Uma das etapas mais importantes de qualquer ser humano é o momento que deixa de viver na casa dos pais, e assim ingressa oficialmente na vida adulta quando decide morar sozinho.
Este caminho é percorrido por todos, alguns mais tarde, outros mais cedo pelos mais diversos motivos.
Entretanto a volta para casa , ou até mesmo à cidade onde vivemos parte de nossas vidas, é uma experiência única e solitária.
Partindo deste tipo de ideia foi realizado o filme “Zembrocal – Back to Reunion Island”, que é uma espécie de uma biografia da escaladora Caroline Ciavaldini, e que também serve para apresentar as Ilhas Reunião para escaladores de todo o mundo.
Esta ilha conhecida como “Reunion Island” é uma colônia francesa localizada a oeste de Madagascar e próximo às Ilhas Maurícia.
Com relevo e vegetação únicos, possui belezas e atrações turísticas pouco conhecidas e divulgadas por quem procura turismo de aventura.
Tendo a oportunidade de voltar à sua terra natal Caroline Ciavaldini teve a ideia de conquistar uma via em um dos lugares mais selvagens da Ilha e para isso convidou escaladores pesos pesados como Sam Elias, James Pearson, Jacopo Larcher e Yuji Hirayama para ajuda-la.
Após uma pequena introdução de sua vida e carreira de escaladora de competições, a produção foca quase que exclusivamente na expedição e nas dificuldades de aberturas de uma via.
Este tipo de abordagem já foi inclusive explorada em produções nacionais como “Harmatan” e “Dias de Tempestade“, que procuram documentar como é a tensão e dificuldades de uma conquista em lugares inóspitos vistos de dentro da expedição.
Próximo ao seu final, “Zembrocal – Back to Reunion Island” volta a ser mais intimista, com assuntos mais intimistas de Ciavaldini como a morte de sua mãe e sua vida após a tragédia pessoal.
Ao seu final fica evidente que o filme possui duas partes distintas, e que poderiam ser facilmente exibidas separadamente uma da outra, pois não são conectadas de forma alguma uma à outra.
Os momentos de cenas de escalada foram muito bem filmados, passando a tensão e dificuldade na medida certa, e evidenciando que por mais glamouroso que possa parecer uma conquista de vias nem sempre é algo corriqueiro e fácil de realizar.
Porém utilizar o próprio trailer do filme para funcionar como introdução soa como uma improvisação que não deu certo, pois toda a carreira da escaladora não foi explorada ficando muito superficial a história neste ponto.
Enquanto muitos filmes de escalada sofrem com o mal do “apego às imagens”, “Zembrocal – Back to Reunion Island” possui o contrário: ausência de material coletado.
Durante certo momento da escalada nem se fala, ou mostra, Caroline Ciavaldini como se ela estivesse em casa e aparecesse somente quando for conveniente.
A produção é mais um bom exemplo de que alguns produtores ainda sofrem para diferenciar o que é uma produção para internet e webséries e filmes para serem comprados para apoiar a produção de filmes outdoor.
Tivesse o filme tivesse o mesmo cuidado que teve em detalhes como mostrar o logotipo do patrocinador em também aprofundar na protagonista seria um filme diferenciado mas é apenas um vídeo entretenido que se esquece assim que passam os dias.
Nota da Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.