A história da cafeteira italiana Moka Express

A cafeteira italiana Moka Express talvez seja o equipamento de camping e trekking mais clássico (ao menos no Brasil), mesmo que não tenha sido projetado para tal. A adoção da cafeteira é diretamente proporcional ao desenvolvimento de fogareiros de camping, os quais permitiram que um café expresso de qualidade fosse preparado.

A cafeteira está no Livro de Recordes como a cafeteira mais popular do mundo e foi por décadas tão comum a ponto de se tornar onipresente não apenas na Itália, mas em Cuba, Argentina, Austrália, EUA e Brasil.

Na escola todos os habitantes do Brasil já estudaram sobre o ciclo do açúcar e, posteriormente, o do café na economia brasileira. Portanto, é desnecessário descrever o início do plantio de café no Brasil e em como ele foi relevante por quase 300 anos para a economia brasileira.

Para se ter uma ideia, introduzido por volta de 1720, o plantio de café em território brasileiro é hoje responsável por um terço da produção mundial de cafés especiais no mercado global. O maior produtor e exportador mundial de café verde é o Brasil.

Luigi Bezzera

Moka Express

Até o final do século XIX, os italianos bebiam café quase da mesma maneira que os turcos. Assim os inventores do país começaram a criar seus próprios gadgets para preparar café. Mas o maior gadget, de longe, foi a ideia de aplicar pressão ao café para criar uma bebida forte e rápida.

Angelo Moriondo patenteou um dispositivo para fazer bebidas de café “instantâneo” movido a vapor em 1884 (patente nº 33/256). Ao contrário das verdadeiras máquinas de café expresso, a máquina de Moriondo fermentava a granel (uma grande quantidade) e não em porções individuais. Apesar de revolucionária, Angelo nunca se preocupou em fabricá-la.

Luigi Bezzera, dezessete anos depois, em 1901, patenteou um processo para a preparação do café e o expos na Feira Internacional de Milão em 1906. O equipamento apresentava vários melhoramentos da máquina de Moriondo.

Na Itália, o aumento do consumo de café expresso foi associado à urbanização, com os cafés expresso proporcionando um local de socialização. Além disso, os preços do café eram controlados pelas autoridades locais, desde que o café fosse consumido em pé, incentivando a cultura de “barraca no bar”.

No Reino Unido, o expresso cresceu em popularidade entre os jovens na década de 1950, que se sentiam mais bem-vindos nas cafeterias do que nos pubs. Durante esse período, vários inventores começaram a fazer experiências com o vapor na tentativa de emular os sabores fortes e intensos do expresso encontrado nas cafeterias públicas.

Bialetti e a Moka Express

Moka Express

O italiano Alfonso Bialetti nasceu em Montebuglio, em 1888, um povoado do município de Casale Corte Cerro, na área de Cusio. Bialetti emigrou para a França ainda muito jovem, onde se tornou um trabalhador em fundição de metais. Na sua experiência de trabalho na França, Bialetti aprendeu a técnica de fundição de alumínio

Em 1918 Alfonso regressou à sua terra natal onde no ano seguinte, na cidade vizinha Crusinallo, abriu uma fundição, e a batizou de Alfonso Bialetti & C. – Fonderia em Conchiglia. A fábrica era especializada em produtos semiacabados de alumínio.

Bialetti trabalhou na indústria de alumínio por 10 anos, com a fabricação de utensílios domésticos de metal. Quando o ditador fascista Benito Mussolini colocou um embargo ao aço inoxidável, a Itália, então rica em bauxita (base do minério de alumínio), começou a empregá-lo em outros objetos. Assim, o alumínio tornou-se o metal nacional da Itália.

Na preparação de café em casa existia a napoletana (também conhecida como napolitana flip), um pequeno dispositivo de metal com três seções: uma câmara de água, um pequeno disco de café no meio e uma câmara na outra extremidade para o café coado. A água era aquecida com a câmara de água no fundo e, em seguida, todo o dispositivo era virado de cabeça para baixo, permitindo que a água quente goteje pelos grãos e se acumule como café na câmara previamente vazia.

