Como fazer um filme outdoor de qualidade sem muito orçamento (e ganhar prêmios)

Organizar um festival de filmes outdoor é um grande trabalho. Além da organização, é necessário também ter uma boa curadoria. Frequentemente vejo que alguém arrisca projetar gratuitamente em parques municipais, achando que número absoluto de audiência é sinônimo de sucesso, mas fracassa imensamente no engajamento do público.

Parte deste engajamento passa pela curadoria em obras que garantam a empatia do público. No início deste século, quando houve uma explosão de produções de filmes outdoor de todos os tipos e orçamentos, a noção do que seria algo de qualidade ainda era um conceito intangível.

Com o tempo, principalmente a partir de meados desta década, já era mais fácil identificar padrões de qualidade. Desta maneira começaram a aparecerem algumas produções que tornaram-se clássicos como “First Ascent“, “Alone in the Wall“, “Meru“, “Valley Uprising“, “Maindentrip”, “Chasing Ice”, entre muitos outros.

Obras que atualmente, mesmo que lançadas recentemente, são obrigatórias a quem quer que deseje se enveredar pelo gênero. Isso porque, como poucos sabem, produtores e diretores que estão iniciando na indústria podem nadar de braçada fazendo filmes outdoor.

Fazendo a curadoria para o Freeman Film Festival há oito anos no México, além de ter uma aceitação histórica no Brasil com quase 2.000 pessoas nas salas de cinema (que é onde os filmes devem ser exibidos), é possível notar um padrão a se seguir e que as grandes produções apresentam.

Muito além do orçamento, existem alguns elementos que fogem do raio de visão de quem possui um horizonte curto, ou que esteja somente olhando para dentro da sua própria bolha social. Para uma boa produção sobre alguma aventura, não é importante ter equipamentos sofisticados, nem mesmo uma equipe ou muito dinheiro para fazer um grande filme outdoor.

Talvez a principal observação que faria, antes de listar que tipo de conselhos básicos são necessários, para qualquer nível de experiência, é que o produtor deve estar aberto a críticas (destrutivas e construtivas).

Ninguém acerta desde a primeira vez e, obviamente, errar faz parte do processo de aprendizagem e amadurecimento de qualquer produtor. Ninguém nasceu ou começou, sabendo tudo e acertando todas.

Dica 1: Você realmente quer fazer um filme?

Fazer um filme exige comprometimento. Seu e da equipe que esteja com você. Ser indisciplinado, capturando imagens no momento que tiver vontade e de qualquer jeito, de nada vai ajudar a realizar uma produção de qualidade. Não importa o preço de seu equipamento, sendo uma câmera DSLR ou um smartphone, se você não se comprometer a filmar constantemente.

Então, antes sair empolgado em fazer um filme, pergunte a você mesmo: está disposto a gastar potencialmente algumas horas de cada dia da sua viagem para filmar? Se a resposta é positiva, comece a pensar em como irá exibir a sua produção (roteirizando-a).

Pergunte-se também se você quer apenas exibir o que irá produzir aos seus amigos (que irão mentir sobre a qualidade, apenas para não perder a amizade) ou enviar o seu filme para festivais nacionais e internacionais (dando sua cara a tapa). Não faça um filme apenas para receber elogios.

Constantemente vejo produções que se levam a sério demais, mas com os personagens interpretando versões pasteurizadas de si mesmos. Se você quer fingir algo que não é, esta falsidade irá refletir na tela, impactando fortemente na sua qualidade.

Um bom filme outdoor é aquele que é feito com vontade, habilidade técnica e originalidade.

Dica 2: Pense na história (roteiro)

Foto: presse.servustv.com

Em torno de 90% dos filmes outdoor disponibilizados na internet, não possuem roteiro. Muitos são apenas uma sequencia de imagens bonitas (às vezes nem isso), que se assemelha a uma exibição de slides de PowerPoint.

Existem roteiros sem filmes, mas não existem filmes sem roteiros. Portanto, antes de sair criando nomes mirabolantes de produtoras, ou mesmo canais de YouTube, foque no que é realmente importante: pense na história que deseja contar.

