[EXCLUSIVO] Crítica dos filmes do box “First Ascent – the series”

A produtora americana de filmes de escalada Sender Films liberou para download o conteúdo do “Box” de DVD´s “First Ascent – the series”. Incluindo neste download os extras do DVD.

Antes de fazer a análise do filme algumas observações se fazem importantes: Assim como o colega Carlos Eduardo Levy, que também baixou no dia de ontem ( e compartilhou a linha de pensamento do twitter), comungo da idéia de não sair “distribuindo” para a “galera” para fazer gracinha e ficar “pagando” de autruísta.

Este tipo de prática é um desserviço à produção de filmes do esporte.

Pela qualidade dos filmes, e dos arquivos baixados vale a pena fazer um pequeno sacrifício de pagar os filmes. Hoje o Brasil é um país de moeda realtivamente forte, e o dólar está bem desvalorizado em relação à ele. Portanto o preço do download está muito acessível.

O preço do download é relativamente barato, e mesmo com uma conexão de velocidade relativamente baixa como 1mbs baixa-se (com a ajuda de um download manager qualquer) em aproximadamente 4 horas.

O post não é para discutir a ética de distribuir um filme que uma outra pessoa pagou por ele, mas por um destes motivos é muito difícil trazer um evento como Reel Rock Tour para o Brasil. Os próprios patrocinadores do Brasil não tem coragem de patrocinar um evento, mesmo sendo barato, por acreditar que o escalador brasileiro não merece tal investimento.

Voltando à análise do filme que é o que interessa.

Os seis filmes foram produzidos para uma série de tv americana, para o canal National Geografic Channel, e ao assistir o  filme fica evidente o formato de episódio americano como:

resumo do filme + vinheta com cenas de todos os filmes + restante do filme.

Isto não chega a ser um defeito, na verdade é uma característica. A vinheta é bem construída e editada e serve, entre outras  coisas, para mostrar a marca dos patrocinadores.

No download estão disponíveis três arquivos, contendo aproximadamente 1.5 gb de tamanho e em formato mp4 (formato nativo do ipod/ipad para visualização de vídeos). Com qualquer player que aceita este formato pode-se ver o filme sem maiores problemas.

Para os que não possuem um “media-center” e quiser visualizar em sua TV em um DVD normalmente, pode-se tentar utilizar um programa transformador de formato (que geralmente os melhores e mais eficientes são pagos) e criar o seu DVD. Prática nao recomendada, afinal fica implícito que haverá a velha prática de distribuição para os “amigos” que poderiam facilmente também colaborar para a compra do filme.

O formato de todo o filme está em widescreen, ou seja, está naquele formato retangular das telas de plasma/LCD/LED que são vendidas como as televisões padrões do mercado. Ao se reproduzir em uma televisão em formato mais tradicional (antigo), pode-se perder uma parte do filme recortada.

O box possui 6 filmes que foram exibidos para o canal NGC e são, na ordem:

  1. Alone in the wall
  2. Patagonia Promise
  3. Impossible Climb
  4. Point of No Return
  5. Brother ´s Wild
  6. Fly or Die

Todos os filmes são de emocionar de uma maneira diferente. Sendo que cada um possui aproximadamente cerca de 25 minutos.

Os extras possuem mais 6 vídeos, um pouco mais longos, e que contem entre outras coisas making off muito bem feito e didatico (para quem quiser saber mais sobre a produção de filmes é excelente), e também um trailer de todas as produções da Sender Films. Há também um episódio “perdido” que vale a pena assistir. Sobre os extras falarei em um outro post.

1 – Alone in the Wall

O filme relata a tragetória de um dos ícones da escalada solo mundial Alex Honnold.

Muito bem editado, com declarações de várias pessoas envolvidas com escalada nos Estados Unidos, como os editores da revista Climbing, Urban Climbing e autores de livros guias.

Porém, como de prática do Peter Mortimer (principal nome da Sender Films) há tambem declarações e entrevistas de pessoas íntimas ao escalador em questão.

Focando sempre o lado humano, afinal o cara somente escala, e não necessariamente é melhor socialmente (em termos de hierarquia ou status quo) que ninguém.

É muito difícil não se emocionar com a entrevista do escalador com a sua mãe, afinal Alex é escalador de vias em Solo, o que significa que pode morrer a qualquer escalada. Há também uma excelente entrevista com os conquistadores da via por volta de 1950 e o que achavam do feito do escalador.