Moka Express

Observe que na napoletana, nenhuma pressão está envolvida. Perto de sua fundição em Piemonte, Alfonso Bialetti observou mulheres lavando suas roupas em uma caldeira lacrada com um pequeno cano central. O cano puxava a água com sabão do fundo da caldeira e espalhava sobre a roupa molhada.

O método, de fato, usava um ancestral da máquina de lavar, ou seja, uma enorme panela onde a água com sabão saía por um cano central no meio. Esse método de lavagem fez com que Alfonso imaginasse a máquina de café mais inovadora que tornaria o preparo do café muito simples.

Bialetti decidiu tentar adaptar esta ideia para fazer uma máquina de café que permitisse aos italianos ter um verdadeiro expresso em casa. Assim trabalhou em algumas combinações de La Pavoni (aparelho de café expresso em moda na época) e a napoletana por alguns anos até que em 1933 patenteou sua Bialetti Moka Express.

Como o fascismo durou de 1922 até 1943 na Itália, o país era fechado a qualquer intercâmbio de ideias e produtos. Explorando o sentimento de nacionalismo exaltado e os ressentimentos entre os italianos no pós-guerra, os produtos industriais italianos eram somente para o consumo dos italianos.

Assim, no início, o Moka Express era vendido nos mercados locais da Itália, em especial no Piemonte. A produção começou em 1933 e até o pós-guerra manteve-se artesanal, com 70 mil peças produzidas a cada ano.

Moka Express

O nome Moka deriva da cidade de Moca, cidade portuária do Iêmen, situada às margens do mar Vermelho e uma das primeiras e mais importantes áreas de produção de café. É da cidade de Moca que sai o café da mais alta qualidade conhecido como “café arábica”.

A Moka Express funciona assim: a câmara inferior é preenchida com água até a válvula de segurança. Em seguida, o filtro de metal em forma de funil coloca-se café finamente moído é inserido acima da câmara inferior. A parte superior é firmemente aparafusada na base e a cafeteira é colocada no fogo.

Quando aquecido, a pressão do vapor empurra a água através do filtro para a câmara de coleta. Quando a câmara inferior está quase vazia, ouve-se o ruído característico de um gorgolejo, acompanhado de um delicioso cheiro, que anuncia que o café está pronto.

Com a alta do preço tanto do café quanto do alumínio durante a guerra, a produção foi interrompida e retomada com o final da Segunda Guerra Mundial.

Renato Bialetti

Moka Express

Renato, filho de Alfonso, assumiu os negócios da família em 1946 e decidiu parar de fabricar potes e frigideiras e passou a fabricar apenas as cafeteiras Bialetti Moka Express. Apostando em branding e publicidade, Renato fez com que as vendas da Moka Express crescesse a ponto de, em 1955, 65% das cafeteiras comercializadas no mundo todo fossem Bialetti.

Anos mais tarde, em 1958, o icônico logotipo da empresa, “O homenzinho de bigode” (L’omino con I baffi), com o dedo indicador erguido como se pedisse um expresso em um bar italiano, foi desenhado. O mascote é uma caricatura do filho de Afonso, Renato Bialetti, e feita pelo ilustrador Paolo “Paul” Campani.

Moka Express

Segundo um levantamento feito na Itália em 1990, o Bialetti Moka Express podia ser encontrado em mais de 90% dos lares italianos em todo o mundo. Grandes populações italianas como Nova York, Chicago, Filadélfia, Buenos Aires, São Paulo, Austrália e Cuba.

O Bialetti Moka Express se tornou tão icônico que está até em exibição na coleção permanente do museu MoMA em Nova York. Seu design permaneceu praticamente o mesmo desde que foi inventado e é o único permitido pela patente Moka.

Renato Bialetti faleceu em 2016 e foi sepultado em uma grande réplica da Bialetti Moka Express com o logotipo “homenzinho de bigode”.

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