Existe duas orientações básicas para todo e qualquer filme: a necessidade de uma história e desapego à imagens e cenas que não agregam muito à história.
Somado à esta premissas há outros aspectos como música, diálogos e ação.
Importante ao se realizar filmes de escalada, ou qualquer filme outdoor é que não se pode se iludir com o fato de mostrar uma escalada de alto grau de dificuldade com ser garantia de um bom filme .
Ao que parece os produtores do britânico “Odyssey – A Climbing Road Movie” decidiram desafiar estas premissas.
O resultado foi um filme interessante de assistir, porém cansativo até mesmo para quem é entusiasta do esporte.
A história do filme se baseia em uma “road trip” por toda Inglaterra para percorrer alguns locais de escalada esportiva, só que em móvel.
Uma abordagem interessante, e não muito explorada pelas produções do gênero.
Com excelente tomadas de escaladas e uso cuidadoso e comedido de closes, o filme consegue mostrar bem toda a escalada.
O destaque da coleção de imagens ficou por conta de grandes quedas, em que maioria são bem próximas à fator 2.
Tudo isso em peças de nuts e friends estratégicamente colocadas.
Todas as cenas de escalada são muito bem filmadas, e não há tremedeira de câmera, o que mostra bom domínio técnico do equipamento pela produção.
Porém não há aprofundamento nem no ato de viajar, nem nos personagens e seus medos. Apesar de haver descrição breve dos locais visitados, não há sequer um destaque para o local e tipo de escalada do local.
Há inclusive excesso de imagens que seriam perfeitamente tirados em uma edição mais criteriosa.
A ausência de um roteiro que guiasse a linha geral do filme resultou na sensação de extrema lentidão de pouco mais de sua hora de exibição.
Com isso a partir de sua metade a sensação do filme se arrastar é grande.
As escaladas e cenas de quedas são sim impressionantes e agradam, mas o descuido com a história deixa o filme não tão atraente quando ele poderia ser.
Por exemplo no filme há escaladores de vários locais da Europa, cada um a seu estilo, e não há apresentação de cada um.
Durante quase toda a reprodução de “Odyssey” os escaladores praticamente não interagem entre si, seja conversando seja escalando. Há um mínimo de diálogo.
O filme em muitas partes segue a filosofia batida de ser um “rock porn”, por se preocupar em excesso em mostrar a escalada, e detalhes do caminhão de viagem.
Detalhes de uma viagem como lugares visitados, histórias curiosas e contratempos com o clima foram esquecidos, e isso tirou bastante o brilho de um filme que tem uma premissa interessante.
“Odyssey – A Climbing Road Movie” é um filme interessante de se ver, porém seu custo benefício para uma eventual compra é altamente discutível.
Uma pena.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.