No filme também se retrata como a vida de um escalador dedicado 100% à escalada é bem simples, pois deixam bem claro que ele não possui namorada, não possui casa (na verdade ele dorme em um furgão, que utiliza para ir para os lugares onde sola) e seu dinheiro vem diretamente dos patrocinadores (e não de familiares).

Não é raro, nas imagens mostradas em pleno HD o escalador a uns 300 metros de altura, ficar com as mãs frias e sentir o coração disparar. Todos os ângulos captados pela filmagem focam a concentração extrema do escalador, e a tremenda calma ao entrar em algum crux.

A única coisa a se considerar no filme é que, por se tratar de uma escalada solo, deveria, antes de qualquer coisa, avisar que uma escalada solo somente os escaladores mais experientes, mais preparados (psicologicamente e fisicamente) devem fazer tentativas de escalada em solo. E, claro, no mínimo, possuir três bolas.

2 – Patagonia Promise

Talvez o filme que mais interesse à comunidade brasileira.

O filme retrata um pouco da história da Roberta Nunes, que morreu a alguns anos, e seu namorado. No filme retratam de forma bem resumida algumas escaladas na cidade do Rio de Janeiro, e cenas interessantes de “slack line” com a imagem estonteante de sempre da cidade.

Nesta parte do filme fica evidente como a morte de Roberta ainda “atormenta” o seu companheiro. Com cenas de muitas lágrimas, a irmã de Roberta fala sobre ela, e há closes que deixam muitas pessoas que a conheceram emocionados. Uma cena que, mostra como uma pessoa era bem querida e comprometida com a escalada e as pessoas que a cercam, provando que a escaladora tinha acima de tudo lealdade com o que os cercavam.

Depois de várias cenas de escalada no Rio de Janeiro, rumam para a Patagônia, região esta que, em declarações e imagens da própria Roberta, era “100% devota”. A toda a filmagem agora é na região de El Chaltén.

Os protagonistas decidem abrir uma via nova na região, e após terminada a via, saltar de base-jump para espalhar as cinzas da escaladora brasileira.

As cenas de escalada com grandes rochas do tamanho de geladeiras caindo, e algumas vacas de fazer muita gente gelar as mãos, agrada aos que gostam de filmes de escalada muito bem editados e feitos.

Não é difícil se emocionar com a cena de ao abrir o paraquedas de base-jump ver a “fumaça” de cinzas de Roberta Nunes se espalhar pela região (Roberta Nunes foi cremada a pedido dela). Imagem emblemática e simbólica que represente em muito o espírito de cada escalador.

A única observação a respeito deste filme fica a respeito de não aparecer absulutamente nada da estadia de Cedar Wright na Serra Do Cipó , onde ficou durante quase 3 meses. Há especulação de que o material estará disponível em algum outro DVD. Estes vídeos podem ser visualizados facilmente no perfil do Vimeo de Cedar Wright.

3 – Impossible Climb

O filme retrata a “epopéia” do escalador Chris Sharma na via “Jumbo Love” no Mountain Clark, nos Estados Unidos. Esta via esportiva é considerada a mais difícil do mundo.

Para quem já assistiu o filme “Progression” talvez se decepcione um pouco. Praticamente é uma reciclagem de todas as cenas do filme, acrescidas de algumas inéditas.

É um excelente chamariz para a comunidade fã do escalador, mas que ainda não traz nenhum material 100%  inédito de Chris Sharma.

Porém com as imagens em HD (que não existiam disponíves em “Progression”) pode-se ver o quão difícil é a via que ele se dispôs a escalar e elevar a um degrau mais alto o “grau mais difícil do mundo”.

Fica evidente também nesta releitura de imagens de Chris que ele já é um escalador menos de estrada, e está se aquietando em termos de viagens e etc. Não se chega a falar isso, mas fica evidente que seu relacionamento com a escaladora Daila Ojeda trouxe uma certa maturidade não só na escalada como no estilo de vida que levava.

Especula-se que, sua procura por vias mais fortes vá gerar um filme em 2011, retratando agora os lugares do país que ele adotou, a Espanha. Uma maneira de homenagear aquele que é conhecido como o melhor país para se escalar no mundo.

4 – Point of No Return

O filme é talvez o mais “pesado” de todos os set de filmes do box. Retrata a escalada de alto risco de dois escaladores Jonny Copp e Micah Das no Tibet.

No filme fica claro que este tipo de escalada envolve vários riscos, e que a qualquer minuto pode-se morrer. A maioria dos filmes de escalada não mostram escaladas que dão errado, com raras exceções filmes como E9 e Hard Grit mostram cenas bem fortes, mas sem vítimas fatais.

