Governo do Nepal projeta encarecimento de permissões e teleféricos no Everest

Após uma tumultuada temporada de montanhismo no Nepal, com muitos congestionamentos no topo das montanhas, além de um repúdio total da imprensa mundial, o governo do Nepal anunciou as medidas que estão sendo estudadas para serem implementadas no país. Paralelo à prevenção de mortes, o governo nepalês também está estudando como desenvolver ainda mais o turismo nas montanhas. Os pedidos para a limitação do acesso ao Everest com base na experiência, como apresentadores de TV e aspirantes a palestrantes motivacionais, ainda não sensibilizaram as autoridades.

Como pode ser lido em grande parte dos artigos de cobertura de ascensões no Himalaia na Revista Blog de Escalada há 14 anos, assim como no mundo montanhismo, as denúncias da superlotação no Monte Everest existem há muito tempo. O centro das reclamações e críticas passam pelo modelo de negócio de expedições comerciais enormes, com os clientes sem experiência de montanhismo, uso indiscriminado de oxigênio engarrafado, cordas fixas do acampamento base até o cume e acompanhando sherpas na proporção de “1 para 1” (às vezes até mais).

A solução para existir qualquer possibilidade do Monte Everest ser explorado a partir da perspectiva das éticas do montanhismo, passaria por reduzir o número de permissões de tentativa de ascensões. Este excesso de permissões permitem bizarrices como saltar de parapente do cume do Everest e recordes vazios e estapafúrdios (como demonstrou um vídeo recente da HBO), mas como é uma maneira de grande arrecadação do governo do Nepal (e da população) ainda está longe de acontecer.

Preço das permissões podem subir

Porém a pressão mundial, especialmente depois da foto de Nirmal Purja, chegou a níveis nunca antes vistos. Até mesmo as marcas, que indiscriminadamente patrocinam ações de marketing de gosto duvidoso, subiram o tom das críticas em relação ao montanhismo no Nepal. Por este motivo é que está cada vez mais evidente que o governo nepalês e os empresários locais do turismo não estão falando a mesma língua. O motivo é que a necessidade econômica de um país pobre, com um dos IDH mais baixos do mundo, tem o Everest a sua galinha dos ovos de ouro, da qual não vai desistir facilmente.

Prova disso é que todas as notícias vindas do país asiático vão no sentido de reforçar o turismo do Everest e continuar a aumentar o número de visitantes e receitas. O Ministro do Turismo e Aviação Civil do Nepal declarou em entrevista à agência de notícias Associated Press que as 11 mortes no Monte Everest (9 deles pelo lado nepalês) tinham nada a ver com massificação na montanha, mesmo com evidência gritante da foto de Nirmal Purja.

Foto: Nirmal Purja

Na mesma entrevista o ministro previu que os aspirantes a montanhistas que desejavam subir o teto do mundo cresceriam nos seguintes anos e, para espanto da comunidade de montanha mundial, possui uma “receita infalível” para evitar as longas esperas. A “solução” seria aumentar o número de cordas fixas nos pontos de gargalo para, nas palavras do ministro, “administrar melhor os fluxos dos montanhistas”.

Dentre as medidas que estão sendo estudadas pelo governo nepalês, está a de modificar os preços das licenças para subir o Monte Everest. Como publicado esta semana pelo jornalista Alan Arnette, considerado o principal e mais relevante cronista do Everest, pode haver um aumento significativo no preço dos atuais US$ 11.000 para algo em torno de US$ 15.000. Mas ao fazer as contas do que poderia ser arrecadado no país, os governo nepalês achou interessante esta possibilidade e começa a trabalhar com a hipótese de que o aumento seja para US$ 25.000 por pessoa.

Teleférico no Monte Everest

O que parecia ser um boato, ou piada de mau gosto, o governo nepalês trabalha fortemente com a possibilidade de instalar teleféricos no vale do Khumbu. O Nepal, inclusive, já começou a autorizar instalações desse tipo em vários locais do terreno. A alegação para este tipo de instalação já é conhecida de governos na América Latina: comparações superficiais com outras estruturas existentes. O teleférico das Colinas Chandragiri (Vale de Kathmandu) é considerado um sucesso para o governo nepalês.

Os teleféricos não serão uma novidade somente no Monte Everest, mas também em outras montanhas. O teleférico de Annapurna (8.091 m) será uma realidade em breve, visto que suas obras já estão bem avançadas. A mesma linha de raciocínio está sendo utilizada pelo governo para justificar uma conexão de Lukla (2.800 m) e Namche Bazar (3.500 m) também por teleférico.

A facilitação do acesso ao Monte Everest não é uma exclusividade do governo do Nepal. O Tibet, governado pela China, possui uma estrada asfaltada que leva as pessoas até o campo base do lado tibetano. Segundo especialistas, a tendência é que o Monte Everest torne-se cada vez mais um parque temático e deixe de ser um lugar para a prática do montanhismo.

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