Talvez a modalidade mais odiada entre os escaladores mais tradicionais é a escalada de velocidade. Que escalador nunca viu um outro torcer o nariz ao ter que usar um novo sistema ou ter resistência a novos equipamentos?
Um exemplo cristalino que ilustra bem a resistência de comunidades inteiras em aceitar mudanças é o nó lais de guia para encordar-se na cadeirinha. Como explicado em um artigo analítico na Revista Blog de Escalada, o nó lais de guia possui debilidades e há tempos é desencorajado para ser usado por escaladores, mas ainda há quem insista e brigue com o mundo para continuar o utilizando.
Estamos em constante transformação, e isso não é possível evitar. E a escalada de velocidade (speed) é uma dessas novidades que fazem muitos escaladores, incluindo os organizadores de campeonatos, sentirem constrangimento por algo que, na realidade, nem eles gostam.
Assim, a escalada de velocidade (speed) é algo que teremos de conviver por muitos anos e aprender a aceitar. Pois pela primeira vez, a escalada esportiva estará presente nas Olimpíadas de Tóquio com o ‘formato olímpico’ que inclui três disciplinas diferentes, incluindo a escalada de velocidade (speed climbing) que promete um empolgante “se piscar vai perder”.
O que é escalada de velocidade?
escalada de velocidade
O atletismo é a forma organizada mais antiga de competição. As primeiras competições organizadas da história foram os Jogos Olímpicos em 776 a.C., iniciados pela civilização grega (800 a.C a 146 a.C). Desde essa época haviam competições de corridas.
Chamada de stadium pelo gregos, Coroebus foi o vencedor da prova de atletismo cujo percurso tinha 200 metros. Portanto, ser o mais rápido em algo já chamava a atenção do público. Tanto que a prova dos 100 metros rasos é uma das mais populares modalidades do atletismo, durando por volta de 10 segundos no masculino e 11 segundos no feminino.
Foi aí que a Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC) vislumbrou a oportunidade de criar uma prova que pudesse ostentar o título de “prova mais rápida dos jogos olímpicos”. Uma proposta atraente para os marqueteiros de plantão e para jornalistas.
Resumindo: a escalada de velocidade é uma corrida entre dois escaladores para ver quem chega primeiro. Os competidores começam na parte inferior e no tocar uma campainha devem chegar o mais rápido possível no topo da parede de 15 metros (mas com 5° de inclinação negativa) para parar o cronômetro.
A via oficial de escalada de velocidade é em torno de 6º grau brasileiro. Não é muito difícil, pois as agarras são muito boas. Mas a dificuldade está mais na precisão, pois a maioria dos competidores tenta pular o maior número possível de agarras para economizar tempo usando dinâmicos e botes.
Nas primeiras rodadas de qualificação, os (as) escaladores (as) não competem diretamente entre si. Eles apenas tentam obter os tempos mais rápidos. Desse montante de escaladores, apenas os dezesseis melhores passam para as oitavas de final e competem frente a frente de acordo com a ordem dos melhores e piores tempos.
O vencedor segue para as quartas de final, os vencedores para a semifinal e, em seguida, para a final. O mais importante é não cair ou arrancar mal, pois isso automaticamente perde a rodada. Sim, não há, como no atletismo ou natação, a possibilidade de nova chance após ‘queimar’ uma saída.
As partidas falsas contam como uma perda e resultam em “nenhum tempo válido” (no valid time), sem direito a uma segunda tentativa. Na qualificação, o (a) escalador (a) será colocado (a) por último e nas rodadas posteriores irá para a chave inferior para tentar novamente uma colocação.
O vencedor nas finais é declarado o campeão e o perdedor o vice-campeão. Os perdedores da semifinal competem para determinar o terceiro e quarto lugares.
Regras da escalada de velocidade
Aqueles que irão competir na escalada de velocidade começam com um pé em uma placa de pressão e o outro na parede e as duas mãos nas agarras de largada. Existe um sistema de cronometragem automática que começa no terceiro bipe da máquina e termina quando o botão é pressionado no final da via.
O juiz inicia o cronômetro anunciando ready (o idioma oficial da competição é o inglês) e aperta o botão do sistema de cronometragem, fixado em ambos os lados da parede. Um segundo depois, o primeiro bipe começa, seguido por outros dois, também separados por um segundo.
Na verdade, há um décimo de segundo (0,1 segundo) após o terceiro bipe, e os competidores somente podem sair da placa de pressão após isso (3,1 segundo).
No terceiro bipe, os escaladores podem começar a corrida. O display do cronômetro mostra os tempos até centésimos de segundo, mas os tempos são registrados até milésimos de segundo.
Assim, são usados até quatro casas decimais (0,001 segundos). Se houver empate, o segundo melhor tempo de ambos os escaladores na competição decide o vencedor.
A queda conta como uma perda da corrida. Tocar na lateral ou no topo da parede, ou tocar o solo novamente após o início, contam como uma queda. O escalador pode se segurar e continuar contanto que use a última sustentação que acabou de tocar, mas qualquer coisa abaixo disso é uma queda.
Como é feita a segurança
Na escalada, a segurança dos praticantes deve vir em primeiro lugar, não importando se é uma escalada na rocha ou em uma competição. Por ser uma prova rápida, a escalada de velocidade necessita de um equipamento que acompanhe essa velocidade.