Não é o caso deste filme. A escalada da dupla no Tibet não terminou bem, e foram pegos por uma avalanche que os matou. Por serem dois escaladores muito alegres e brincalhões o tempo inteiro, nos invade um sentimento de que para morrer, basta chegar a nossa hora.

Tirando a cena da tragédia, todo o filme é bem emocionante, e funciona bem como uma homenagem póstuma a dois escaladores extremamente fortes como eram e  de pessoas que tinham o comprometimento com a escalada, e que faziam tudo pela paixão ao esporte (e não ao desejo de sentir apenas sentir “medinho”)

5 – Brother ´s Wild

De longe é o filme mais emocionante do box.

Retrata o elétrico escalador Timmy O’Neill,  escalador profissional, e pretenso comediante, e seu irmão Sean O’Neill em uma escalada em uma via de Yosemite.

Parece simples o roteiro do filme, não fosse um detalhe: O irmão de Tommy é paralítico.

No próprio filme aparece os motivos que fizeram Sean quebrar a coluna em uma brincadeira aparentemente inocente, e muito comum a quem desafia o perigo a todo momento.

A partir do momento que aborda o lado mais humano de Sean e da família de Tommy  fica bem emocionante ver a força do laço fraternal dele, que sempre é visto fazendo piadinhas (algumas ate mesmo sem graça), e desta vez visivelmente emocionado de compartilhar o esporte que ama com sua família (quem não se emociona, não é mesmo?).

Toda a escalada de Sean é feita com uma adaptação de um Jumar em sua cadeirinha (ou Baudrier para quem preferir) e um tipo de guidon de bicicleta com outro. Ao contrário do que possa parecer, Sean não foi mostrato sendo “içado” como um haul bag como muitos podem sugerir ou imaginar, ele simplismente usou os braços e uma roupa especial contra raspagem na rocha. São imagens emocionantes e inspiradoras.

Por possuir uma mensagem tão bonita, de que é possivel alguém com dificuldades físicas escalar (e não ficar discutindo ou decotando grau) que o torna quase que obrigatório uma assistida bem detalhada.

Há muito tempo não era visto, principalmente de maneira tão simples e eficiente, imagens de superação, amizade, companheirismo e, claro, lealdado e fraternidade entre escaladores. Um filme que ficou claro que o mais importante é a diversão, não importando o grau, ou que o “segundo” não guiou nennhuma cordada.

6 – Fly or Die

O último filme também é uma “reciclagem”(ou releitura, como queiram) de filmes da produtora Sender Films, desta vez sobre o escalador Dean Potter.

Não que seja ruim, muito pelo contrário , mas é um pouco frustrante para quem acompanha o trabalho da Sender Films. Afinal todo material produzido pela produtora possui qualidade altíssima, e não havia necessidade de usar algum já realizado.

Quem participou do Festival de Filmes de Montanha de 2009, viu partes do filme de Dean Potter e suas travessias malucas em Slack Line, ou seus “Solo Base”, esporte que ele mesmo criou e talvez seja o único praticante.

Fica evidente que o escalador está em um nível tão alto de escalada que chega a ser impossível comparar sua técnica, força e frieza a qualquer outro escalador do passado, presente ou futuro.

Fica evidente no filme que Dean Potter já e um mito, e que ainda está por nascer quem vá o igualar em feitos e inovações.

Todas as cenas de Dean Potter são de encher os olhos, e somente os efeitos especiais de hollywood poderiam realizar imagens de tão alto risco, e ao mesmo tempo de beleza plástica. As cenas de ação de Dean Potter são retratadas de uma maneira que fica-se prendendo a respiração todo o tempo.

A única observação deste filme fica por conta mesmo de não ser 100% inédito, e possuir muito material já utilizado pela Sender Films. Não chega a ser um defeito, e sim uma característica do filme. Especialmente para quem não pode participar do Festival de Filmes de Montanha ( 80 % dos escaladores do Brasil diga-se de passagem), irá apreciar , e muito , o filme.

7 – Extras

Os extras são talvez a maior atração para quem já acompanhou os filmes seja no Reel Rock Tour ou mesmo no canal a cabo National Geografic. Lá está todo o material inédito MESMO. Contém vários making off´s didaticos, e muitos outros pequenos filmes de igual qualidade.

Abordarei este material mais detalhadamente em outro post, para não agigantar este.

O detalhe fica por conta de ter o melhor making off da história da Sender Films, bem mais detalhado, com entrevistas com os produtores, câmeras e etc…

Imperdível para quem deseja trabalhar, oua até mesmo para os entusiastas de filmes de aventura.

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