Empresas outdoor e cervejarias artesanais se unem para garantir manutenção de trilhas nos EUA

Quando o assunto de praticantes de trekking e escalada é a manutenção dos lugares que frequentam, o tema logo esbarra no engajamento, interesse e, claro, apoio monetário. Por conta disso, muitas entidades representativas de praticantes de montanhismo brasileiras, ainda derrapam neste quesito. Muitas destas ainda sequer sabem a importância da existência de bom convívio com mídia outdoor, empresas e com as marcas.

Dos EUA vêm uma iniciativa interessante a respeito de manutenções de trilhas. Empresas que exploram o segmento outdoor estão se alinhando com as cervejarias artesanais para criar estilos de suas bebidas, para arrecadar fundos para a conservação de trilhas. Estas cervejas somente serão disponibilizadas localmente, para valorizar a visita a estes mesmos lugares.

Na costa leste norte-americana, mais precisamente na região localizada no estado de Connecticut, a empresa cervejeira Hartford’s Hanging Hills se uniu com a REI (rede de lojas de produtos outdoor) para produzir a Old New England Trail IPA.

Os valores de venda arrecadados com a cerveja irão para Connecticut Forest & Parks Association, com o objetivo de manter as trilhas mantidas por esta ONG, entre elas a que é homenageada pela cervejaria: New England Trail. A Old New England Trail IPA é vendida somente no estado de Connecticut.

Do outro lado dos EUA, no estão de Colorado, Sanitas Brewing Co se uniu à La Sportiva para lançar a MTN TRL ALE que, segundo a cervejaria, é ideal para ser consumida após uma trilha ou corrida. Todo o dinheiro arrecadado com as vendas será doado para Boulder Open Space Conservancy, para manutenção e abertura de trilhas na região da cidade de Boulder.

A cervejaria That Brewery, do estado norte-americano do Arizona, mesmo não se alinhado com nenhuma grande companhia, produz a Arizona Trail Ale. Da venda desta cerveja, a trilha Arizona Trail, que possui mais de 1.200 km, é feita uma manutenção em sinalização e trilhas. Já a Levity Brewing, com seu produto Hoodlebug Brown, somente uma parte das vendas dele é doado para manutenção de trilhas, mas mesmo assim a empresa faz propaganda orgulhosa a respeito disso.

Uma outra empresa, a Devils Backbone Brewing Company, já preferiu uma abordagem menos discreta. A empresa firmou uma parceria com a Appalachian Trail Conservancy de que cada de sua Trail Angel Weiss, a empresa doará US$ 1,00. A mensagem desta doação está escrita na embalagem. Além disso, a empresa procura associar sua imagem a cada hiker que estiver fazendo o Appalachian Trail (também conhecido como caminho dos Apalaches).

Nos EUA, cada empresa que faz doações a ONG´s entra na seção 501(c)(3) do código de imposto de renda do Internal Revenue Services (IRS). O IRS é o equivalente à Receita Federal no Brasil. Pelos cálculos da autarquia americana, a empresa, ou mesmo uma pessoa física, podem lucrar com a doação. Obviamente que, tanto para empresa como para pessoas, há limite para doações. O limite é baseado na renda bruta. O lucro, portanto, não é somente o único interesse destas empresas. Há ainda a questão do marketing. Pois apoiando iniciativas, lugares e práticas esportivas as marcas, tanto de cerveja como de equipamentos outdoor, recebem reconhecimento da marca pelo seu público-alvo.

O posicionamento da marca, um dos conceitos básicos de administração de empresas, passa por esta procura por identificação do público-alvo para que, com atuações como a doação para manutenção de trilhas e parques, conseguem indiretamente colocar a marca na mente dos consumidores

E no Brasil?

No Brasil a iniciativa de empresas privadas em associar-se a entidades de conservação, ainda engatinha. Existem muito poucas empresas que patrocinam iniciativas conservacionistas de trilhas e até mesmo locais de escalada. Atualmente as empresas apenas fazem apoio, doando equipamentos para sorteio em eventos festivos como, por exemplo, abertura de temporadas.

Em reportagem realizada pela Revista Blog de Escalada, a qual foi inédita à época, listou os montanhistas que estão investindo em cervejas artesanais. Entretanto, nenhuma empresa outdoor procurou investir em uma iniciativa semelhante à implementada nos EUA. Para qualquer evento festivo que envolva montanhismo, com raríssimas exceções, as marcas outdoor, principalmente as brasileiras, se esquivam de implementar iniciativas de “conservação patrocinada”.

Um dos motivos alegados por vários proprietários é a baixa identificação de montanhistas com as entidades representativas. A cada ano, a quantidade de montanhistas que colaboram com estas entidades diminui, assim como as motivações destes mesmos praticantes em realizar algo pelo esporte. Procuradas, grande parte das cervejarias artesanais se mostraram abertas a esta iniciativa. Porém, para ser implementada, esbarra na ausência de interesse que as marcas outdoor possuem no Brasil em iniciativas que permitam uma melhor fidelização com os clientes.

As empresas devem, portanto, identificar suas estruturas competitivas da maneira mais vantajosa possível. Ao que parece, no Brasil é vantajoso ignorar o cliente e focar apenas em vendas e estratégias de marketing ultrapassadas que, infelizmente, ignoram que o resultado de um posicionamento de marca bem sucedido é a criação de uma proposição de valor focada no cliente, isto é, um motivo convincente pelo o qual o público-alvo deve comprar determinado produto ou serviço

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