O verão começa em dezembro aqui no hemisfério sul e com ele há a expectativa de muito calor. Portanto, uma hidratação correta já foi abordada aqui em um artigo completo sobre os tipos de líquidos a serem consumidos em um trekking (isotônico, hipotônico e hipertônico). Entretanto, não tem como fugir do óbvio: hidratar-se na montanha é necessitar consumir água.
Há nas atividades de montanha situações que há a necessidade de abastecer os reservatórios de água. O consumo de água não tratada pode dar origem a sintomas e algumas doenças, como por exemplo diarreia, febre tifoide, hepatite A, leptospirose, cólera e infecções intestinais. A água também pode parecer estar limpa e ainda assim, estar contaminada, porque as bactérias se desenvolvem facilmente neste ambiente. Mesmo áreas remotas, como o continente antártico, apresentam concentrações de contaminantes como o mercúrio e o chumbo.
Por exigir tanta cautela com o tipo de água consumida que todo praticante de esportes de montanha deve saber purificar, potabilizar e coletar água em seu trekking ou hiking. No mercado existem vários filtros que previnem uma emergência de ter de purificar uma água coletada. Entretanto, para quem não possui os filtros, é imprescindível saber como se prevenir.
Como coletar água
O primeiro passo para coletar água é localizar a melhor e mais confiável fonte de água. Infelizmente na montanha, em alguns casos é a única. Por causa desta escassez devemos sempre desconfiar da água que encontramos e analisar o ambiente antes de consumi-la e armazena-la.
Portanto, antes de beber água de qualquer fonte, considere:
- Devemos sempre procurar água corrente em riachos ou córregos. Nunca beber água parada de poças ou lagos, pois bactérias ou parasitas podem se acumular nestes lugares, por mais cristalina a água pode parecer. Cristalinidade da água nunca deve servir de parâmetro único para o consumo.
- Nas fontes de água corrente é preferível procurar as nascentes, ou seja, aquela que vem diretamente da rocha.
Entretanto, devemos analisar a existência de poluição nas proximidades, como fezes de animais que pastam na área, currais ou chiqueiros nas proximidades, etc. Nesses casos, mesmo que a água seja corrente, ela pode estar infectada.
- Para lugares mais áridos ou desérticos, observe onde a vegetação se acumula e procure em volta dela. Também observe os animais, pois eles podem nos levar para onde bebem água.
Na montanha, devemos nos preocupar especificamente com três grupos patogênicos dos quais temos que nos proteger:
- Bactérias: Eles sobrevivem em águas frias. Causam doenças que causam salmonela, cólera, disenteria, tifo, e levam de 2 a 5 dias para se manifestarem. Seus sintomas incluem dor abdominal, dor de cabeça, febre, náusea e vômito. Em apenas 0,1% dos casos, é fatal.
- Vírus: São bastante comuns nas águas tropicais e transmitem doenças como poliomielite ou hepatite. Pode resistir ao congelamento e são muito contagiosos. Se manifestam de 24 a 48 horas depois do consumo. Seus sintomas incluem vômitos e diarreia.
- Parasitas: Também sobrevivem em águas frias. Os mais comuns são protozoários, amebas e vermes. As doenças que causam são giardíase e criptosporidiose. Levam de 2 a 20 dias para se manifestarem e seus sintomas incluem náusea, diarreia, dor de estômago, febre, dor de cabeça, flatulência etc.
Purificar e potabilizar água
Primeiramente é importante salientar algo: água potável não significa necessariamente água pura. Agua potável não contém substâncias nocivas à saúde, mas existem vários minerais que estão diluídos, como o flúor, cloro, cálcio e o magnésio, dentre outros elementos. A água pura não possui nenhuma substância em sua composição, além de hidrogênio e oxigênio.
Ao contrário da água potável, a pura não é encontrada na natureza. Para obter a água pura é preciso que ela passe por um processo de destilação. Vale ressaltar que a água pura não é própria para o consumo por não possuir os sais minerais que são necessários aos seres vivos.
O que nós comumente chamamos de purificação da água em ambiente de montanha nada mais é que a potabilização. Ou seja, o que realizamos na montanha nada mais é que um processo de tratamento da água, a fim de remover os contaminantes que eventualmente contenha, tornando-a potável.
Os processos mais usados na montanha para purificação ou potabilização da água são:
- Decantação: Não elimina nenhum tipo de parasita, bactéria ou vírus. Este processo é usado apenas para a água em boas condições de consumo, mas que está túrbida por vestígios de terra. Consiste em deixar a água coletada descansar para que todas as partículas se depositem no fundo. Posteriormente, a água será transferida a outro recipiente, evitando mover as partículas do fundo.
- Filtros portáteis: Eficaz na eliminação de parasitas e bactérias, mas não de vírus. Consiste em bombear a água através de uma malha com poros muito pequenos (pelo menos 1 mícron, mas recomendado 0,4 mícron ou menos) para remover impurezas.
- Fervura: Este é o mais antigo dos métodos de purificação da água. Consiste simplesmente em aquecer a água até ferver (100°C) por 2 a 5 minutos. É o mais eficaz na eliminação de parasitas, bactérias e vírus (exceto o da hepatite).
- Comprimidos de purificação de água: São vendidos em lojas especializadas em esportes montanhas e executam processos químicos diferentes para liberar oxigênio, que é o que produz o efeito desinfetante de bactérias e vírus. Importante: o único que desinfeta os parasitas é o dióxido de cloro.
- Sodis: Desinfecção solar da água ou sodis é um método de desinfecção de água de baixo custo que utiliza os raios ultravioleta do sol e garrafas plásticas do tipo PET transparentes. Utiliza a luz do sol para matar os agentes patogênicos presentes na água. Depois de filtrada, a água deve ser colocada nas garrafas PET transparentes (não esquecer de mante-las fechadas) e expostas à luz solar durante seis horas. A radiação proveniente do sol vai purificar a água matando bactérias e vírus. Se o tempo estiver nublado, é necessário que as garrafas fiquem expostas durante 2 dias.
- Iodo: Consiste em aplicar 2 a 10 gotas de iodo para cada litro de água coletado e deixar agir por pelo menos 30 minutos. Este método elimina bactérias e vírus. A desvantagem é que ele também deixa um gosto ruim na água.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.