No início das competições de velocidade, alguns países tentaram improvisar, colocando duas pessoas para fazer a segurança. Nos EUA essa estratégia resultou em um acidente que, felizmente, fez com que outros países não arriscassem a fazer o mesmo.
Portanto, o autobelay é o sistema que os escaladores usam para subir e descer da parede com segurança. Uma espécie de molinete na parte superior contém um rolo de fita tubular e um mosquetão na parte inferior.
Os escaladores prendem-se ao mosquetão, que se fecha automaticamente aos pontos de amarração da cadeirinha. A competição somente é iniciada após checagem dos fiscais se tudo está seguro.
O autobelay age no mesmo sistema de um cinto de segurança de automóvel em um sentido em que a fita está sempre sendo puxada para dentro do aparelho. Essa ‘puxada’ não é suficiente para erguer o escalador, mas é o suficiente para puxar a fita para que não haja folga. A folga em uma eventual queda significaria um grande impacto para o escalador.
Quando o escalador cai, ou salta, há um sistema de freio que usa uma bobina de metal de alta resistência para interromper a queda e, em seguida, abaixar lentamente. O aparelho funciona para pessoas pesadas e leves, então os concorrentes não precisam se preocupar com grandes saltos.
Já houve casos de falhas, mas geralmente foram em modelos muito antigos ou recentemente relacionados a problemas de manutenção. A maioria dos acidentes em autobelays são causados por escaladores que não se prendem ao mosquetão.
O autobelays oficial é o Perfect Descent Speed Drive. A fita com folga é de 20 metros e velocidade de recolhimento de 4,6 metros por segundo. O suficiente para que a fita esteja sempre esticada.
Qual é o recorde mundial de escalada de velocidade?
O atual recorde mundial de escalada de velocidade masculina é de 5,208 segundos . Foi definido por Veddriq Leonardo, da Indonésia, na Copa do Mundo em Salt Lake City, EUA, em 28 de maio de 2021.
Essa foi a segunda vez que o recorde foi quebrado no mesmo dia, pois o tempo foi definido na final, onde Veddriq enfrentou Kiromal Katibin, que já havia quebrado o recorde mundial com 5,258 segundos na rodada de qualificação.
Antes disso, o recorde era de 5,48 segundos e durou quatro anos, sendo estabelecido por Reza Alipour Shenazandifard em 30 de abril de 2017.
O atual recorde mundial de escalada de velocidade feminina é de 6,964 segundos e foi estabelecido por Iuliia Kaplina (competirá nas Olimpíadas), da Rússia, no Campeonato Continental Europeu do IFSC, em Moscou, em 21 de novembro de 2020. Anteriormente pertencia a Aries Susanti Rahayu com 6.995 segundos.
Iuliia Kaplina detém vários recordes mundiais de escalada de velocidade e até bateu seu próprio recorde algumas vezes. É muito provável que ganhe na escalada velocidade nas Olimpíadas.
Quais são os favoritos para Tóquio em escalada de velocidade?
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Para as mulheres, é mais provável que Iuliia Kaplina, da Rússia, YiLing Song da China ou Aleksandra Miroslaw da Polônia ocupem o primeiro lugar. Todos as três são escaladoras de velocidade muito consistentes.
Iuliia é a atual detentora do recorde mundial e YiLing Song já o teve um algumas vezes.
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Isso é importante quando falsos inícios e quedas tiram muitos escaladores do jogo, especialmente que, nas olimpíadas não necessariamente precisa ser a mais rápida no geral, apenas a mais rápido do que a oponente.
Para os homens, o atleta Rishat Khaibullin, do Cazaquistão, Ludovico Fossali da Itália e Bassa Mawem da França estão entre os favoritos para obter o primeiro lugar. Todos têm recordes pessoais de menos de 6 segundos e são muito consistentes em seus treinamentos e resultados.
Formato olímpico de escalada esportiva
A escalada de velocidade está nas Olimpíadas pela primeira vez e está presente como parte do evento de escalada esportiva, que será estreia em Tóquio em 2021 e também está garantido para Paris 2024. Para o evento há três disciplinas: escalada de velocidade (Speed Climbing), boulder (Bouldering) e escalada guiada (Lead Climbing).
Equivocadamente, por meio de uma tradução malfeita do espanhol, a escalada guiada é chamada de ‘dificuldade’. O termo deixa a entender que dificuldade é somente essa modalidade e as outras não, por isso quem costuma cobrir o esporte com mais seriedade não utiliza esse termo.
Os competidores devem pontuar em todas as três disciplinas para ter uma chance de medalha olímpica. A classificação por evento é multiplicada e a pontuação geral mais baixa vence. Na seguinte lógica:
- Resultado Final multiplicação dos valores:
- Colocação em Speed Climbing
- Colocação em Bouldering
- Colocação em Lead Climbing
Por exemplo, um (a) escalador (a) com 1º na prova de vias guiadas, 2º em boulder e 4º em escalda de velocidade ficaria com 8 pontos (1 x 2 x 4 = 8). O objetivo no formato olímpico é obter o menor valor desse produto entre as colocações obtidas entre as disciplinas.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.