sobre bicicletas e sustentar uma história consistente que sirva como pano de fundo.
Dificuldade comum nas produções que são obrigadas a serem “acessoradas” ou até mesmo planejadas por produtores de filmes de marketing.
Acostumados a retratar produtos, e não uma história , filmes outdoor como “Where Trail End” perdem o brilho que poderia tem e ainda sejam confundidos com videoclipes ou com os extintos anúncios de cigarro dos anos 80.
Portanto “Where trails ends” poderia ser um filme que serviria de marco na história de produções de “mountain bike”, mas esbarrou em conceitos de marketing e publicidade que confunde vídeos de divulgação em youtube com um filme propriamente dito a ser entregue em DVD e BlueRay.
Com uma qualidade de imagem impecável, e uma definição que serve de teste para qualquer televisor HD, o filme é entretenido, contendo imagens e ângulos de filmagem que são impressionantes.
Mas existem algum pecados cometidos pelos produtores que tiraram o brilho de um filme que é bom, mas poderia ter sido ótimo.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.