Uma boa maneira de fazer isso é formular uma questão de uma linha que gira em torno de algo curto, nítido e forte. Evite no seu roteiro colocar elementos em excesso, como depoimentos e tomadas longas (que não acrescentam nada à história), piadas internas, excesso de humor ou drama, repetição de situações, etc.

Pense em como você quer ver o produto final. Lembre-se que muitos dos filmes outdoor que conquistaram o público não foram escritos rapidamente.

O roteiro é o que dará a forma do projeto, facilitando inclusive a possibilidade de angariar algum patrocínio, definindo os lugares de gravação e situações que possivelmente serão documentadas. Fazer um filme outdoor não é filmar a esmo e posteriormente editar de qualquer jeito, exibindo-o de maneira tosca.

Para ganhar aplausos e reconhecimento, não basta apenas escalar a via mais difícil do mundo em um vídeo, mas saber contar como foi toda esta escalada. Para direcionar este tipo de narrativa, é importante ter um roteiro.

Importante lembrar que não há nenhum problema em fazer algo diferente. Entretanto, lembre-se que há diferente bom e diferente ruim.

Dica 3: Conceitos técnicos

Foto: Steve McCurry | http://youtube.com

O cinema existe graças à invenção do cinematógrafo, inventado por Auguste Marie Louis Nicholas Lumière e Louis Jean Lumière, conhecidos como Irmãos Lumière, no fim do século XIX. O dia de 28 de dezembro de 1895, na cave do Grand Café, em Paris, a primeira exibição pública e paga da arte do cinema. Portanto, fazer filmes para o cinema já possui mais de 120 anos de expertise.

Não seja ingênuo a ponto de achar que irá fazer algo que ninguém nunca fez antes. Com mais de um século de história, muito provavelmente alguém já tentou, às vezes mais de uma vez, o que acha que irá ser “diferente de tudo”.

Portanto, procure saber um pouco de conceitos básicos de cinema, como composição fotográfica, foco, lentes, luz, som, tripé, etc. Não necessita se especializar em cada um dos aspectos técnicos, mas é importante pelo menos saber a existência de cada um deles para planejar a sua filmagem.

Não tente reinventar a roda, procure fazer sempre o simples (repito: não confunda simples como tosco) e descomplicado. Em filmes outdoor alguns elementos são impossíveis de serem reproduzidos como em um estúdio.

Portanto, a partir do roteiro, que estabeleceu os lugares de filmagens, é que analisa quais aspectos técnicos essenciais devem ser utilizados na filmagem. A partir disso, procure dominar o equipamento que irá utilizar. Não esqueça de que a melhor ferramenta é aquela que você domina.

Dica 4: Edição

Assistindo a muitos vídeos amadores ao longo dos anos, facilmente é perceptível que muitos produtores se perdem na edição. O principal defeito não são erros técnicos de edição, mas uma inabilidade em se desfazer de trechos que não colaboram com a história que está contando.

Há sempre um excesso de cenas que se repetem a todo momento. O resultado deste apego excessivo a imagens, são produções extensas e que se arrastam até um final às vezes óbvio (pois durante a produção houve ausência de catarse). Quando o filme começa a tornar-se arrastado, ele perde a atenção do púbico (além da empatia).

A pirotecnia, como uso de efeitos visuais (fade in, fade out, etc), legendas com letras extravagantes, zoom excessivo em rostos e detalhes, são vistos como algo cafona e de mal gosto por parte de vários júris especializados em festivais do mundo inteiro. Quando fizer qualquer filme outdoor, lembre-se que “menos é mais”.

Junto com isso, é importante prestar atenção a outros elementos de seu filme, como a música. Por mais que seja tentador, utilizar uma música de um cantor famoso de sua preferência, pode condenar a sua produção a não ser exibida em nenhum festival, muito menos na internet, por causa de direitos autorais.

Uma boa prática, realizada por quase todos os grandes nomes da produção de filmes outdoor, é realizar pequenos filmes de, no máximo, 5 minutos. Quando estiver seguro, partir para 10, depois para 15, depois para 20, etc.

Procure mostrar o resultado final a alguém que lhe faça críticas e aponte melhoramentos, evite a mostrar para os “parças”, pois os elogios infundados podem atrapalhar a sua evolução como produtor.

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